Pastel em campanha eleitoral no Brasil

Fernando Haddad (à direita), então candidato ao governo de São Paulo, em uma pastelaria, ao lado de outros políticos

Durante campanhas eleitorais no Brasil, o ato de comer pastel de feira é usado com frequência pelos políticos como forma de se aproximar da população. A ação é alvo de repercussão e memes da Internet, que apelidam o período de campanha eleitoral no Brasil de "temporada do pastel".

Motivação[editar | editar código-fonte]

O pastel de feira e também o caldo de cana são frequentemente usados como estratégia dos políticos para tentar se aproximar dos eleitores e passar a imagem de "candidato do povo". Segundo Lúcio Remuzat, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB): "É a necessidade de ir à rua se expor, se apresentar para o eleitor, estar presente, próximo. É uma pena que esse processo se intensifica muito durante a campanha, mas deveria ser um processo continuado do representante eleito".[1] O advogado e professor universitário, mestre em ciência política, Francis Ricken, comentou que nem sempre a ideia do político é parecer "do povão", mas sim mostrar-se naquele contexto urbano: "Estar na feira local e comer um pastel é tentar trazer a imagem de um cidadão comum, que frequenta os espaços urbanos e pode ser visto misturado às pessoas, sem a ideia de uma separação ou de um político apartado da sociedade. Essa imagem gruda muito mais nas camadas médias urbanas, do que o cidadão da periferia". Para Ricken, embora existam políticos que usam o ato como forma de oportunismo, nem sempre é o caso: "[um] político local se aproximar de sua base e pedir votos, não é oportunismo. É estratégia".[2]

Repercussão[editar | editar código-fonte]

Jair Bolsonaro (à esquerda), então presidente do Brasil, em uma pastelaria de Toritama, Pernambuco, em 2021

Visto por alguns como clichê,[3] o ato obtém repercussão na Internet e é alvo de memes.[2][4] O período eleitoral é satirizado nas redes sociais, onde recebe o nome de "temporada do pastel".[1][5] A cientista Camila Santos comentou que a aproximação com o povo pode virar motivo de piada na Internet quando é protagonizada por políticos de partidos que não têm histórico de ligação com movimentos sociais e, portanto, a ideia de "candidato do povo" pode soar falsa: "Os candidatos que vêm de partidos de esquerda têm movimentos sociais como base, é uma questão com a qual eles têm maior aproximação. Já os que tendem a ser de partidos de direita costumam estar ligados a classes mais altas, e fazem essas ações no momento das eleições para angariar votos".[1]

Incidentes notórios[editar | editar código-fonte]

Em 2016, João Doria, candidato à prefeitura de São Paulo, foi fotografado fazendo uma expressão interpretada como uma careta ou como uma expressão de nojo enquanto comia um pastel e tomava café.[1][5] Após a repercussão, que envolveu memes da Internet, sua assessoria pediu para que ele não fosse fotografado enquanto comia.[6][7] Depois de se eleger, Doria disse que "aprendeu a comer pastel".[8] Dois anos depois, ele publicou em seu Twitter uma imagem onde aparece sorridente comendo um pastel, dizendo que aquele era o "melhor momento do dia" e que "amava pastel".[9]

Em agosto de 2022, a pastelaria Gran Pastel Gourmet começou a vender pastéis com os nomes dos quatro principais candidatos à presidênciaJair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes e Simone Tebet — com cada um tendo alguma característica relacionada ao respectivo político.[3] No final do mês, no entanto, a plataforma de delivery iFood vetou a venda de parte dos pastéis, bloqueando três deles, exceto o de Bolsonaro.[10]

Rosângela Moro, candidata a deputada federal por São Paulo em 2022, publicou nas redes sociais em setembro um vídeo comendo um pastel. No entanto, ao fundo, uma mulher aparecia revirando o lixo da barraca de pastel. Após a repercussão, ela pediu desculpas e apagou o vídeo.[11][12] Francis Ricken classificou a atitude de Rosângela como oportunista: "O meme surge quando o descolamento entre a figura do político e o que ele faz é muito grande. Um político que não frequentou aquele ambiente e tenta se aproximar soa estranho [...] Ela tem muito mais proximidade com Curitiba do que São Paulo, mas tenta em São Paulo para conseguir um contingente eleitoral maior e se tornar figura de destaque do partido. Isso é oportunismo".[2]

Referências

  1. a b c d «Temporada do pastel: como políticos tentam se aproximar do povo?». Metrópoles. 28 de agosto de 2022. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  2. a b c «Por que os políticos amam posar comendo pastel de feira nas eleições?». Tribuna do Paraná. 23 de setembro de 2022. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  3. a b «Pastel ganha nomes de candidatos, memes e versões fakes». CBN. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  4. «Aberta a temporada de políticos comendo pastel, para a alegria da internet». UOL Universa. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  5. a b «'Temporada do pastel': candidatos viraram meme ao comer durante campanha». UOL Notícias. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  6. «Assessoria de Doria pede que ele não seja fotografado na campanha enquanto come». Painel (Folha de S.Paulo). Consultado em 9 de outubro de 2022 
  7. «Após piadas, assessoria de Doria pede que ele não seja fotografado enquanto come». Revista Fórum. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  8. «'Adoro coxinha e aprendi a comer pastel', diz João Doria Júnior». Veja. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  9. Mazzoco, Heitor (3 de maio de 2018). «Diferente de 2016, Doria sorri ao comer pastel: 'melhor momento do dia'». O Tempo. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  10. «Ifood proíbe venda pelo app de pastéis de Lula, Ciro e Tebet e mantém o de Bolsonaro». Extra Online. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  11. «Rosangela Moro pede desculpa após comer pastel enquanto mulher revira lixo». UOL Notícias. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  12. «Rosangela Moro se desculpa por comer pastel enquanto mulher revira lixo». Veja. Consultado em 9 de outubro de 2022