Sanatruces I da Armênia

 Nota: Para outros significados, veja Sanatruces.
Sanatruces I
Sanatruces I da Armênia
Sanatruces e Aude após três dias numa nevasca como idealizado por G. Fusaro
Rei do Reino da Armênia
Reinado ?–109
Antecessor(a) Tiridates I
Sucessor(a) Axídares
Rei do Reino de Osroena
Reinado 91–109
Predecessor(a) Abgar VI
Sucessor(a) Abgar VII
 
Nascimento século I
Morte 109
Sepultado em Mausoléu Arsácida
Descendência
Dinastia arsácida
Pai Meerdates
Religião Zoroastrismo

Sanatruces I[1] (em armênio: Սանատրուկ; romaniz.: Sanatruk; em grego: Σανατρύκης; romaniz.: Sanatrúkes; em latim: Sanatruces) foi um rei da Armênia da dinastia arsácida. Foi antecedido no governo por Tiridates I e foi sucedido por Axídares.

Nome[editar | editar código-fonte]

Sanatruces (Σανατρύκης, Sanatrúkes), também registrado como Sinatruces (Σινατρούκης, Sinatroúkēs), Sanatrúcio (Σανατρούκιος, Sanatroúkios) e Sanatruco (Sanatrucus) são as formas grega e latina do nome parta Sanatruque (Sanatrūk), que seria incorporado no armênio (Սանատրուկ) e aramaico (𐡎𐡍𐡕𐡓𐡅𐡊, sntrwk e snṭrwq (aramaico de Hatra)).[2][3] Em última análise, pode derivar do iraniano antigo *sāna-taru-ka- ("conquistador de inimigos")[4]

Vida[editar | editar código-fonte]

Família e origens[editar | editar código-fonte]

De acordo com João Malalas, citando Arriano, Sanatruces era filho de Meerdates, filho de Vologases I (r. 51–78).[5] Por sua vez, Moisés de Corene o coloca como filho de Aude, a irmã de Abgar VI (r. 71–91), rei de Osroena, na Mesopotâmia.[6] Foi sugerido que tenha sido o pai de Vologases I (r. 117–140), que Dião Cássio descreveria como "filho de Sanatruces".[7] A tradição armênia ainda o coloca como pai da mártir Sanducte, a Virgem.[8]

Moisés alegou que a família de Sanatruces estava se dirigindo à Armênia junto de Biurate Bagratúnio e Cosroes Arzerúnio quando foram atingidos por uma nevasca em Corduena. O futuro rei ainda era uma criança e foi protegido por três dias e três noites por sua enfermeira Sanota até serem encontrados por um cão branco que foi enviado para procurá-los. Continua Moisés que, em homenagem a ela, a criança foi nomeada Sanatruces, que supostamente significaria "presente de Sanota", mas a etimologia é contestada como inventada.[9]

Reinado[editar | editar código-fonte]

Dracma de Osroes I

Sanatruces sucedeu Tiridates I como rei da Armênia no final do século I. Pouca ou nenhuma informação está disponível em fontes literárias ou numismáticas sobre ele. Através da comparação de várias fontes clássicas e armênias, presume-se que tenha reinado por volta do início do século II.[10] Certos estudiosos propuseram que sucedeu Tiridates entre 75 e 110, mas esta hipótese, para a qual não há evidências explícitas, foi rejeitada por outros.[11] Sanatruces também foi rei de Osroena (r. 91–109). Moisés de Corene afirmou que assumiu o trono após conduzir uma campanha ao lado dos Bagratúnios e Arzerúnios contra Edessa, vitimando os filhos de Abgar VI, exceto as mulheres, que foram realocadas ao distrito de Astianena, em Sofena. Na sequência, entregou Harrã a Helena e a nomeou rainha em Adiabena.[12]

Em 110, o trono era ocupado por Axídares, filho do xainxá Pácoro II (r. 78–110), que foi deposto em 113 por seu tio paterno, o xainxá Osroes I (r. 109–116).[13] Em 114, a Armênia foi anexada pelo imperador Trajano (r. 98–117) durante sua campanha militar contra o Império Arsácida[14] e várias fontes nomearam Sanatruces como um dos líderes da revolta contra a ocupação em 117.[11] Moisés afirmou de faleceu durante uma caçada, quando foi atingido por uma flecha no intestino.[15]

A tradição hagiográfica culpou Sanatruces pelo martírio de Judas Tadeu e Bartolomeu, o Apóstolo na Armênia,[16] bem como pelo de sua própria filha, Sanducte, a Virgem.[8] Moisés de Corene, em particular, alegou que o rei teria aceitado se converter ao cristianismo por intermédio de Judas Tadeu, mas receou que os príncipes armênios iriam contestar seu reinado e decidiu apostatar e executar os apóstolos e seus seguidores em Artaz, na Vaspuracânia.[17] Durante seu reinado, um grande terremoto destruiu a cidade de Mcurne,[a] cuja localização exata é desconhecida, mas segundo Moisés de Corene e Fausto, o Bizantino estava situada próximo ao Eufrates.[18] A cidade foi destruída e reconstruída com muralhas duplas e uma estátua do rei segurando uma moeda foi erguida no centro da cidade.[19]

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ Mcurne foi confundida por Moisés com Nísibis, que na historiografia armênia é referida como Mtsbim.[20]

Referências

  1. Publicação 1977, p. 68.
  2. Justi 1895, p. 282.
  3. Ačaṙyan 1942–1962, p. 392.
  4. Henning 1958, p. 41, nota 1.
  5. Henderson 1927, p. 345.
  6. Curtin 2014, p. 35, nota 60.
  7. Bournoutian 2002, p. 42.
  8. a b Moisés de Corene 1978, p. 174-175.
  9. Moisés de Corene 1978, p. 177-178, nota 5.
  10. Chaumont 1986.
  11. a b Hovannisian 1997, p. 69-70.
  12. Moisés de Corene 1978, p. 176.
  13. Bunson 1995, p. 303.
  14. Bunson 1995, p. 313.
  15. Moisés de Corene 1978, p. 178.
  16. Curtin 2014, p. 33.
  17. Moisés de Corene 1978, p. 171, 174.
  18. Fausto, o Bizantino 1989, p. 140 (IV.xiv.124).
  19. Moisés de Corene 1978, p. 177.
  20. Moisés de Corene 1978, p. 177, nota 2.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Սանատրուկ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians] (in Armenian). Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã 
  • Bournoutian, George A. (2002). A Concise History of the Armenian People: (from Ancient Times to the Present) 2 ed. Costa Mesa, Califórnia: Mazda Publishers. ISBN 978-1568591414 
  • Bunson, Matthew (1995). A Dictionary of the Roman Empire. Oxônia e Nova Iorque: Oxford University Press 
  • Curtin, D. P. (2014). The Martyrdom of St. Bartholomew: Greek, Arabic, and Armenian Versions. La Vergne, Tenessi: Dalcassian Publishing Company. ISBN 9798868951473 
  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachusetts: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard 
  • Henderson, Bernard William (1927). Five Roman Emperors: Vespasian, Titus, Domitian, Nerva, Trajan A.d. 69-117. Cambridge: Cambridge University Press 
  • Henning, W. B. (1958). «Mitteliranisch». Iranistik: 1. Abschnitt – Linguistik (Handbuch der Orientalistik; Erste Abteilung; 4). Leida e Colônia: E. J. Brill 
  • Hovannisian, Richard G. (1997). Armenian People from Ancient to Modern Times vol. I: The Dynastic Periods: From Antiquity to the Fourteenth Century. Nova Iorque: Palgrave Macmillan. ISBN 978-1-4039-6421-2 
  • Justi, Ferdinand (1895). Iranisches Namenbuch. Marburgo: N. G. Elwertsche Verlagsbuchhandlung 
  • Moisés de Corene (1978). Thomson, Robert W., ed. History of the Armenians. Cambrígia, Massachusetts; Londres: Harvard University Press 
  • Publicação - Departamento de Linguística e Línguas Orientais, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo 1 ed. São Paulo: Universidade de São Paulo. Departamento de Linguística e Línguas Orientais. 1977