Rainer Maria Rilke

Rainer Maria Rilke
Rainer Maria Rilke
Rilke em 1900, aos 24 anos de idade
Nome completo René Karl Wilhelm Johann Josef Maria Rilke
Nascimento 4 de dezembro de 1875
Praga, Império Austro-Húngaro, atual Chéquia
Morte 29 de dezembro de 1926 (51 anos)
Montreux, Suíça
Nacionalidade Austríaco
Cônjuge Clara Westhoff (1901, 1 filha)
Ocupação Poeta e novelista
Magnum opus As Elegias de Duíno
Assinatura

René Karl Wilhelm Johann Josef Maria Rilke (Praga, Império Austro-Húngaro, atual República Tcheca, 4 de dezembro de 1875—Valmont, Suíça, 29 de dezembro de 1926), mais conhecido como Rainer Maria Rilke (alemão: [ˈʁaɪnɐ maˈʁiːa ˈʁɪlkə]), ou por vezes também Rainer Maria von Rilke, foi um poeta e romancista austríaco. Ele é "amplamente reconhecido como um dos poetas de língua alemã mais liricamente intensos".[1] Ele escreveu versos e prosa altamente lírica.[1] Vários críticos descreveram o trabalho de Rilke como "místico".[2][3] Seus escritos incluem um romance, várias coleções de poesia e vários volumes de correspondência em que invoca imagens que focalizam a dificuldade de comunhão com o inefável em uma época de descrença, solidão e ansiedade. Esses temas o posicionam como uma figura de transição entre escritores tradicionais e modernistas.

Rilke viajou extensivamente por toda a Europa (incluindo Rússia, Espanha, Alemanha, França e Itália) e, em seus últimos anos, estabeleceu-se na Suíça—cenários que foram fundamentais para a gênese e inspiração de muitos de seus poemas. Embora Rilke seja mais conhecido por suas contribuições à literatura alemã, mais de 400 poemas foram originalmente escritos em francês e dedicados ao cantão de Valais, na Suíça. Suas obras mais conhecidas incluem as coleções de poesia Elegias de Duino (Duineser Elegien) e Sonetos a Orfeu (Die Sonette an Orpheus), o romance semiautobiográfico Os Cadernos de Malte Laurids Brigge (Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge), e uma coletânea de dez cartas que foi publicada após sua morte sob o título Cartas a um Jovem Poeta (Briefe an einen jungen Dichter). No final do século XX, seu trabalho encontrou novas audiências através do uso de teólogos da Nova Era e autores de autoajuda,[4][5][6] além de citações frequentes por programas de televisão, livros e filmes.[7] Nos Estados Unidos, Rilke permanece entre os poetas mais populares e mais vendidos.[8]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Praga, na Boémia, (atual Chéquia), então pertencente ao Império Austro-Húngaro, e mudou seu nome, originalmente René, para Rainer.

Rilke fez seus estudos nas universidades de Praga, Munique e Berlim. Em 1894 fez sua primeira publicação, uma coleção de versos de amor, intitulados Vida e canções (Leben und Lieder).

Rilke conheceu e se apaixonou pela viajada e intelectual mulher de letras Lou Andreas-Salomé em 1897 em Munique. Ele mudou seu primeiro nome de "René" para "Rainer" por insistência de Salomé porque ela achava que esse nome era mais masculino, forte e germânico.[9] Seu relacionamento com essa mulher casada, com quem realizou duas extensas viagens à Rússia, durou até 1900. Mesmo após a separação, Salomé continuou sendo a confidente mais importante de Rilke até o fim de sua vida. Tendo treinado de 1912 a 1913 como psicanalista com Sigmund Freud, ela compartilhou seus conhecimentos de psicanálise com Rilke.[10]

Rainer Maria Rilke por Emil Orlik (1917)

Em 1898, Rilke empreendeu uma viagem de várias semanas para a Itália. No ano seguinte, a convite de Lou, ele viajou acompanhado por esta e seu marido, Friedrich Carl Andreas, para Moscou, onde conheceu o romancista Liev Tolstói. Entre maio e agosto de 1900, uma segunda viagem à Rússia, acompanhado apenas por Lou, novamente o levou a Moscou e São Petersburgo, onde conheceu a família de Boris Pasternak e Spiridon Drozhzhin, um poeta camponês. A autora Anna A. Tavis cita as culturas da Boêmia e da Rússia como as principais influências na poesia e na consciência de Rilke.[11] Sua passagem pela Rússia imprimiu uma inspiração religiosa em seus poemas. Rilke passou a enxergar a natureza, dadas as dimensões e exuberância das paisagens russas, como manifestação divina presente em todas as coisas. Sobre este aspecto publicou em 1900 a coleção Histórias do bom Deus.

Em 1901, casou com Clara Westhoff, de quem logo se separou. O século XX trouxe para a poesia de Rilke um afastamento do lirismo e dos simbolistas franceses com os quais ele se identificara. Em 1905, publicou O Livro das Horas de grande repercussão à época. Nesta obra, seus poemas já apresentavam um estilo concreto, bem característico desta sua fase.

Em 1902, foi para Paris, onde trabalhou como secretário do escultor Auguste Rodin entre 1905 a 1906. Rodin exerceu grande influência sobre o poema de Rilke, que se reflete em suas publicações de 1907 a 1908.

Rilke, por Paula Modersohn-Becker (1906)

Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, em 1914, Rilke morava em Munique e lá permaneceu durante todo o conflito. Antes de se mudar para Munique, ele viveu na região do Trieste e publicou, em 1913, a A vida de Maria (Das Merien Leben) e iniciou a redação de Elegias de Duíno (Duineser Elegien), texto que só viria a ser publicado em 1923. Duíno era um castelo na região de Trieste, Itália, onde Rilke morou por dois anos antes da Guerra, a convite da princesa Maria von Thurn und Taxis. Após o conflito na Europa, Rilke mudou-se para a Suíça, a última de suas pátrias de eleição, onde viveu seus últimos anos.

Características literárias[editar | editar código-fonte]

Rilke possui uma obra original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra a união transcendental do mundo e do homem, numa espécie de "espaço cósmico interior".

Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira metade do século XX.

Sua obra foi influenciada pelo Expressionismo e influenciou muitos autores e intelectuais de diversas partes do mundo.

Obras principais[editar | editar código-fonte]

  • Leben und Lieder (Vida e Canções) - 1894
  • Geldbaum - 1901
  • Das Buch der Bilder (O Livro das Imagens) - 1902
  • Die Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke - 1904 (A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke, tradução de Cecilia Meireles, Ilustrações de Arpad Szenes, 1947)
  • Stundenbuch (O Livro das Horas) - 1905
  • Neue Gedichte (Novos Poemas) - 1907-1908. Neles figuram os Ding-Gedichte (Poemas objetivos), e entre eles o “Archaischer Torso Apollos” (Torso Arcaico de Apolo), traduzido no Brasil por Manuel Bandeira.
  • Das Marien Leben (A Vida de Maria) - 1913
  • Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge (Os Cadernos de Malte Laurids Brigge) - 1910
  • Duineser Elegien (Elegias de Duíno) - 1923
  • Sonette an Orpheus (Sonetos a Orfeu) - 1923
  • Briefe an einen jungen Dichter (Cartas a um Jovem Poeta) - 1929 – publicação póstuma.

Referências

  1. a b Foundation, Poetry (2 de dezembro de 2022). «Rainer Maria Rilke». Poetry Foundation (em inglês). Consultado em 2 de dezembro de 2022 
  2. Ver Müller, Hans Rudolf. Rainer Maria Rilke als Mystiker: Bekenntnis und Lebensdeutung in Rilkes Dichtungen (Berlin: Furche 1935). Ver também Stanley, Patricia H. "Rilke's Duino Elegies: An Alternative Approach to the Study of Mysticism" in Heep, Hartmut (editor). Unreading Rilke: Unorthodox Approaches to a Cultural Myth (New York: Peter Lang 2000).
  3. Freedman 1998, p. 515.
  4. Komar, Kathleen L. "Rilke: Metaphysics in a New Age" in Bauschinger, Sigrid and Cocalis, Susan. Rilke-Rezeptionen: Rilke Reconsidered (Tübingen/Basel: Franke, 1995), pp. 155–169. Rilke reinterpreted "as a master who can lead us to a more fulfilled and less anxious life".
  5. Komar, Kathleen L. "Rethinking Rilke's Duisiner Elegien at the End of the Millennium" in Metzger, Erika A. A Companion to the Works of Rainer Maria Rilke (Rochester, New York: Camden House, 2004), pp. 188–189.
  6. Ver também: Mood, John. Rilke on Love and Other Difficulties (New York: W. W. Norton & Company, 1975); e Insel Verlag, Hauschild, Vera (ed.), Rilke für Gestreßte (Frankfurt am Main: Insel-Verlag, 1998).
  7. Komar, Kathleen L. "Rethinking Rilke's Duisiner Elegien at the End of the Millennium" in Metzger, Erika A., A Companion to the Works of Rainer Maria Rilke (Rochester, New York: Camden House, 2004), 189.
  8. Komar, Kathleen L. "Rilke in America: A Poet Re-Created" in Heep, Hartmut (editor). Unreading Rilke: Unorthodox Approaches to a Cultural Myth (New York: Peter Lang, 2000), pp. 155–178.
  9. Arana, R. Victoria (2008). The Facts on File Companion to World Poetry: 1900 to the Present. [S.l.]: Infobase. ISBN 978-0-8160-6457-1 
  10. Ferreira, Luzilá Gonçalves (2000). Humana, demasiado humana. Rio de Janeiro: Rocco 
  11. Anna A. Tavis. Rilke's Russia: A Cultural Encounter. Northwestern University Press, 1997. ISBN 0-8101-1466-6.

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Rios Bonfim, Rita (2011). Poemas e Pedras. Poesia em Pedra. Uma abordagem da correspondência entre a poesia e a escultura com base em obras de Rodin e Rilke. São Paulo: Edusp. ISBN 9788531412394 

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