SMS Kurfürst Friedrich Wilhelm

SMS Kurfürst Friedrich Wilhelm
 Alemanha
Operador Marinha Imperial Alemã
Fabricante Estaleiro Imperial de Wilhelmshaven
Custo 11,23 milhões
Homônimo Frederico Guilherme,
Eleitor de Brandemburgo
Batimento de quilha maio de 1890
Lançamento 30 de junho de 1891
Comissionamento 29 de abril de 1894
Estado Vendido para o Império Otomano
 Império Otomano
Nome Barbaros Hayreddin
Operador Marinha Otomana
Homônimo Barba Ruiva
Aquisição 12 de setembro de 1910
Estado Naufragado
Destino Torpedeado no Mar de Mármara
em 8 de agosto de 1915
Características gerais
Tipo de navio Couraçado pré-dreadnought
Classe Brandenburg
Deslocamento 10 670 t
Maquinário 2 motores de tripla-expansão
com três cilindros
12 caldeiras
Comprimento 115,7 m
Boca 19,5 m
Calado 7,9 m
Propulsão 2 hélices triplas
- 9 553 cv (7 030 kW)
Velocidade 16,9 nós (31,3 km/h)
Autonomia 4 300 milhas náuticas a 10 nós
(8 000 km a 19 km/h)
Armamento 6 canhões de 280 mm
8 canhões de 105 mm
8 canhões automáticos de 88 mm
3 tubos de torpedo de 450 mm
Blindagem Cinturão: 400 mm
Barbetas: 300 mm
Convés: 60 mm
Tripulação 568

O SMS Kurfürst Friedrich Wilhelm foi um navio couraçado pré-dreadnought operado pela Marinha Imperial Alemã e a segunda embarcação da Classe Brandenburg depois do SMS Brandenburg, e seguido pelo SMS Weissenburg e SMS Wörth. Nomeado em homenagem a Frederico Guilherme, Eleitor de Brandemburgo, sua construção começou em maio de 1890 no Estaleiro Imperial de Wilhelmshaven e foi lançado ao mar no ano seguinte, sendo comissionado na frota alemã em abril de 1894 ao custo de 11,23 milhões de marcos. Era armado com seis canhões montados em três torres de artilharia duplas, diferentemente do esquema de quatro canhões em duas torres duplas usados em outras marinhas, e possuía um deslocamento de mais de dez mil toneladas e velocidade máxima de dezesseis nós.

O Kurfürst Friedrich Wilhelm serviu como a capitânia da frota alemã desde seu comissionamento até 1900. Ele teve pouco serviço ativo durante seu período com a frota alemã devido a natureza relativamente pacífica do final do século XIX e início do XX na Europa. Dessa forma, sua carreira envolveu principalmente exercícios de treinamento e visitas a países estrangeiros. Estas manobras mesmo assim foram muito importantes para o desenvolvimento da doutrina naval tática da Alemanha nas duas décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial, especialmente sob a direção de Alfred von Tirpitz. O navio e seus irmãos só tiveram uma única grande missão no exterior, indo para a China em 1900–01 no Levante dos Boxers. Passou por uma grande modernização em 1904–05.

O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi vendido em 1910 para o Império Otomano e renomeado para Barbaros Hayreddin. Ele teve um papel ativo nas Guerras dos Balcãs, principalmente proporcionando suporte de artilharia para as forças otomanas de terra na Trácia. Também participou de dois confrontos contra a Marinha Real Grega, primeiro na Batalha de Elli em dezembro de 1912 e depois na Batalha de Lemnos no mês seguinte. As duas batalhas terminaram em derrota para os otomanos. O Barbaros Hayreddin estava em péssimo estado e foi parcialmente desarmado depois do começo da Primeira Guerra Mundial. A embarcação acabou naufragando perto de Dardanelos em 8 de agosto de 1915 depois de ser torpedeada pelo submarino britânico HMS E11, com muitos marinheiros perdendo a vida.

Características[editar | editar código-fonte]

Diagrama da Classe Brandenburg

Os quatro navios da Classe Brandenburg foram os primeiros couraçados pré-dreadnought da Marinha Imperial Alemã.[1][nota 1] A frota da Alemanha até a ascensão do imperador Guilherme II em 1888 era orientada para a defesa costeira, com o vice-almirante Leo von Caprivi, chefe do Escritório Imperial da Marinha, tendo ordenado na década de 1880 a construção de vários navios de defesa de costa.[2] O imperador, que tinha grande interesse em assuntos náuticos, substituiu Caprivi em agosto pelo vice-almirante Alexander von Monts, instruindo-o a incluir quatro couraçados no orçamento naval. Monts, que era a favor de uma frota de couraçados, cancelou as quatro últimas embarcações de defesa de costa autorizadas por Caprivi e em vez disso encomendou couraçados de dez mil toneladas. Eles foram os primeiros couraçados modernos construídos na Alemanha, com sua autorização tendo vindo como parte de um programa de construção que refletia a confusão tática e estratégica da década de 1880.[3]

O Kurfürst Friedrich Wilhelm tinha 115,7 metros de comprimento, boca de 19,5 metros que podia aumentar até 19,74 metros com a adição de redes de torpedos, além de calado de 7,6 metros na proa e de 7,9 metros na popa. Possuía um deslocamento de 10 013 toneladas em seu peso projetado, porém este valor podia chegar em 10 670 toneladas quando totalmente carregado. Era equipado com doze caldeiras a carvão e dois conjuntos de motores de tripla expansão com três cilindros que geravam 9 553 cavalos-vapor (7 120 quilowatts) de potência e uma velocidade máxima de 16,9 nós (31,3 quilômetros por hora). O Kurfürst Friedrich Wilhelm tinha um alcance de 4 300 milhas náuticas (oito mil quilômetros) a dez nós (dezenove quilômetros por hora). Sua tripulação era formada por 38 oficiais e 530 marinheiros.[1]

A embarcação era incomum para a época, pois estava equipada com uma bateria principal composta por seis canhões pesados montados em três torres duplas, diferentemente dos quatro canhões normalmente encontrados em outros couraçados contemporâneos.[2] As torres de artilharia da proa e da popa tinham canhões K L/40 de 280 milímetros,[nota 2] enquanto a torre central era armada com canhões menores L/35 também de 280 milímetros. Seus armamentos secundários consistiam em oito canhões de tiro rápido SK L/35 de 105 milímetros e oito SK L/30 de 88 milímetros montados em casamatas. O armamento do Kurfürst Friedrich Wilhelm era completado por seis tubos de torpedo de 450 milímetros, todos instalados acima da linha d'água. Sua blindagem era feita com um composto Krupp de níquel e aço, um novo tipo de aço mais resistente. Seu cinturão de blindagem tinha uma espessura de quatrocentos milímetros na parte central do navio que protegia os depósitos de munição e sala de máquinas. O convés tinha uma blindagem de sessenta milímetros, enquanto as barbetas da bateria principal eram protegidas por uma blindagem de trezentos milímetros de espessura.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Serviço alemão[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

O casco do Kurfürst Friedrich Wilhelm pouco antes de seu lançamento em 1891

O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi o quarto e último navio de sua classe a ter sua construção iniciada. Ele foi encomendado sob o nome de couraçado D,[1][nota 3] com o batimento de sua quilha ocorrendo em maio de 1890 no Estaleiro Imperial de Wilhelmshaven. Ele acabou sendo o primeiro de sua classe a ser lançado, em 30 de junho de 1891.[6] A cerimônia teve a presença do imperador Guilherme II e de sua esposa, a imperatriz Augusta Vitória de Schleswig-Holstein.[7] Foi comissionado na frota alemã em 29 de abril de 1894, o mesmo dia que seu irmão SMS Brandenburg.[6] O navio teve vários problemas com seu sistema de propulsão durante seus testes marítimos. Consequentemente foi descomissionado para reparos e recomissionado pouco depois em 1º de novembro.[7] A construção do Kurfürst Friedrich Wilhelm custou no total 11,23 milhões de marcos.[8] A embarcação foi designada para a I Divisão da I Esquadra de Batalha junto com seus três irmãos.[9] Ele substituiu em 16 de novembro o ironclad SMS Bayern como a capitânia, ficando sob o comando do vice-almirante Hans von Koester. O navio permaneceu nessa posição pelos seis anos seguintes.[7] A I Divisão foi acompanhada até 1901–02 pelos quatro ironclads da Classe Sachsen na II Divisão, depois do qual estes foram substituídos pelos novos couraçados da Classe Kaiser Friedrich III.[10] O Kurfürst Friedrich Wilhelm também serviu como local de treinamento para os posteriores comandantes da Frota de Alto-Mar, incluindo os almirantes Reinhard Scheer e Franz von Hipper, com ambos tendo servido a bordo como oficiais de navegação em 1897 e entre outubro de 1898 e setembro de 1899, respectivamente.[11][12]

O navio e o resto da esquadra participaram de cerimônias no Canal Imperador Guilherme em Kiel no dia 3 de dezembro de 1894. A esquadra em seguida começou um cruzeiro de treinamento de inverno no Mar Báltico; este foi o primeiro cruzeiro desse tipo realizado pela frota alemã. A maior parte da força nos anos anteriores era normalmente desativada durante o período do inverno. A I Divisão no decorrer da viagem ancorou em Estocolmo na Suécia entre os dias 7 e 11 de dezembro a fim de participarem de celebrações que marcaram os trezentos anos de nascimento do rei Gustavo II Adolfo. O rei Óscar II da Suécia recepcionou a delegação alemã, que incluía o príncipe Henrique da Prússia, irmão mais novo de Guilherme II e o comandante do couraçado SMS Wörth. Outros exercícios foram realizados no Báltico depois disso até as embarcações retornarem para a Alemanha a fim de passarem por reparos. O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi levado para uma doca seca e teve suas chaminés estendidas em altura nessa época.[13]

Foto colorizada do Kurfürst Friedrich Wilhelm

O ano de 1895 começou com viagens normais para a Heligolândia e depois Bremerhaven, com o imperador a bordo. Seguiu-se treinamentos individuais e divisionais, que foram interrompidos por uma viagem para o Mar do Norte. O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi acompanhado nessa viagem pelo Brandenburg; os dois couraçados pararam em Lerwick nas Ilhas Shetland, Escócia, entre os dias 16 e 23 de março. Esta foi a primeira vez que unidades da principal frota alemã deixaram águas domésticas. O propósito do exercício era testar os navios sob clima ruim, com ambos tendo um desempenho considerado admirável. Mais manobras da frota ocorreram em maio no Báltico, que foram concluídos com uma visita a Kirkwall nas Ilhas Órcades. A esquadra voltou para Kiel em junho, onde as preparações estavam em andamento para a inauguração do Canal Imperador Guilherme. Exercícios táticos ocorreram na Baía de Kiel diante de delegações estrangeiras para a cerimônia de abertura.[14]

Uma explosão ocorreu em um dos pinasse do Kurfürst Friedrich Wilhelm no dia 28 de junho, matando sete tripulantes e ferindo vários outros. Mais exercícios duraram até 1º de julho, quando a I Divisão começou uma viagem para o Oceano Atlântico. Esta operação tinha motivos políticos:[15] a Alemanha só tinha conseguido enviar um pequeno contingente de embarcações – o cruzador protegido SMS Kaiserin Augusta, o navio de defesa de costa SMS Hagen e a corveta SMS Stosch – para uma demonstração naval internacional perto da costa de Marrocos na mesma época.[16] A frota principal assim poderia proporcionar apoio moral para demonstração ao navegar para águas espanholas. Clima ruim novamente permitiu que o Kurfürst Friedrich Wilhelm e seus irmãos demonstrassem sua excelente navegabilidade. A frota deixou Vigo e foi para Queenstown na Irlanda. O imperador, a bordo de seu iate SMY Hohenzollern, compareceu à regata de Cowes enquanto o restante da frota ficou perto da Ilha de Wight.[15]

A frota retornou para Wilhelmshaven em 10 de agosto e começou preparações para manobras de outono no final do mês. Os primeiros exercícios iniciaram-se em 25 de agosto na Angra da Heligolândia. A frota então seguiu através do estreito de Skagerrak até o Báltico, onde as fortes tempestades danificaram muitos dos navios e afundaram o barco torpedeiro SMS S41, que emborcou deixando apenas três sobreviventes. A força ficou brevemente em Kiel até retornar para os exercícios, incluindo de incêndios, ocorridos nos estreitos de Kattegat e Grande Belt. As manobras principais começaram em 7 de setembro com um ataque simulado a partir de Kiel em direção do leste do Báltico. Outras manobras ocorreram na costa da Pomerânia e na Baía de Danzig. Uma revisão da frota por Guilherme II em Jershöft no dia 14 encerrou as manobras.[17] O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi em 1º de outubro para uma doca seca a fim de passar por sua manutenção periódica. O ironclad SMS Baden temporariamente o substituiu como capitânia da frota até os trabalhos serem finalizados em 20 de outubro. O resto do ano foi passado fazendo treinamentos individuais, exceto por uma rápida viagem para Gotemburgo na Suécia entre os dias 5 e 9 de novembro. Outros três navios acompanharam o couraçado nessa viagem: os ironclads SMS Sachsen e SMS Württemberg e o aviso SMS Pfeil. O comandante da esquadra transferiu sua bandeira para o Württemberg em 9 de dezembro enquanto o Kurfürst Friedrich Wilhelm ia novamente para a doca seca.[18]

Rotina de exercícios[editar | editar código-fonte]

O Kurfürst Friedrich Wilhelm em 1899

O ano de 1896 seguiu o mesmo padrão de exercícios dos anos anteriores. Koester hasteou novamente sua bandeira a bordo do Kurfürst Friedrich Wilhelm em 10 de março de 1896. Treinamentos individuais no navio ocorreram até abril, seguido por um treinamento da esquadra no Mar do Norte no final do mês e início do mês seguinte. Isto incluiu uma visita aos portos holandeses de Flessingue e Nieuwediep. Mais manobras duraram do final de maio até o final do julho, quando a esquadra seguiu mais para o norte do Mar do Norte, frequentemente para águas norueguesas. As embarcações visitaram Bergen dos dias 11 a 18 de maio. O imperador e o vice-rei chinês Li Hongzhang observaram a frota em Kiel durante as manobras.[18] A frota reuniu-se em 9 de agosto em Wilhelmshaven para os exercícios anuais de outono. O Kurfürst Friedrich Wilhelm mais uma vez foi para a doca seca ao final das manobras para passar por manutenção, com o Sachsen tornando-se a capitânia de Koester de 16 de setembro a 3 de outubro. Ele novamente hasteou sua bandeira no Sachsen entre 15 de dezembro de 1896 e 1º de março de 1897.[19]

O Kurfürst Friedrich Wilhelm e o resto da frota operaram sob uma rotina normal de treinamentos individuais e em unidade pela primeira metade de 1897. O comando naval considerou no começo do ano despachar a I Divisão para outra demonstração em Marrocos com o objetivo de protestar a morte de dois alemães mortos no local, porém enviaram uma pequena esquadra de corvetas. A típica rotina de exercícios foi interrompida no início de agosto quando o imperador e a imperatriz foram visitar a corte imperial russa em Kronstadt; as duas divisões da I Esquadra os acompanharam. Eles retornaram para Danzig em 15 de agosto, onde o restante da frota juntou-se para as manobras anuais de outono. Estes exercícios refletiram o pensamento tático do contra-almirante Alfred von Tirpitz, o novo Secretário de Estado do Escritório Imperial da Marinha, e do vice-almirante August von Thomsen, o novo comandante da I Esquadra. Estas novas táticas enfatizavam artilharia mais precisa, especialmente a longas distâncias, porém as necessidades de uma formação de linha de batalha levaram a grande rigidez nas táticas. A enfase de Thomsen em tiro criou as bases para a excelente artilharia alemã na Primeira Guerra Mundial. As manobras foram completadas em 22 de setembro em Wilhelmshaven.[20]

Pintura do cruzador protegido SMS Victoria Louise, do Kurfürst Friedrich Wilhelm e do couraçado SMS Weissenburg, por Hugo Graf

A I Divisão realizou manobras em Kattegat e Skagerrak no começo de dezembro, porém foram encurtadas pela falta de homens e oficiais. A frota seguiu a típica rotina de treinamentos individuais e em frota no decorrer de 1898 sem incidentes, porém foi incluída uma viagem para as Ilhas Britânicas. Os navios pararam em Queenstown, Greenock e Kirkwall. A frota reuniu-se em Kiel em 14 de agosto para os exercícios aunais de outono. As manobras incluíram uma simulação de bloqueio perto da costa de Mecklemburgo e uma batalha campal com uma "Frota Oriental" na Baía de Danzig. Uma tempestade forte atingiu a frota enquanto voltavam para Kiel, infligindo grandes danos em muitas das embarcações e afundando o barco torpedeiro SMS S58. Eles atravessaram o Canal Imperador Guilherme e continuaram suas manobras no Mar do Norte. Os treinamentos terminaram em Wilhelmshaven no dia 17 de setembro. A I Divisão conduziu treinamentos de artilharia e torpedo na Baía de Eckernförde em dezembro, seguido por treinamentos divisionais em Kattegat e Skagerrak. A divisão visitou Kungsbacka na Suécia durante esses manobras de 9 a 13 de dezembro. Eles voltaram para Kiel e os navios da I Divisão foram para docas a fim de passarem por reparos de inverno.[21]

O Kurfürst Friedrich Wilhelm participou em 5 de abril de 1899 das celebrações para marcar o quinquagésimo aniversário da Batalha de Eckernförde durante a Primeira Guerra de Schleswig. A I e II Divisões, junto com a Divisão de Reserva do Báltico, partiram em maio para um grande cruzeiro pelo Atlântico. Na ida, a I Divisão parou em Dover enquanto a II Divisão foi para Falmouth com o objetivo de reabastecer seus depósitos de carvão. A I Divisão então encontrou com a II em Falmouth no dia 8 de maio, com as duas unidades partindo para o Golfo da Biscaia, chegando em Lisboa em Portugal no dia 12 de maio. Lá encontraram-se com a Frota do Canal britânica composta por oito couraçados e quatro cruzadores blindados. O rei Carlos I de Portugal foi a bordo do Kurfürst Friedrich Wilhelm para inspecionar a capitânia alemã. A frota então partiu para a Alemanha, parando novamente em Dover em 24 de maio. Lá participaram de uma revista naval em celebração do aniversário de oitenta anos da rainha Vitória do Reino Unido. As embarcações retornaram para Kiel em 31 de maio.[22]

A frota conduziu manobras de esquadra no Mar do Norte em julho, incluindo exercícios de defesa costeira com soldados do X Corpo do exército. A frota se reuniu em Danzig em 16 de agosto para novamente realizar a manobra anual de outono.[22] Os exercícios começaram no Báltico e a frota passou por Kattegat e Skagerrak em 30 de agosto, indo para o Mar do Norte a fim de fazer mais manobras na Angra da Alemanha que duraram até 7 de setembro. A terceira fase dos treinamentos ocorreu em Kattegat e no Grande Belt entre 8 e 26 de setembro, quando as manobras terminaram e a frota foi para o porto a fim de passar pela manutenção anual. O ano de 1900 começou com a mesma rotina de exercícios individuais e divisionais. As esquadras se encontraram em Kiel em março, com treinamentos de torpedo e artilharia em abril seguida de uma viagem para o Báltico. A frota fez uma grande cruzeiro de treinamento no Mar do Norte de 7 a 26 de maio, incluindo paradas nas Shetlands entre 12 e 15 de maio e em Bergen de 18 até 22 do mesmo mês.[23] Os navios da I Divisão foram transferidos em 8 de julho para a II Divisão, com a função de capitânia passando para o recém comissionado couraçado SMS Kaiser Wilhelm II.[24]

Levante dos Boxers[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Levante dos Boxers
A tripulação e oficiais no convés do Kurfürst Friedrich Wilhelm em 1900

O Kurfürst Friedrich Wilhelm participou de sua primeira grande operação em 1900, quando a I Divisão foi enviada para a China durante o Levante dos Boxers.[2] Nacionalistas chineses cercaram embaixadas estrangeiras em Pequim e assinaram um ministro alemão.[25] Na época, a Esquadra da Ásia Oriental alemã consistia dos cruzadores protegidos Kaiserin Augusta, SMS Hansa e SMS Hertha, os cruzadores menores SMS Irene e SMS Gefion, e as canhoneiras SMS Jaguar e SMS Iltis,[26] porém o imperador decidiu que uma força extraordinária era necessária para reforçar a Aliança das Oito Nações que surgira para derrotar os Boxers. A força expedicionária era formada pelo Kurfürst Friedrich Wilhelm, seus três irmãos, seis cruzadores, dez navios de carga, três barcos torpedeiros e seis regimentos de fuzileiros, todos sob o comando do general marechal de campo Alfred von Waldersee.[27] O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi a capitânia do contra-almirante Richard von Geißler, que assumiu o comando em 6 de julho.[24]

Geißler relatou em 7 de julho que suas embarcações estavam prontas para a operação e elas partiram dois dias depois. Os quatro couraçados mais o aviso SMS Hela passaram pelo Canal Imperador Guilherme e pararam em Wilhelmshaven a fim de se encontrarem com o resto da força expedicionária. Os navios partiram da Angra de Jade em 1 de julho em direção da China. Eles pararam em Gibraltar para reabastecerem-se de carvão entre os dias 17 e 18 de julho e passaram pelo Canal de Suez no dias 26 e 27. Mais um reabastecimento das reservas de carvão ocorreu na ilha britânica de Perim no Mar Vermelho, com a frota entrando no Oceano Índico em 2 de agosto. Os navios alcançaram Colombo no Ceilão em 10 de agosto, passando pelo Estreito de Malaca quatro dias depois. Eles chegaram em Singapura em 18 de agosto e partiram depois de cinco dias, chegando em Hong Kong no dia 28. A força expedicionária parou dois dias depois em Wusong, próximo da cidade de Xangai.[28] O Wörth foi então destacado para cobrir o desembarque do corpo expedicionário alemão próximo dos Fortes de Taku, enquanto o Kurfürst Friedrich Wilhelm e seus outros dois irmãos juntaram-se ao bloqueio do Rio Yangtzé, que também incluíam um contingente britânico de dois couraçados, três cruzadores, quatro canhoneiras e um contratorpedeiro. Uma pequena frota chinesa mais acima no rio nem preparou suas embarcações para ação devido à força da frota anglo-germânica.[29]

Navios alemães na China em 1900

O cerco de Pequim já tinha acabado quando os alemães chagaram.[30] A frota foi para o Mar Amarelo no começo de setembro, onde Waldersee, que recebera o comando de todas as forças terrestres da Aliança, planejou ações contra portos do norte da China. O SMS Fürst Bismarck, a capitânia da Esquadra da Ásia Oriental, fez reconhecimento de Shanhaiguan e Qinhuangdao entre 3 e 4 de setembro. O Kurfürst Friedrich Wilhelm então foi para Shanhaiguan e enviou uma força de desembarque de cem homens enquanto suas tripulações de torpedo limpavam campos minados chineses. Depois retornou para Wusong enquanto a Esquadra da Ásia Oriental permaneceu em ambos os portos. O Kurfürst Friedrich Wilhelm e seus irmãos foram enviados para Hong Kong ou Nagasaki no Japão no começo de 1901 a fim de passarem por reformas; o Kurfürst Friedrich Wilhelm ficou em Nagasaki de 4 a 23 de janeiro. A força expedicionária reuniu-se em Qingdao em março para exercícios táticos e de artilharia.[29]

O alto comando alemão convocou de volta a força expedicionária de volta para a casa em 26 de maio. A frota abasteceu suprimentos em Xangai e partiu em 1º de junho. Eles pararam em Singapura de 10 a 15 de junho e se reabasteceram com carvão antes de seguirem para Colombo, onde ficaram entre os dias 22 e 26. Navegar contra as monções forçou os navios a pararem na Ilha de Mahé nas Seicheles. A frota então parou por um dia em Áden e depois em Porto Said no Egito no caminho de volta a fim de pegarem mais carvão. Eles chegaram em Cádis em 1º de agosto, onde encontraram-se com a I Divisão e retornaram juntos para a Alemanha. Se separaram ao alcançarem a Heligolândia e os navios da força expedicionária foram revistados em 11 de agosto por Koester, agora o Inspetor Geral da Marinha. Geißler arraiou sua bandeira do Kurfürst Friedrich Wilhelm no dia seguinte e a força foi dissolvida.[31] No final, toda a operação custou à Alemanha mais de cem milhões de marcos.[32]

Últimos anos[editar | editar código-fonte]

O Kurfürst Friedrich Wilhelm em 1903

O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi para Kiel depois de voltar da China, com o contra-almirante Fischel hasteando sua bandeira a bordo da embarcação em 14 de agosto. Ele foi designado para a I Esquadra como a segunda capitânia de comando para as manobras anuais de outono.[nota 4] Estes exercícios foram interrompidos por uma visita de Nicolau II, que foi abordo do Kurfürst Friedrich Wilhelm. Fischel depois disso foi substituído em 24 de outubro pelo contra-almirante Curt von Prittwitz und Gaffron. A frota partiu em um cruzeiro para a Noruega no final de 1901, durante o qual o couraçado parou na capital Oslo. O navio ficou na doca seca para passar por mais reparos durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.[36]

O padrão de treinamento dos anos anteriores permaneceu o mesmo para 1902; a I Esquadra partiu em 25 de abril para um grande cruzeiro de treinamento. Ela inicialmente seguiu em direção de águas norueguesas, depois viraram para o norte para a Escócia e terminaram na Irlanda. Os navios retornaram para Kiel em 28 de maio. O Kurfürst Friedrich Wilhelm então participou das manobras anuais de outono, depois do qual ele foi descomissionado, com o novo couraçado SMS Wittelsbach assumindo sua posição como segunda capitânia de comando. As quatro embarcações da Classe Brandenburg foram tiradas do serviço a fim de passarem por uma grande reconstrução.[36] Os trabalhos no Kurfürst Friedrich Wilhelm ocorreram no Estaleiro Imperial de Wilhelmshaven.[1] Os trabalhos incluíram o aumento da capacidade de seus depósitos de carvão e a instalação de dois canhões de 105 milímetros. Os planos inicialmente pediam para que a torre de artilharia central de 280 milímetros fosse substituída por uma bateria de canhões de médio calibre, porém isto mostrou-se muito caro. Ele foi o último navio de sua classe a ter sua reconstrução finalizada, o que ocorreu em 14 de dezembro de 1905.[37]

Ele foi designado em 1º de janeiro de 1906 para a II Esquadra e serviu como capitânia, primeiro do contra-almirante Henning von Holtzendorff e depois, durante as manobras de outono, do contra-almirante Adolf Paschen. A frota realizou sua rotina normal de treinamentos individuais e em divisão, interrompidos apenas por um cruzeiro para a Noruega de meados de julho até início de agosto. As manobras de outono ocorreram normalmente. O Kurfürst Friedrich Wilhelm atuou como segunda capitânia de comando na I Esquadra da recém criada Frota de Alto-Mar, porém ele foi retirado do serviço ativo no final de 1906 e seu lugar foi ocupado pelo novo couraçado SMS Pommern.[38]

O Kurfürst Friedrich Wilhelm em 1910

O Kurfürst Friedrich Wilhelm foi designado a partir de 1º de outubro de 1907 para a Esquadra de Reserva no Mar do Norte, que tinha sido criada no mesmo ano a fim de treinar novas tripulações. Seus três irmãos também foram colocados na mesma unidade; suas funções tipicamente consistiam em cruzeiros de treinamento para o Mar do Norte. Ele operou com a Esquadra de Treinamento de 5 a 25 de abril junto com a capitânia SMS Vineta. A Esquadra de Reserva contribuiu com embarcações para as manobras anuais de outono; o Kurfürst Friedrich Wilhelm serviu como a capitânia da reserva, junto com os navios de defesa de costa SMS Ägir e SMS Frithjof, os cruzadores lança-minas SMS Nautilus e SMS Albatross, e os avisos Pfeil, SMS Blitz e SMS Zieten. A esquadra foi organizada em Cuxhaven e juntou-se em 8 de setembro a Frota de Alto-Mar na Angra da Alemanha. Eles participaram de uma série de exercícios próximos da Heligolândia, com a esquadra sendo dissolvida em 12 de setembro ao final das manobras.[38]

O couraçado retornou para a Esquadra de Reserva em janeiro de 1909 depois de passar pela manutenção de inverno. Ele foi operar com a Esquadra de Treinamento novamente a partir de 27 de março, com a capitânia agora sendo o cruzador blindado SMS Friedrich Carl. O navio fez um cruzeiro para o Báltico entre 30 de março e 24 de abril nas águas próximas de Rúgia. Ele e o resto da esquadra participaram das manobras de outono em agosto, com o couraçado SMS Schwaben substituindo o Kurfürst Friedrich Wilhelm como a capitânia da Esquadra de Reserva. A embarcação foi então transferida para a VII Divisão da Esquadra de Reserva. Ele continuou com sua rotina de treinos até o começo de 1910; operou com a Esquadra de Treinamento de 4 a 29 de abril e fez um cruzeiro para Skagerrak e para o Báltico. O couraçado estava previsto para participar das manobras de outono daquele ano, porém o Kurfürst Friedrich Wilhelm e o SMS Weissenburg foram vendidos para o Império Otomano pouco antes da frota reunir-se para os exercícios.[39]

Serviço otomano[editar | editar código-fonte]

O Barbaros Hayreddin

O adido militar alemão no Império Otomano começou no final de 1909 a conversar com a Marinha Otomana sobre a possibilidade de venda de alguns navios de guerra alemães para que os otomanos pudessem se opor à expansão naval da Grécia. Após longas negociações, que incluíram tentativas otomanas de comprar um ou mais dos novos cruzadores de batalha SMS Von der Tann, SMS Moltke ou SMS Goeben, os alemães ofereceram-se para vender os quatro navios da Classe Brandenburg a um custo de dez milhões de marcos. Os otomanos escolheram o Kurfürst Friedrich Wilhelm e o Weissenburg pois estes eram os mais avançados dos quatro.[40] Os dois couraçados foram nomeados para Barbaros Hayreddin e Turgut Reis, em homenagem aos almirantes otomanos do século XVI Barba Ruiva e Turgut Reis.[41][42][43] Eles foram transferidos em 1º de setembro de 1910, com tripulações alemãs os navegando até Constantinopla junto com outros quatro contratorpedeiros comprados da Alemanha.[44] Entretanto, a Marinha Otomana teve grandes dificuldades em equipar o Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis; foi necessário transferir marinheiros do resto da frota apenas para formas tripulações para os dois navios.[45] Ambos também sofreram de problemas nos seus condensadores depois de entrarem no serviço otomano, algo que reduziu sua velocidade máxima para oito a dez nós (quinze a dezenove quilômetros por hora).[44]

A Itália declarou guerra ao Império Otomano um ano depois em setembro de 1911. Os dois couraçados e o antigo ironclad casamata Mesudiye, que fora originalmente construído na década de 1870, estavam desde julho realizando um cruzeiro de treinamento de verão e assim preparados para o conflito.[43] O Barbaros Hayreddin e o resto da frota ancoraram em Beirute no dia 1º de outubro. Partiram para Constantinopla no dia seguinte a fim de passarem por reparos para que pudessem enfrentar a frota italiana.[46] Mesmo assim, a grande parte da frota otomana, incluindo o Barbaros Hayreddin, permaneceu no porto durante todo o conflito.[43] Ao final da guerra os dois couraçados estavam em uma condição muito ruim. Seus telêmetros e seus molinetes de munição para a bateria principal tinham sido removidos, os telefones não funcionavam e os canos das bombas estavam muito enferrujados. Além disso, a maioria das comportas a prova d'água não fechava e os condensadores continuavam a ser um problema.[47]

Guerras dos Balcãs[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Guerras dos Balcãs

A Primeira Guerra Balcânica estourou em outubro de 1912, quando a Liga Balcânica atacou o Império Otomano. A condição do Barbaros Hayreddin, assim como da maioria dos navios da frota otomana, tinha deteriorado significantemente. O couraçado, durante a guerra, realizou treinos de artilharia junto com as outras grandes embarcações da Marinha Otomana, escoltou comboios de tropas e bombardeou instalações costeiras.[42] O Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis foram para İğneada em 17 de outubro. Dois dias depois eles bombardearam posições de artilharia búlgaras perto de Varna. O navio bloqueou o porto de Varna no dia 30 junto com o contratorpedeiro Nümune-i Hamiyet.[47] O Barbaros Hayreddin e o Mesudiye bombardearam posições búlgaras em 17 de novembro em apoio ao I Corpo, tendo a ajuda de observadores em terra.[48] A artilharia dos navios era ruim, porém mesmo assim ajudou a melhorar a moral do exército otomano entrincheirado em Çatalca.[49] A embarcação ficou estacionada em Büyükçekmece junto com seu irmão e outros navios de geurra entre 25 e 20 de novembro, não tendo participado de nenhuma ação contra a marinha da Bulgária.[50]

A frota otomana foi reorganizada em dezembro de 1912 em uma divisão blindada, que incluía o Barbaros Hayreddin como capitânia, duas divisões de contratorpedeiros e uma quarta divisão que tinha a intenção de ser composta por navios de guerra para operações independentes.[51] A divisão blindada tentou pelos dois meses seguintes quebrar o bloqueio grego estabelecido em Dardanelos, o que resultou em duas grandes batalhas navais.[52]

Batalha de Elli[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Batalha de Elli
Pintura de Vasileios Hatzis em 1913 da frota grega na Batalha de Elli

A Batalha de Elli ocorreu em 16 de dezembro de 1912, quando os otomanos tentaram lançar um ataque em Imbros.[53] A frota otomana partiu de Dardanelos às 9h30min; as embarcações menores ficaram perto dos estreitos enquanto os couraçados navegaram para o norte ao longo da costa. A flotilha grega, que incluía o cruzador blindado Georgios Averof e os três ironclads da Classe Hydra, vinda da ilha de Lemnos, alterou sua rota para nordeste a fim de bloquear o avanço dos navios otomanos.[54] Estes abriram fogo às 9h40min de uma distância de aproximadamente catorze quilômetros. O Georgios Averof conseguiu cruzar para o outro lado da frota otomana, deixando-os na posição desfavorável de serem alvejados dos dois lados. Os navios otomanos reverteram seu curto às 9h50min sob forte pressão da artilharia grega, iniciando um retorno para a segurança dos estreitos. Entretanto, a virada foi mau executada e as embarcações saíram de formação, bloqueando os campos de tiro umas das outras.[53]

Ambos os lados pararam de atirar às 10h17min e a frota otomana retirou-se para Dardanelos. As embarcações chegaram no porto às 13h e transferiram suas baixas para o navio hospital Resit Paşa.[53] A batalha foi considerada uma vitória grega porque os otomanos continuaram sob bloqueio.[52] O Barbaros Hayreddin foi acertado duas vezes. A primeira acertou o convés da popa e matou cinco marinheiros designados para a equipe de controle de dano. A segunda travou a torre de artilharia da popa, deixando-a inoperante. Fragmentos também danificaram várias caldeiras e incendiaram um dos depósitos de carvão.[53]

Os otomanos tentaram desembarcar em Bozcaada no dia 4 de janeiro de 1913 com o objetivo de retomar a ilha. O Barbaros Hayreddin e o resto da frota deram suporte, porém a aparição da frota grega forçou os otomanos a suspenderem a operação. Os gregos também recuaram, com vários cruzadores otomanos abrindo fogo enquanto as duas forças se distanciavam, porém não houve acertos. O Barbaros Hayreddin chegou de volta em Çanakkale às 15h30min, dentro da segurança dos Dardanelos. A frota conduziu uma patrulha fora dos estreitos em 10 de janeiro. Eles encontraram contratorpedeiros gregos e os forçaram a recuar, porém não conseguiram danificar as embarcações gregas.[55]

Batalha de Lemnos[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Batalha de Lemnos (1913)
Diagrama da revista francesa L'Illustration mostrando as frotas otomana e grega e os navios que participaram da Batalha de Lemnos

A Batalha de Lemnos surgiu de um plano otomano para atrair o poderoso Georgios Averof para longe de Dardanelos. O cruzador protegido Hamidiye conseguiu passar pelo bloqueio grego e foi para o Mar Egeu em uma tentativa de atrair o cruzador em uma perseguição. O almirante Pavlos Kountouriotis, comandante grego, apesar da ameaça representada pela embarcação inimiga, recusou-se a destacar seu principal navio.[54] Os otomanos descobriram em meados de janeiro que o Georgios Averof continuava na frota grega, porém o capitão Ramiz Numan Bey, o comandante da frota otomana, decidiu atacar do mesmo jeito.[55]

O Barbaros Hayreddin, Turgut Reis e o resto da frota otomana partiram de Dardanelos às 8h20min de 18 de janeiro, navegando em direção de Lemnos a uma velocidade de onze nós (vinte quilômetros por hora). O Barbaros Hayreddin liderou a linha de batalha, com uma flotilha de torpedeiros dos dois lados da formação.[55] O Georgios Averof, junto com os ironclads da Classe Hydra e cinco contratorpedeiros, interceptaram a frota otomana a aproximadamente doze milhas náuticas (22 quilômetros) de distância de Lemnos.[54] O cruzador protegido Mecidiye avistou os gregos às 10h55min e a frota virou para o sul a fim de enfrentá-los.[55]

O duelo de artilharia a longa distância começou às 11h55min e durou por duas horas, com a frota otomana abrindo fogo a uma distância de oito quilômetros. Eles concentraram seus tiros no Georgios Averof, que disparou de volta ao meio-dia. Os gregos tentaram cruzar o T dos otomanos às 12h50min, porém o Barbaros Hayreddin virou para o norte com o objetivo de bloquear a manobra. Bey destacou o Mesudiye depois de um acerto sério às 12h55min. Um projétil atingiu a torre de artilharia central do Barbaros Hayreddin por volta do mesmo momento, matando toda a equipe dos canhões. Ele depois disso foi atingido várias vezes na superestrutura; estes impactos causaram poucos danos, porém criaram muita fumaça que foi sugada para dentro das salas das caldeiras, o que causou a redução da velocidade para cinco nós (9,3 quilômetros por hora). O Turgut Reis assim assumiu a liderança da formação e Bey decidiu encerrar o confronto.[56]

O Georgios Averof aproximou-se até uma distância de 4,6 quilômetros no final da batalha e acertou a frota otomana em retirada várias vezes.[54] Os navios otomanos aproximaram-se o bastante da costa para serem protegidos pelas baterias em terra às 14h, forçando a retirada das embarcações gregas e o fim definitivo do confronto.[57] O Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis tiveram, cada um, uma barbeta inutilizada pelos disparos inimigos, com ambos também tendo pegado fogo. Os dois couraçados juntos atiraram por volta de oitocentos projéteis, a maioria de suas baterias principais de 280 milímetros, porém acertaram poucas vezes seus alvos.[58]

Outras operações[editar | editar código-fonte]

A Marinha Otomana deu suporte em 8 de fevereiro a um ataque anfíbio contra Şarköy. A frota partiu às 5h50min e chegou perto da ilha por volta das 8h.[50] As embarcações proporcionaram suporte de artilharia a uma distância de um quilômetro da costa.[59] Os navios passaram a apoiar o flanco esquerdo do exército assim que as tropas chegaram em terra. O exército búlgaro ofereceu forte resistência que acabou forçando a retirada das forças otomanas, porém essa retirada foi bem sucedida em boa parte graças aos tiros do Barbaros Hayreddin e do resto da frota. O couraçado disparou 250 projéteis de seus canhões de 105 milímetros e 180 de suas armas de 88 milímetros.[60]

O navio retornou para o Mar Negro em março a fim de retomar o apoio a guarnição de Çatalca, que estava sob novos ataques do exército búlgaro. Tiros das armas do Barbaros Hayreddin e do Turgut Reis ajudaram em 26 de março a afastar o avanço da 2ª Brigada da 1ª Divisão de Infantaria da Bulgária.[61] A ala esquerda da linha otomana começou a perseguir os búlgaros em 30 de março. Seu avanço teve o apoio de artilharia em terra e das armas do Barbaros Hayreddin; esta ação fez os otomanos conquistarem um quilômetro e meio até o anoitecer. Em resposta, a Bulgária trouxe a 1ª Brigada para a linha de frente, que derrotou os otomanos e os fez retornar até seu ponto de partida inicial.[62] O Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis, apoiados por navios menores, seguiram até Çanakkale em 11 de abril parar dar cobertura a distância para uma flotilha à procura de embarcações gregas. Os dois lados se enfrentaram de forma inconclusiva, com a frota principal otomana não realizando uma incursão até o confronto acabar.[63]

Primeira Guerra[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Campanha de Galípoli
Mapa mostrando as defesas terrestres otomanas em Dardanelos em 1915

A Primeira Guerra Mundial começou em julho de 1914 na Europa, porém o Império Otomano inicialmente permaneceu neutro. O Barbaros Hayreddin começou reformas em Constantinopla em 3 de agosto; engenheiros alemães o inspecionaram junto com outros navios e descobriram que todos estavam em péssimo estado. Os reparos não puderam ser realizados devido ao estado de tensão, com apenas suprimentos de munição, carvão e outros sendo carregados.[64] As ações do cruzador de batalha alemão Goeben, que havia sido transferido para os otomanos e renomeado Yavuz Sultan Selim, resultaram em declarações de guerra da Rússia, França e Reino Unido.[65] Algumas das armas do couraçado foram removidas entre 1914 e 1915 e empregadas como canhões costeiros com o objetivo de fortalecer as defesas de Dardanelos.[58] Enquanto isso ele foi usado como bateria de artilharia flutuante na base do Cabo Nara, junto com o Turgut Reis. As embarcações no começo foram imobilizadas, porém carvão foi deixado em suas caldeiras para se movimentarem mais rapidamente a medida que crescia a ameaça de submarinos britânicos.[66]

O Barbaros Hayreddin voltou para Constantinopla em 11 de março de 1915; o alto comando otomano decidiu que os dois couraçados não eram necessários o tempo todo. Assim os dois alternaram-se em viagens para a capital no decorrer dos meses seguintes. Os dois navios bombardearam desembarques britânicos em 25 de abril no primeiro dia da Campanha de Galípoli. O Barbaros Hayreddin disparou catorze projéteis com sucesso, porém o décimo quinto explodiu dentro do canhão da torre central, destruindo a arma. Um incidente semelhante ocorreu no Turgut Reis em junho, assim as duas embarcações foram recuadas. Os britânicos desembarcaram mais tropas em Suvla no dia 7 de agosto, fazendo com que o alto comando despachasse o Barbaros Hayreddin para apoiar as defesas otomanas. Além disso, ele foi carregado com uma quantidade grande o bastante de munição para reabastecer o Quinto Exército que estava lutando na campanha.[67] O couraçado foi interceptado pelo submarino britânico HMS E11 perto de Bulair no Mar de Mármara, estando escoltado por um único barco torpedeiro.[58][68] O submarino acertou o Barbaros Hayreddin com um torpedo;[2] ele emborcou sete minutos depois, porém continuou flutuando por mais alguns minutos até afundar por completo. 21 oficias e 237 marinheiros morreram. O resto da tripulação foi resgatada por sua escolta e por outro torpedeiro que estava patrulhando a área.[64]

Referências[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Na época de sua construção, a marinha alemã se referia a embarcação como um "navio blindado" (panzerschiffe), não como couraçado (schlachtschiff).[1]
  2. Na nomenclatura da Marinha Imperial Alemã, "K" significa Kanone (canhão), enquanto L/40 indica o comprimento do canhão. Neste caso, L/40 é uma arma de calibre 40, significando que o comprimento do tubo do canhão era quarenta vezes maior que o diâmetro interno.[4]
  3. Todos os navios alemães eram encomendadas sob nomes provisórios. Novas adições à frota recebiam uma letra como designação, enquanto aqueles que substituiriam embarcações antigas eram nomeados "Ersatz (nome do navio)". O navio seria comissionado com seu nome final assim que fosse finalizado.[5]
  4. A Marinha Imperial tipicamente organizava seus couraçados em esquadras de oito navios,[33] subdivididos em duas divisões de quatro embarcações, cada uma com sua própria capitânia. A capitânia da primeira divisão também servia como capitânia da esquadra, enquanto a capitânia da segunda divisão servia como a segunda capitânia de comando.[34][35]

Citações

  1. a b c d e f Gröner 1990, p. 13
  2. a b c d Hore 2006, p. 66
  3. Sondhaus 1997, pp. 179–181
  4. Grießmer 1999, p. 177
  5. Gröner 1990, p. 56
  6. a b Gardiner, Chesneau & Kolesnik 1979, p. 247
  7. a b c Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 174
  8. Weir 1992, p. 23
  9. Gardiner & Gray 1985, p. 141
  10. Herwig 1998, p. 45
  11. Sweetman 1997, p. 401
  12. Philbin III 1982, p. 94
  13. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 175
  14. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, pp. 175–176
  15. a b Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 176
  16. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 75
  17. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, pp. 176–177
  18. a b Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 178
  19. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 179
  20. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, pp. 180–181
  21. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, pp. 181–183
  22. a b Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 183
  23. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, pp. 184–185
  24. a b Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 186
  25. Holborn 1982, p. 311
  26. Perry 2001, p. 28
  27. Herwig 1998, p. 106
  28. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, pp. 186–187
  29. a b Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 187
  30. Sondhaus 2001, p. 186
  31. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, pp. 188–189
  32. Herwig 1998, p. 103
  33. Gardiner & Gray 1985, p. 135
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  35. Hildebrand, Röhr & Steinmetz 1993, p. 41
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  54. a b c d Fotakis 2005, p. 50
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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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Ligações externas[editar | editar código-fonte]