Relações entre Montenegro e Sérvia

Relações entre Montenegro e Sérvia
Bandeira de Montenegro   Bandeira da Sérvia
Mapa indicando localização de Montenegro e da Sérvia.
Mapa indicando localização de Montenegro e da Sérvia.

As relações entre Montenegro e Sérvia são as relações diplomáticas estabelecidas entre Montenegro e Sérvia. De 1918[1][2] até 2006[3][4] os dois estados estavam unidos sob o Reino da Iugoslávia, a República Socialista Federativa da Iugoslávia, a República Federal da Iugoslávia e Sérvia e Montenegro. Ao longo da história os montenegrinos frequentemente se declararam sérvios ou um subgrupo de sérvios.[5][6][7]

História[editar | editar código-fonte]

Petar II Petrović-Njegoš em 1851.

Pré-Iugoslávia[editar | editar código-fonte]

Antes da Iugoslávia existir, havia muito pouca distinção entre sérvios e montenegrinos visto que os dois povos em grande parte mantinham fidelidade à Igreja Ortodoxa Sérvia, o que influenciou diretamente na criação do Principado-Bispado de Montenegro, em 1697.[8][9][10] Petar II Petrović-Njegoš, um dos governantes históricos do teocrático Principado-Bispado de Montenegro, constituiu a literatura que viria a ser considerada a espinha dorsal da história da literatura sérvia.[11]

Primeira Guerra Mundial e anexação de Montenegro na Iugoslávia[editar | editar código-fonte]

Após o Congresso de Berlim reconhecer formalmente a independência de facto dos Estados soberanos, as relações foram melhorando até serem estabelecidas oficialmente em 1897. O Reino de Montenegro foi o mais próximo aliado da Sérvia na Primeira Guerra Mundial, até se render à Áustria-Hungria em 1916.[12]

Antes da Primeira Guerra Mundial, Montenegro e Sérvia foram de fato dois estados separados, mas não havia nenhuma animosidade entre seus dirigentes ou entre os seus habitantes. As coisas ficam mais complicadas em 1918, quando em uma votação no Parlamento de Montenegro, onde a questão da unificação do reino com a Sérvia foi decidida. Parte dos parlamentares se recusaram a união; estes, foram chamados de verdes porque seus nomes estavam em uma lista de papel verde. Enquanto os parlamentares pró-unionistas foram designados como brancos já que os seus nomes estavam, obviamente, em uma lista de papel branco.[13] Isso aconteceu porque os verdes eram minoria e, Montenegro se juntaria a união dos sérvios croatas e eslovenos.[13] Assim, Montenegro foi anexado e, posteriormente, declarado sob governança do Reino da Iugoslávia em 20 de dezembro de 1918.[14] Semanas depois desta data, os separatistas Montenegrinos Verdes sob Krsto Zrnov Popović iniciaram uma insurreição violenta contra unionistas pró-iugoslavos conhecida como a Revolta de Natal em 7 de janeiro de 1919.[15]

Segunda Guerra Mundial[editar | editar código-fonte]

Após a invasão da Iugoslávia, dois grupos de resistência desafiadores foram ativos nos territórios da Sérvia e Montenegro, os partisans iugoslavos e os Chetniks. Os sérvios e os montenegrinos constituíam 35% da composição étnica dos partisans iugoslavos na Segunda Guerra Mundial.[16] Os montenegrinos foram citados como tendo sido o segundo maior grupo dentro do movimento Chetnik depois dos sérvios.[17][18] Os Chetniks montenegrinos foram liderados e organizados em grande parte por Pavle Đurišić, um comandante polêmico que foi morto com seu exército pelos croatas colaboradores dos nazistas na Batalha do Campo de Lijevče.[19] Đurišić é considerado uma parte da história de Sérvia-Montenegro pois era um unionista sérvio-montenegrino, o que foi considerado ser a razão pela qual o separatista montenegrino Sekula Drljević auxiliou as forças Ustaša para matá-lo.[19]

Sérvia e Montenegro como estados membros da República Federal da Iugoslávia (1992-2003)[editar | editar código-fonte]

A Primeira República Sérvia e a República de Montenegro constituíram a República Federal da Iugoslávia durante a dissolução da Iugoslávia.[20] Montenegro permaneceu uma parte da Iugoslávia após uma esmagadora maioria da população votar pela unidade com a Sérvia em 1992. Nesse meio tempo, a Sérvia e Montenegro desempenharam papéis similares durante as Guerras dos Bálcãs, visto que as forças armadas de Montenegro frequentemente lutaram contra os separatistas da Iugoslávia, a maior parte especialmente no Cerco de Dubrovnik.[21] Radovan Karadzic, ex-presidente da República Srpska durante a guerra, é muitas vezes confundido com um sérvio-bósnio, era na verdade da etnia Drobnjak e nasceu em Šavnik. Foi conhecido por ter apoiado num estado unido (que nunca se concretizou por inteiro[22]) entre a República Srpska, a Sérvia e Montenegro.[23] Ao longo de seu mandato, o presidente iugoslavo Slobodan Milošević designou vários políticos montenegrinos como Milo Đukanović e Svetozar Marović que cooperariam com o seu regime em grande parte[24][25] e, em seguida, o denunciariam anos mais tarde.[26][27] Em 4 de fevereiro de 2003, a República Federal da Iugoslávia mudou seu nome para Sérvia e Montenegro.[28] A Carta Constitucional da Sérvia e Montenegro, a alterada Constituição da anterior República Federal, permitiu que qualquer um dos dois estados membros realizasse um referendo sobre a independência, uma vez a cada três anos.[29]

Referendo de independência montenegrino (2006)[editar | editar código-fonte]

O último referendo sobre a independência em Montenegro foi realizado em 21 de maio de 2006.[30] Foi aprovado por 55,5% dos eleitores, passando por pouco o limite de 55% estabelecido pela União Europeia. Até 23 de maio, os resultados preliminares do referendo foram reconhecidos por todos os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, indicando o reconhecimento internacional generalizado de Montenegro uma vez que a independência seria formalmente declarada. No dia 31 de maio, a comissão do referendo confirmou oficialmente os resultados do referendo, verificando-se que 55,5% da população de eleitores montenegrinos votaram a favor da independência.[3][4] Milo Đukanović, o primeiro-ministro nacional na época, foi o líder do bloco pró-independência centrado em torno do Partido dos Socialistas Democráticos de Montenegro. Predrag Bulatović liderou a coalizão de partidos pró-unionistas durante a campanha do referendo.

Questão de Kosovo[editar | editar código-fonte]

Após a declaração de independência do Kosovo, a Sérvia expulsou o embaixador de Montenegro em outubro de 2008, após o reconhecimento montenegrino da independência do Kosovo. O primeiro-ministro montenegrino, Milo Đukanović rebateu a remoção forçada do seu colega de Belgrado, alegando que as relações entre os dois países tornaram-se "inaceitavelmente ruins".[31] Quase um ano depois, a Sérvia aceitou finalmente Igor Jovović para assumir o papel de novo embaixador montenegrino.[32]


Referências

  1. Montenegrins' Effort to Prevent Annexation of Their Country to Serbia
  2. «Serbs wipe out royalist party in Montenegro». Consultado em 21 de setembro de 2013. Arquivado do original em 2 de março de 2010 
  3. a b «Referendum Commission of Montenegro». Wayback Machine 
  4. a b «Electoral Commission official press release». Wayback Machine 
  5. Banac, Ivo (1992), Protiv straha : članci, izjave i javni nastupi, 1987-1992 (em Croatian), Zagreb: Slon, p. 14, OCLC 29027519, consultado em 12 de dezembro de 2011, Posebno je zanimljivo da su se i »zelenaši«,...., nacionalno smatrali Srbima" [it is especially interesting that Greens also ... declared themselves as Serbs] 
  6. Njegos.org - Srpska zemlja Crna Gora - Istorija Crne Gore na internetu (Prof. dr Djordje Vid Tomasevic, New York, USA
  7. Washington Free Press Archives. Retrieved May/June 1999.
  8. Victoria Clark, Why angels fall: a journey through Orthodox Europe from Byzantium to Kosovo, p. 93
  9. Robert Bideleux, Ian Jeffries, A history of eastern Europe: crisis and change, p. 86
  10. Anthony Trollope, Saint Pauls, Volume 5, p. 430
  11. Babamim Serbian History 101: Vladike Petrovic Njegos - Retrieved 2009.
  12. Visit-Montenegro - Istorija Crne Gore (History of Montenegro
  13. a b Catherine Lutard, Géopolitique de la Serbie Monténégro 1998, éditions Complexe (ISBN 2870276478), page 62
  14. Gligorijević, Branislav (1979) Parliament i političke stranke u Jugoslaviji 1919–1929 Institut za savremenu istoriju, Narodna knjiga, Belgrade, page ??, OCLC 6420325
  15. Slobodna Evropa - Bozicni ustanak izaziva kontroverze na 90. godisnjicu - 7 January 2010
  16. Ramet 1996, p. 153.
  17. Tomasevich (1975), p.171
  18. Pavlowitch (2007), p.112
  19. a b Tomasevich (1975), pp. 446–448
  20. 1999 CIA World Factbook: Serbia and Montenegro
  21. Investigative Summary. International Criminal Tribunal for the former Yugoslavia.
  22. The Independent - June 11, 1995 Milosevic retreats from Greater Serbia
  23. Daily report: East Europe, Issues 191-210. Front Cover United States. Foreign Broadcast Information Service. Pp. 38. (A recorded conversation between Branko Kostic and Srpska's President Radovan Karadzic, Kostic asks whether Karadzic wants Srpska to be an autonomous federal unit in federation with Serbia, Karadzic responds by saying that he wants complete unification of Srpska with Serbia as a unitary state similar to France.)
  24. Central European Political Studies Review The Making of Party Pluralism in Montenegro
  25. The Smartest Man In The Balkans, Radio Free Europe, October 17, 2008
  26. Inspirational quotes, words, sayings - Svetozar Marovic
  27. Washington Post - June 25, 1999 - Montenegro easing away from Serb Ally
  28. «Profile: Serbia and Montenegro». BBC News. 5 de junho de 2006 
  29. Worldstatesmen - Serbia Montenegro Constitution 2003 PDF
  30. Nohlen, D & Stöver, P (2010) Elections in Europe: A data handbook, p1372 ISBN 978-3-8329-5609-7
  31. Press Online - Vesti 1 February 2009 - Djukanovic: Odnosi Crne Gore i Srbije nedopustivo losi
  32. Tadić primio akreditivna pisma novoimenovanih ambasadora (VIDEO)