Rebelião da Ilha Anchieta

Rebelião da Ilha Anchieta
Rebelião da Ilha Anchieta
Ruínas do presídio
Participantes Detentos
Forças policiais federais e estaduais
Localização Ilha Anchieta, litoral norte do estado de São Paulo
Data 20 de junho de 1952 (71 anos)
Resultado 118 mortos (108 detentos, oito soldados e dois funcionários)

Rebelião da Ilha Anchieta foi um confronto ocorrido em 20 de junho de 1952, entre as forças policiais brasileiras e prisioneiros que tentaram escapar do presídio que existia, na época, na Ilha Anchieta, litoral norte do estado de São Paulo. O episódio foi uma das maiores rebeliões de prisioneiros da história, ficando conhecida como a "rebelião da Alcatraz brasileira".[1][nota 1]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

A colônia penal na ilha foi fundada em 1908, com o nome de "Colônia Correcional da Ilha dos Porcos" e abrigava presos comuns e menores infratores. Na década de 30, recebeu presos políticos da ditadura Vargas. Já tinha acontecido uma revolta em 1933, em que cerca de cem presos depredaram as instalações e tomaram o controle da guarda. Contudo, a situação foi controlada, não havendo mortos. Em 1934, em homenagem ao quarto centenário de nascimento de José de Anchieta, a Ilha dos Porcos recebeu o nome de Ilha Anchieta e o nome da colônia penal passou a ser "Colônia Correcional da Ilha Anchieta".[2]

Em 1952, a prisão abrigava os criminosos mais perigosos do estado de São Paulo. Eram 453 presos no dia da rebelião, vigiados por um contingente de cinquenta policiais. A ação foi planejada com antecedência e os detalhes arquitetados pelo líder Álvaro da Conceição Carvalho Farto, alcunhado de "Portuga", que chegou a pedir para ir para o isolamento, alegando estar sendo "ameaçado" por outros presos, apenas para ter mais tranquilidade para estudar os detalhes da ação.[3] Durante muito tempo, orientados por outro líder, João Pereira Lima, alcunhado de "Pernambuco", os detentos buscaram ganhar a confiança dos policiais e seus familiares moradores da ilha, visando facilitar a ação, no momento oportuno.[4][5]

Rebelião[editar | editar código-fonte]

O dia escolhido para a ação foi 20 de junho de 1952, pela manhã, quando 117 presos foram buscar lenha, acompanhados de apenas dois soldados. Naquele dia, por volta das 12 horas, chegaria uma embarcação, chamada Ubatubinha vinda de Santos, trazendo mantimentos, como sempre acontecia uma vez por mês.[6] Os presos planejavam tomá-la de assalto para fugir da ilha. Um dos soldados que acompanhavam os presos foi morto e o outro dominado. Os detentos retornaram ao presídio, onde se confrontaram em um tiroteio com os demais soldados. Neste confronto morreram doze detentos, dois funcionários e seis soldados, incluindo o armeiro, morto por "Pernambuco", que comandou a ação. Os detentos invadiram a reserva de armas e se apoderaram de fuzis, mosquetões, metralhadoras, revólveres e farta munição.[7]

Ruínas de uma das celas

Todas as celas foram abertas, libertando os demais detentos que estavam confinados. O plano era fugir na embarcação que chegaria pouco depois. A distância entre a ilha e o continente é de cerca de seiscentos metros. Mas a ação não aconteceu como o planejado, pois os criminosos, embriagados, circulavam armados pela ilha e a tripulação da embarcação percebeu que havia algo errado, decidindo não atracar na ilha. Os rebelados tentaram então fugir em barcos menores, o maior deles era uma lancha chamada "Carneiro da Fonte", com capacidade para cinquenta pessoas. Foi lançado ao mar levando mais de noventa detentos, começando a afundar pelo excesso de peso e alguns feridos foram jogados no mar. Aquelas águas tinham muitos tubarões e o sangue os atraiu. Dezenas de fugitivos morreram atacados pelos tubarões, outros baleados pela polícia ou pelos próprios companheiros. Ao chegar no continente, na praia de Ubatumirim, a lancha encalhou e ficou danificada. Muitos foragidos conseguiram chegar em terra nadando e se embrenharam na mata. O presídio foi incendiado pelos detentos, antes da fuga. Muitos também embarcaram em canoas menores, conseguindo chegar ao continente. Os que ficaram na ilha, renderam-se e a situação foi controlada pelos policiais.[7]

Um forte aparato foi preparado para recapturar os fugitivos, envolvendo a Marinha, Exército e Aeronáutica, além das forças policiais de São Paulo e Rio de Janeiro, em uma ação que durou vários dias. A maioria dos fugitivos foi recapturada na Serra do Mar, nas regiões de Caraguatatuba, Ubatuba e Paraty. De um total de 129 detentos que conseguiram fugir, seis nunca foram recapturados. A rebelião deixou ao todo 118 mortos, sendo 108 presos, oito policiais e dois funcionários. Este número de presos mortos em uma rebelião só seria superado quase quarenta anos depois, na rebelião conhecida como o Massacre do Carandiru, em que morreram 111 presos.[2][7]

Três anos depois, em 1955, o presídio da Ilha Anchieta foi desativado e os presos transferidos para a Casa de Custódia de Taubaté, presídio de segurança máxima onde, décadas depois surgiria a facção criminosa denominada Primeiro Comando da Capital.[1]

Em 29 de de março de 1977, a ilha passou a ser área de proteção ambiental, com a criação do Parque Estadual da Ilha Anchieta.[8]

Na mídia[editar | editar código-fonte]

Na literatura[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Alcatraz é uma ilha localizada na Baía de São Francisco, Califórnia, Estados Unidos. que foi uma prisão de segurança máxima entre 1934 e 1963

Referências

  1. a b Artur Rodrigues (24 de junho de 2012). «Rebelião da 'Alcatraz brasileira' faz 60 anos». O Estado de São Paulo. Consultado em 8 de outubro de 2015. Cópia arquivada em 8 de outubro de 2015 
  2. a b «Massacre da Ilha Anchieta completa 60 anos». Acervo d'O Estado de São Paulo. 22 de junho de 2012. Cópia arquivada em 8 de outubro de 2015 
  3. FERREIRA, Ramiro dos Santos (2008). Clube dos Autores, ed. Homens De Azul. [S.l.: s.n.] p. 181. 200 páginas 
  4. «Ilha Anchieta – as ruínas da 'Alcatraz brasileira', palco da maior rebelião da história». Arquivado do original em 9 de novembro de 2013 
  5. «Relembrando 51 anos da Rebelião da Ilha Anchieta». Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  6. FERREIRA, Ramiro dos Santos (2008). Clube dos Autores, ed. Homens De Azul. [S.l.: s.n.] p. 182. 200 páginas 
  7. a b c OLIVEIRA, Samuel Messias de. Ilha Anchieta – Rebelião, Fatos e Lendas. [S.l.: s.n.] 223 páginas. ISBN 9788590516750 
  8. Decreto n° 9.629, de 29/03/1977 Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
  9. «Catálogo de Livros (Pop: 592339)». Fundação Biblioteca Nacional. Arquivado do original em 25 de outubro de 2015