Translatio imperii

Translatio imperii ("transferência de poder", em latim) é um conceito criado na Europa medieval para descrever a história como um fenômeno linear: uma sucessão de transferências de poder de um governante supremo (imperador) para o seguinte.

Jacques Le Goff[1] descreve o conceito de translatio imperii como típico da Idade Média por vários motivos: a ideia da linearidade do tempo e da história era comum à época; o conceito de translatio imperii ignorava os eventos simultâneos em outras partes do mundo (desimportantes para os europeus medievais); a ideia de translatio imperii não separava a história divina da história do poder temporal, consideradas como uma única "realidade". Ademais, os cronistas medievais costumavam descrever em detalhes a causalidade da sucessão de um reino para outro, o que é considerado uma abordagem tipicamente medieval.

Cada autor medieval descrevia a translatio imperii como uma sucessão que terminava com o poder supremo nas mãos do monarca que governava a região de origem do cronista. Por exemplo:

Os autores medievais e renascentistas costumavam "demonstrar" esta transferência de poder por meio da vinculação de uma Casa reinante a algum herói grego ou romano antigo, a exemplo do que fez Virgílio ao usar Eneias (um herói troiano) como fundador mítico da cidade de Roma, na Eneida. Na mesma tradição, no século XII, os autores anglo-normandos Geoffrey de Monmouth (na sua Historia Regum Britanniae) e Wace (no seu Brut) vincularam a fundação da Grã-Bretanha à chegada de Brutus de Troia, filho de Enéias. Na mesma forma, o autor renascentista francês Jean Lemaire de Belges (na sua Les Illustrations de Gaule et Singularités de Troie) vinculou a fundação da Gália céltica à chegada do troiano "Francus", filho de Heitor; e da Germânia céltica à chegada de "Bavo", primo de Príamo; com isso, estabeleceu uma genealogia ilustre para Pepino e Carlos Magno (e a lenda de "Francus" também formaria a base do poema épico La Franciade, de Ronsard).

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Le Goff, Jacques. La civilisation de l'Occident médieval. Paris. 1964; Versão em inglês (1988): Medieval Civilization, ISBN 0-631-17566-0 – V. Parte II, Capítulo VI.
  2. De Troyes, Chrétien. Cligès. Circa 1176.