Produção de café no Brasil

Mapa mostrando os principais estados produtores

A Produção de café no Brasil é responsável por cerca de um terço da produção mundial de café,[1] o que faz o país ser de longe o maior produtor - uma posição mantida nos últimos 150 anos.[2][3] Em 2012 foram produzidas 50 milhões de sacas, totalizando 3 milhões de toneladas.[4] Em 2009 foram produzidas 2,4 milhões de toneladas.[4] Em 2007 cerca de 70% da produção foi de café arábica,[5] e apenas 4,26% do café exportado em 2009 foi do tipo robusta.[6] O Brasil é, também, o maior exportador do mundo, mas sofre concorrência de países como Vietnã, Indonésia, Colômbia, Honduras, Etiópia, Peru, Índia, Guatemala e Uganda, países que estão entre os 10 maiores produtores.

Em 2018, o Brasil produziu 3,5 milhões de toneladas de café, sendo o maior produtor do mundo.[7] Os estados que mais produzem são, principalmente, Minas Gerais (33,46 milhões de sacas) e Espírito Santo (13,6 milhões de sacas), seguidos por São Paulo (6,15 milhões de sacas), Bahia (4,13 milhões de sacas), Rondônia (2,43 milhões de sacas) e Paraná (937,6 mil sacas).[8] Em 2020, Minas Gerais era o maior produtor de café arábica do país. Já o Espírito Santo era o maior produtor de café conillon.[9][10]

Introdução do cultivo e primórdios da cultura (1727–1850)[editar | editar código-fonte]

Primeiras Mudas de Café (1760), óleo sobre tela de Alfredo Norfini, Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

O cafeeiro não é nativo das Américas e sim das estepes da Etiópia, por isso ele deve ter sido artificialmente introduzido no Brasil. O primeiro pé de café teria sido plantado no estado do Pará, em 1729.

Imagens alusivas a produção cafeicultora brasileira nos anos1880s.

De acordo com a lenda, o governador do Brasil estaria procurando tomar uma parcela do mercado de café e teria enviado o sargento-mor Francisco de Melo Palheta para que roubasse sementes da Guiana Francesa, sob o pretexto de mediar uma disputa de fronteiras. Em vez de tentar penetrar nas fortemente guardadas fazendas de café, Palheta usou seu charme pessoal para persuadir a primeira-dama local. Incapaz de resistir, ela lhe deu uma muda da planta num jantar de Estado na sua despedida antes de voltar para o Brasil.[11][12][13]

O café apenas passa a ter importância nos mercados internacionais no decorrer do século XVIII, em que se transforma no principal alimento de luxo nos países do Ocidente, e é esse fato que estimula a sua cultura nas colônias tropicais da América e da Ásia. No entanto, o Brasil entra apenas tardiamente na lista dos grandes produtores, como explica Caio Prado Jr.:

"Apesar de sua relativa antiguidade no país, a cultura do café não representa nada de apreciável até os primeiros anos do século [XIX]. Disseminara-se largamente no país, do Pará a Santa Catarina, do litoral até o alto interior (Goiás); mas apesar dessa larga área de difusão geográfica, o cafeeiro tem uma expressão mínima no balanço da economia brasileira. Sua cultura, aliás, destina-se mais ao consumo doméstico das fazendas e propriedades em que se encontra. Comercialmente seu valor é quase nulo."[14]

E esse início tardio da produção de café para exportação se explica pela mineração no séc. XVIII, pois é apenas no fim desse século que vemos um "renascimento" agrícola no País, e durante esse período o açúcar ainda gozava da preferência dos agricultores. É somente com a "decadência das lavouras tradicionais" (cana-de-açúcar, algodão e tabaco), [que] vemos um "deslocamento da primazia econômica", do Nordeste para o Sudeste.[15] Outro fator que estimulou a produção de café brasileiro foi a independência dos Estados Unidos que fez com que aquela crescente nação evitasse a todo custo comprar produtos da sua antiga metrópole (os principais produtores no séc. XVIII eram as colônias asiáticas inglesas e holandesas).

Descascamento de café a pata do boi (1820), óleo sobre tela de Alfredo Norfini, Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

O ciclo do café no Brasil se iniciou, de fato, quando o desembargador João Castelo Branco mandou vir do Maranhão algumas sementes ou mudas, entre 1760 e 1762, para a Cidade do Rio de Janeiro. Das mudas, vingaram apenas umas que foram plantadas no quintal da casa em que ele residia, na ladeira do morro de Santo Antônio, num ponto próximo à hoje Imprensa Nacional, e outras nos terrenos do mosteiro de Santa Teresa, além de mais duas na horta do convento dos capuchinhos italianos, na rua dos Barbonos (primitivamente chamada "caminho dos Arcos da Carioca" e que tomou o nome então vulgar dos frades, depois conhecidos por "barbadinhos"), atualmente chamada de rua Evaristo da Veiga [16]. No século XIX, com a expansão da cafeicultura carioca para o Vale do Paraíba (inicialmente, Vassouras e entorno), a então Província do Rio de Janeiro se torna a província mais rica do Brasil e principal produtora de café do mundo. Entre 1835 e 1850, a produção fluminense/carioca de café sextuplicou e o Rio de Janeiro sozinho foi responsável por cerca de 80% da produção nacional de café e 40% da produção mundial, o equivalente na época a mais de 70% do PIB nacional brasileiro [1].

A indústria cafeeira dependia do trabalho escravo e na primeira metade do século XIX 1,5 milhão de escravos foram importados para o Brasil a fim de suprir as necessidades das plantações no Sudeste. Com a proibição do tráfico externo em 1850, os cafeicultores passaram progressivamente a contar com mão-de-obra imigrante europeia nas fazendas.[17]

Ciclo de 1857–68[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Ciclo do café

Durante todo o séc. XIX, a produção brasileira se deu num contexto de mercado livre, com os preços flutuando "sem apresentar qualquer tendência", sendo explicados em boa parte pelo movimento dos níveis gerais de preços, e mostrando um comportamento oscilatório devido a descompassos entre oferta e demanda.[18]

Em meados do século o Brasil já era o maior produtor mundial. Depois da Crise de 1857, os preços começam a subir graças à recuperação da demanda europeia e a limitações na oferta graças aos estragos na lavoura provocados pela mariposa-do-café e pelo encarecimento da mão de obra escrava, principalmente no Rio de Janeiro. Adicionada à estabilidade cambial do período, os altos preços incentivaram a expansão das lavouras.

Oeste Velho e Novo Oeste Paulista[editar | editar código-fonte]

Mapa ilustrativo da distribuição da Cultura do Café em 1901 no estado de São Paulo.

Foi na região do Vale do Paraíba que o café estabeleceu-se como forte produto da cadeia exportadora nacional, tornando o grão o principal produto exportado pelo país. Todavia, já nos idos de 1850, o esgotamento das áreas e a perda da fertilidade do solo, fez a produção expandir-se à região oeste do Rio de Janeiro, no Estado de São Paulo. As principais cidades dessa nova área de expansão foram Campinas, Limeira, Bragança Paulista e Amparo que, por muitos anos, foram as maiores produtoras nacionais. A denominação Oeste Velho advém dos fatos de tratar-se da primeira região expandida após o Vale do Paraíba paulista, bem como por conciliar estruturas agrário-sociais da área anterior com as das áreas paulistas mais à oeste. Conviveu com o trabalho escravo e do imigrante assalariado; seus fazendeiros possuíam uma mentalidade intermediária entre a Aristocracia cafeeira e a Burguesia do Café, a última predominante no Novo Oeste paulista, que tem na cidade de Ribeirão Preto sua maior exemplar.

Convênio de Taubaté[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Convênio de Taubaté

Durante o advento da República Velha, mais especificamente da "República Oligárquica", iniciada em 1894, o café já era o principal produto de comércio exterior do país, garantindo grande recebimento de divisas. Mas as dificuldades de comercialização, principalmente a partir da Crise de 1893 que atingiu severamente os Estados Unidos, um dos maiores consumidores, levaram a que fazendeiros e produtores recorressem à intervenção do governo federal, o que foi formalizada com o Convênio de Taubaté assinado em 1906 com os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com essa medida, o governo federal passou a agir diretamente no mercado de café e assegurava o apoio político e financeiro dos governadores das regiões produtoras. Essa intervenção do Estado em prol de uma classe de produtores rurais, aumentou no país a "concentração de renda"[19] e atrasou o desenvolvimento de outros setores, como o industrial, além de adiar o fim do "ciclo do café", que ocorreria apenas com a Revolução de 30. Posteriormente, o plantio de café se expandiu para o norte do Paraná por volta dos anos 50.[20]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Morganelli 2008, p. ix
  2. Neilson & Pritchard 2009, p. 102
  3. Em 2010 o Brasil respondeu por 36,14% da produção global, de acordo com dados da Organização Internacional do Café, obtidos em www.ico.org - pdf Arquivado em 16 de dezembro de 2011, no Wayback Machine., consultado em 12 de outubro de 2011.
  4. a b Organização Internacional do Café, www.ico.org - pdf Arquivado em 16 de dezembro de 2011, no Wayback Machine., acesso em 12 de outubro de 2011.
  5. Impacto, Antonio Sergio Souza, Agência; Cafeicultura, Revista. «Visão Produção Arábica e Robusta Por Alice Ane Moreira Moragado». Revista Cafeicultura. Consultado em 11 de dezembro de 2022 
  6. De acordo com dados de www.ico.org - pdf Arquivado em 16 de março de 2013, no Wayback Machine., acesso em 12 de outubro de 2011.
  7. «Agricultura do Brasil em 2018, pela FAO». FAO. Consultado em 19 de fevereiro de 2021 
  8. «Brasil deve ter produção de café 25% maior em 2020 e salto de 20% em produtividade». Revista Globo Rural. Consultado em 19 de fevereiro de 2021 
  9. IBGE prevê safra recorde de grãos em 2020
  10. A Reivenção da cafeicultura no Paraná
  11. Issamu Yamada, Jose. «Coffee and Brazil - How Coffee Molded the Culture of a Country». Consultado em 14 de julho de 2010 
  12. «Coffee legends». National Geographic Society. Consultado em 14 de julho de 2010 
  13. Morganelli 2006, p. 218
  14. Prado Jr., Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2008. Página 159
  15. Prado Jr.,Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2008. Cap. 16: Evolução Agrícola, pg. 157.
  16. «CCCRJ - O Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro». www.cccrj.com.br. Consultado em 18 de abril de 2018 
  17. Eakin 1998, p. não especificado.
  18. Delfim Netto, Antonio. O Problema do Café no Brasil. São Paulo: Editora UNESP, 2009. Págs. 15-17.
  19. NAGLE,Jorge - Educação e Sociedade na Primeira República - EPU/MEC - São Paulo - 1ª Reimpressão em 1976 - pg. 14
  20. A percepção na transformação da paisagem: os agricultores no desflorestamento de Engenheiro Beltrão – Paraná, 1948-1970

Bibliografia[editar | editar código-fonte]