Ronald Augusto

Ronald Augusto
Nome completo Ronald Augusto da Costa
Nascimento 4 de agosto de 1961
Rio Grande
Residência Porto Alegre
Nacionalidade brasileiro
Ocupação
Principais trabalhos Cair de costas (2012)
Empresto do visitante (2013)
Nem raro nem claro (2015)
Género literário Poesia
Escola/tradição Contemporâneo

Ronald Augusto da Costa (Rio Grande, 4 de agosto de 1961) é um poeta experimental, inicialmente ligado à poesia marginal, crítico de poesia, editor, professor, músico e letrista do Rio Grande do Sul, sendo um dos editores associados ao website Sibila, criado pelo poeta Charles Bernstein e por Régis Bonvicino, além de ser notabilizado por seus estudos sobre literatura negra.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Tendo nascido na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, Ronald Augusto passou sua infância no Rio de Janeiro, em Niterói. Sua mãe era poeta e costumava ler suas composições para ele, o filho mais velho, quando este tinha 12 ou 13 anos de idade. Apesar de, na época, considerar a experiência um tanto desagradável, cerca de três anos depois, Ronald começa a escrever poesia.

Seus primeiros poemas eram motivados, simplesmente, pelas paixões da adolescência, época em que escrevia muito e lia somente ao poeta Manuel Bandeira. Assumindo uma postura mais crítica em relação a seus próprios escritos, o poeta resolve participar, em seguida, de concursos literários, recebendo “menção de destaque" num certame que envolvia várias etapas ao longo de um ano, o extinto Prêmio Apesul Revelação Literária, no seu Estado natal, em 1979, sendo o júri então composto pelos poetas Mário Quintana, Heitor Saldanha e Carlos Nejar. Como prêmio, o seu poema é publicado, o primeiro do autor em livro impresso, sendo que o autor já produzia artesanalmente livros fotocopiados, herdeiro que era da chamada poesia marginal no Brasil.

Nesta época de poeta marginal, em pleno regime militar, juntamente a outros poetas independentes como ele, participava de intervenções na Feira do Livro em Porto Alegre, sendo as manifestações do grupo reprimidas pelos seguranças da Feira, que terminavam por expulsá-los, apesar da soliedariedade por vezes prestada por poetas mais conhecidos, como Heitor Saldanha.

Posteriormente, já leitor e admirador de autores como Dante, João Cabral de Melo Neto , Machado de Assis, Décio Pignatari e Ezra Pound, na época dos seus 30 anos de idade, o poeta foi viver em Salvador, na Bahia, durante três anos.[1]

Atualmente, vivendo em Porto Alegre, sendo co-editor, ao lado de Ronaldo Machado, da Editora Éblis, além de editor associado à Sibila, site de poesia criado por Charles Bernstein e Régis Bonvicino [2], realizando trabalho crítico, Ronald Augusto também desenvolve um trabalho com música, junto aos também poetas e músicos Alexandre Brito e Ricardo Silvestrin, na banda os poETs. Além disso, realiza palestras e oficinas/cursos abordando assuntos como música e poesia contemporânea e visual [3]

A poesia, a crítica e a repercussão da obra[editar | editar código-fonte]

Tendo a sua principal formação como poeta se dado durante a década de 1980, Ronald Augusto pertence a uma geração que é também herdeira direta da chamada Geração mimeógrafo. Os teóricos de estética costumavam, convencionalmente, classificar este momento da literatura dentro do período pós-moderno, e considerando-se como seus traços “uma construção poética que se espoja num pastiche tanto do passado como de um futuro algo cínico”, usando palavras do próprio Ronald Augusto, pode-se considerá-lo um poeta que inicia dentro daquela tendência pós-modernista, muitos dos seus poemas assemelhando-se a colagens de vocábulos, ditos, referências. Tendo, também, como referências as obras de Pound e Dante, considerando-se que a poesia pós-moderna, assim como conceituou Charles Olson, se define como uma obra que traz para a contemporaneidade elementos de uma tradição mais remota, o poeta Ronald ainda estaria dentro desta classificação, redutora como qualquer, com fins didáticos.[4]

Sendo, no entanto, uma poesia que tem como principal divisa a experimentação, a obra do poeta, lembrando muitas vezes “construções” ou “desconstruções” dadaístas, pode inscrever-se naquilo que o poeta Claudio Willer definiu como Segunda vanguarda [5] , uma reafirmação das estéticas vanguardistas do início do século XX, e que é verificada internacionalmente a partir da década de 1950, ou, conforme as palavras de Marjorie Perloff, uma poesia de “retaguarda”, que consolida as experiências das vanguardas históricas[6].

Uma das principais características, facilmente reconhecíveis na obra poética de Ronald (em seus poemas mais voltados para a expressão verbal), sendo recursos explorados primeiramente pelas vanguardas históricas, é a absoluta ausência de pontuação e de maiúsculas nos inícios dos versos, ou linhas, fazendo, raramente, o uso de sinais gráficos como os parêntesis, os quais resultam em um efeito icônico. Explorando, em sua poesia verbal, em certos momentos, recursos visuais e produzindo, inclusive, em outros momentos, poemas visuais, seu trabalho, no entanto, difere em muito da objetividade e do discurso direto concretista [7][8].

Cândido Rolim, no ensaio “Poesia anti-proeza”, falando da poesia mais característica e original de Ronald Augusto, classifica a sua poesia como “arena de impasses significantes” , “dispersivo discurso transgressor” que busca uma “constante mudança de foco” [9]. De fato, muitos elementos do significante parecem ter uma posição permutável nas estruturas maiores a que pertencem, dentro de alguns dos poemas de Ronald, o próprio sentido parecendo mudar a todo instante.[10] Seria, de fato, semelhante a um “discurso instável”, como definido por José Saramago, o discurso feito de "palavras encostadas umas às outras, em equilíbrio instável graças a uma precária sintaxe, até ao prego final do disse ou tenho dito" [11], com a diferença, talvez, que o discurso de Ronald , em alguns casos, não se completa, sendo uma espécie de “work in progress”. Todo este complexo torneamento sintático poderia provir, na verdade, da influência do simbolista/vanguardista francês Stéphane Mallarmé, citado por Ronald como um dos seus referenciais, além de Bandeira, Pound e Dante[12].

Criando uma espécie de mescla entre o que pode soar familiar e o que pode soar estranho ao leitor, usando elementos tradicionais da cultura afro-brasileira, da oralidade, e de elementos eruditos, o poeta produziria um trabalho hermético, como se fosse escrito em uma língua estranha, causando o conhecido efeito de "estranhamento"[7].

Em se tratando da materialidade dos seus poemas, observa-se, ainda, no trabalho de Ronald, conforme opinião crítica de Prisca Agustoni de Almeida Pereira, o “cuidado com a sonoridade ..., nem tanto no desejo de prende-los em rimas ou esquemas tradicionais, mas na tentativa de reproduzir aberturas à maneira das jam session, sem cair em virtuosismos ... e deixando fluir os improvisos ao gosto tenso da fala” [13].

Apesar da possível leitura desconfortável dos seus poemas, provocada pelo contínuo experimentalismo verbal de Ronald, o poeta vem alcançando expressividade no cenário nacional e mundial. Alguns críticos, como Régis Bonvicino, vêm o considerando um dos melhores poetas brasileiros das últimas gerações[14]. Seus poemas já foram publicados em revistas literárias internacionais, tais como a revista americana Callaloo: African Brasilian Literature: a special issue EUA (1995), traduzidos para o inglês, e na revista alemã Dichtungsring Zeitschrift für Literatur, traduzidos para o alemão, entre outras.[15] [16].

Quanto ao seu trabalho teórico, à primeira vista percebe-se que algumas das principais temáticas de Ronald Augusto (ou seja, algumas das mais trabalhadas por este)[17][18][19] referem-se à poesia contemporânea e, direta ou indiretamente, à literatura negra, especialmente a brasileira. Possui numerosos artigos publicados sobre a obra de Cruz e Sousa, sobre a poesia concreta e sobre a poesia negra brasileira. Entre essas publicações um estudo referente à obra de Cruz e Sousa mereceu destaque e, por este trabalho, o poeta-crítico recebeu a Medalha de Mérito conferida pela Comissão Estadual para Celebração do Centenário de Morte de Cruz e Sousa, em 1998, criada pelo Estado de Santa Catarina.[20]. Artigos e/ou ensaios de sua autoria sobre poesia vem sendo publicados em jornais, revistas e sites de literatura do Brasil, tais como: Babel (SC/SP), Porto & Vírgula (RS), Morcego Cego (SC), Suplemento Cultural do Jornal A Tarde (BA), Caderno de Cultura do Diário Catarinense (SC), Zero Hora (RS), Todapalavra, Slope, Sibila, entre outros.

Prêmios[editar | editar código-fonte]

  • Prêmio Apesul Revelação Literária em 1979.
  • Medalha de Mérito conferida pela Comissão Estadual para Celebração do Centenário de Morte de Cruz e Sousa, Estado de Santa Catarina, por estudo referente à obra do poeta negro catarinense, em 1998.
  • Troféu Vasco Prado conferido pela 9ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, em agosto de 2001.

Obras[editar | editar código-fonte]

  • Negro 3 X negro, co-autoria Paulo Ricardo de Moraes, Jaime da Silva. Porto Alegre, 1992.
  • Homem ao Rubro. Editção Grupo Pró-texto. Porto Alegre, 1983.
  • Disco, co-autoria Hingo Weber. Contravez. Porto Alegre, 1986.
  • Puya. Edição do autor.Porto Alegre, 1987.
  • Kânhamo. Edição do autor. Porto Alegre, 1987,
  • Puya (1987), Editora Biblos. Porto Alegre, 1992.
  • Vá de Valha. Coleção Petit Poa. SMC. Porto Alegre, 1992.
  • Confissões Aplicadas. Editora Ameop. Porto Alegre, 2004.
  • No assoalho duro. Editora Éblis. Porto Alegre, 2007.
  • Cair de Costas. Editora Éblis. Poesia reunida. Porto Alegre, 2012.
  • Decupagens assim. Textos reunidos de publicações avulsas. Editora Letras Contemporâneas. Florianópolis, 2012.
  • E mais não digo. Editora Casa Verde. Porto Alegre, 2023.

Referências

  1. Entrevista com Ronald Augusto. Algaravária - Inédita Dissonância. 10/06/2006
  2. «Ronald Augusto (1961). Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes . 28/02/2010.». Consultado em 26 de outubro de 2010. Arquivado do original em 22 de setembro de 2010 
  3. Ronald Augusto. Artistas gaúchos. Ano III. Página visualizada em 26/10/2010.
  4. Pereira, Prisca Agustoni de Almeida. O Atlântico em Movimento: travessia, trânsito e transferência de signos entre África e Brasil na poesia contemporânea em língua portuguesa. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2007.[ligação inativa]
  5. «Willer, Cláudio. A segunda vanguarda. Revista Agulha. São Paulo/ Fortaleza. março/abril de 2006.». Consultado em 26 de outubro de 2010. Arquivado do original em 6 de setembro de 2010 
  6. «Cícero, Antonio. As vanguardas e a tradição. Portal Cronópios. 20/4/2008.». Consultado em 26 de outubro de 2010. Arquivado do original em 3 de maio de 2008 
  7. a b Vaz, Zélia Maria de N. Neves. A poética do estranhamento e a afro-brasilidade na produção de Ronald Augusto. Literafro. UFMG. Página visualizada em 26/10/2010.[ligação inativa]
  8. Poemas visuais de Ronald Augusto. Revista Sibila - Poesia e Cultura. Página visualizada em 27/10/2010.
  9. «Rolim, Cândido. Poesia Anti-proeza. Revista Etcetera, Nº 22. 2008.». Consultado em 26 de outubro de 2010. Arquivado do original em 23 de março de 2009 
  10. «Rolim, Cândido. Ronald Augusto e as fissuras da linguagem. Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes. 28/02/2010.». Consultado em 26 de outubro de 2010. Arquivado do original em 9 de setembro de 2010 
  11. Saramago, José. As palavras. Deste Mundo e do Outro. Editorial Caminho, Lisboa, 4.ª edição, 1997.
  12. «Augusto, Ronald. Algumas perguntas para Ronald Augusto – parte II. Site O Café. Entrevista a João Pedro Wapler. 06/11/2011.». Consultado em 11 de novembro de 2011. Arquivado do original em 8 de fevereiro de 2012 
  13. «Ronald Augusto (1961). Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes . 27/02/2010». Consultado em 26 de outubro de 2010. Arquivado do original em 22 de setembro de 2010 
  14. Bonvicino, Régis. Régis Bonvicino Web Site. A improvável poesia das Américas. Página visualizada em 06/10/2010.
  15. Callaloo African Brazilian Literature: a special issue, vol. 18, n. 4, Baltimore: The Johns Hopkins University Press (1995).
  16. Dichtungsring — Zeitschrift für Literatur, Bonn (de 1992 a 2002, colaborações em diversos números).
  17. «Augusto, Ronald. Capítulos em defesa da (im)pertinência da poesia. Revista Sibila - Poesia e Cultura. Página visualizada em 02/11/2010.». Consultado em 2 de novembro de 2010. Arquivado do original em 21 de maio de 2011 
  18. «Augusto, Ronald. O estilizado Estive em Lisboa e lembrei de você, de Ruffato. Revista Sibila - Poesia e Cultura. Página visualizada em 02/11/2010.». Consultado em 2 de novembro de 2010. Arquivado do original em 10 de junho de 2010 
  19. «Augusto, Ronald. Cruz e Souza: Make it new.Revista Sibila - Poesia e Cultura. Página visualizada em 02/11/2010.». Consultado em 2 de novembro de 2010. Arquivado do original em 21 de maio de 2011 
  20. Ronald Augusto. Artistas gaúchos. Ano III. Página visualizada em 26/10/2010

Ligações externas[editar | editar código-fonte]