Toponímia do Brasil

A toponímia do Brasil é o conjunto de topônimos mais utilizados no Brasil, e demonstra claramente o modo de ocupação da terra a partir do descobrimento e do início da colonização. Nomes em tupi-guarani usados pelos ameríndios sobreviveram aos nomes de personagens sacros (hierotopônimos), aos nomes clássicos e antropônimos utilizados pelos europeus que lá aportaram e que completando um antropofágico ideal, voltaram a usar o idioma nativo para nomear a terra. Ocupado de leste para oeste, do litoral para o sertão, acompanhando primeiro os rios e depois as estradas de ferro ou rodagem, o processo é ainda historicamente recente e pode ser estudado em detalhes.

Origens por língua[editar | editar código-fonte]

Topônimos tupi-guaranis[editar | editar código-fonte]

Existem dois tipos: os utilizados pelos próprios indígenas (Guarujá, Aracaju) e que sobreviveram, e os modernos, numa utilização tardia do idioma tupi-guarani. Desde que José de Alencar colocou sua índia idealizada a suspirar a volta do navio com seu amado (Praia de Iracema, Fortaleza, Ceará), muitos eruditos utilizaram termos ameríndios para nomear localidades, como em Umuarama, literalmente lugar bom para unir amigos, criação de Silveira Bueno.

Como entender os topônimos de origem tupi
Jacareí (SP): exemplo de composição em tupi com relação genitiva (substantivo + substantivo). Neste caso, ocorre a inversão dos termos. Deve-se também acrescentar a preposição "de" (de, do, da, dos ou das) entre eles.
Ipiranga (PR): exemplo de composição atributiva (substantivo + adjetivo). Neste caso não há inversão. Acrescenta-se o sufixo -a, pois, em tupi, todos os substantivos devem terminar em vogal.

Origens por tema[editar | editar código-fonte]

Literatura clássica[editar | editar código-fonte]

Já o próprio nome do país, Brasil, que vem de cor de brasa, vermelho, e por extensão é usado como metáfora do pôr do sol com o sentido de do lado oeste, existia na literatura medieval do ciclo do Graal (cf. Parzival) e em algumas lendas celtas da Irlanda. Amazonas, Brasília, Belo Horizonte são referências às línguas e a cultura clássica europeias aproveitadas como topônimos.

Hierotopônimos[editar | editar código-fonte]

O uso de nomes sagrados como topônimos tem intima relação com a filiação à Igreja Católica de ampla parcela da população. Desde os primeiros navegadores que chegaram ao país, é comum o hábito de consultar o santo do dia para nomear a localidade ou acidente geográfico, atribuído à fé (cabo de São Roque, cabo de Santo Agostinho, rio São Francisco, baía de Todos-os-Santos, São Vicente).

Menos conhecido é o fato de a autorização de erigir uma capela, dada pela autoridade eclesiástica mais próxima, servir, no tempo colonial, como prova de ocupação de uma gleba de terra, tornando-se indiretamente, um título de propriedade precário, mas à falta de outro, eficiente em testemunhar a posse (Freguesia do Ó).

Modernamente têm aparecido hierotopônimos referentes a outras religiões, notadamente as afro-brasileiras (Gantois, Candeal).

Estatísticas[editar | editar código-fonte]

Segundo um estudo desenvolvido por Théry e Mello,[1] os topônimos mais utilizados para nomear municípios brasileiros são os hierotopônimos. As palavras "são", "santo", e "santa" são as mais presentes nos nomes, explicado pela tradição católica de se dar a nova localidade o nome do santo festejado no dia de sua fundação.

Em segundo lugar encontramos termos referentes ao meio natural, fato perfeitamente compreensível considerando-se que no momento de se nomear um povoamento fundado numa região até então inabitada, é normal referir-se aos únicos elementos visíveis naquele momento (campos, lagoa, rio, monte, colina, mata etc).

Outro grupo de nomes bastante comuns no Brasil refere-se aos pontos cardeais, que aparecem frequentemente ao final dos nomes dos municípios. O "sul" é o mais comum, seguido por "oeste" e "norte". O termo "leste" é pouco frequente, o que pode ser explicado pela colonização do país ter se dado rumo ao oeste.

A categoria de municípios precedidos do termo "novo" ou "nova" é a quarta mais comum, indicando a criação de um outro município homônima a outra já existente.

Termos mais frequentes[editar | editar código-fonte]

Topônimos Número de municípios Categoria Total da categoria
579 religioso 800
rio 94 elemento ambiental 590
187 qualificativos 495
José 69 nomes de pessoas 413
sul 109 pontos cardeais 204
presidente 27 títulos/cargos 85

Homônimos perfeitos[editar | editar código-fonte]

Para o nome de certas e nobres localidades constarem na tabela abaixo, eles têm que ser idênticos, não podendo haver acréscimo de locuções adverbiais de lugar, por exemplo: de Goiás, do Norte, do Sul, nesta pesquisa foi apenas considerado os identicamente perfeitos. Sendo assim, apenas as localidades de Alto Paraíso, no Paraná, e Alto Paraíso, em Rondônia, constam na tabela por terem seus nomes idênticos, sem a presença de Alto Paraíso de Goiás, que leva locução adverbial de lugar ("de Goiás") em seu nome.

Localidade Unidade federativa
Água Boa Mato Grosso Minas Gerais -
Água Branca Alagoas Paraíba Piauí
Alagoinha Paraíba Pernambuco -
Alto Alegre Rio Grande do Sul Roraima São Paulo
Alto Paraíso Paraná Rondônia -
Alvorada Rio Grande do Sul Tocantins -
Amparo Paraíba São Paulo -
Anchieta Espírito Santo Santa Catarina -
Antônio Carlos Minas Gerais Santa Catarina -
Aparecida Paraíba São Paulo -
Araguanã Maranhão Tocantins -
Araruna Paraíba Paraná -
Areia Branca Rio Grande do Norte Sergipe -
Atalaia Alagoas Paraná -
Aurora Ceará Santa Catarina -

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do Território. [S.l.]: EDUSP. ISBN 8531408695 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]