O Prisioneiro da Grade de Ferro (Autorretratos)

Prisioneiro da Grade de Ferro (Autorretratos)
 Brasil
2003 •  cor •  123 min 
Género documentário
Direção Paulo Sacramento
Edição Idê Lacreta e Paulo Sacramento
Idioma português

O Prisioneiro da Grade de Ferro (Autorretratos) é um premiado documentário brasileiro de 2003, dirigido por Paulo Sacramento.[1] O título do filme é uma referência direta ao livro homônimo de Percival de Souza,[2] sobre a realidade interna das prisões brasileiras.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A partir de relatos de presos, o filme discute o sistema carcerário brasileiro, tendo como cenário a Casa de Detenção do Carandiru, um ano antes de sua demolição. O documentário resultou de uma oficina de vídeo e som, realizada durante sete meses, na Casa de Detenção, quando 20 detentos, autorizados pela direção do estabelecimento penal, aprenderam técnicas de captação de imagens, sons e roteirização para cinema.[3] A equipe de produção do filme era integrada também por profissionais de cinema. Embora nem todas as imagens tenham sido captadas pelos presos, e o processo de montagem tenha ficado a cargo dos realizadores, em boa parte do tempo, a câmera esteve nas mãos dos próprios detentos, que registraram, de forma clara e direta, seu cotidiano e as estratégias de sobrevivência - muitas vezes inusitadas e criativas - adotadas para manter sua integridade física e psíquica, na prisão. Ao mesmo tempo, são expostas as mazelas do sistema carcerário e do sistema penal como um todo, bem como a constante violação de direitos constitucionais básicos a que são submetidos os indivíduos presos.

Segundo o realizador, Paulo Sacramento, seu interesse por esses indivíduos destituídos do direito à liberdade surgiu a partir da abordagem superficial e sensacionalista, adotada pela mídia, para tratar os assuntos referentes à Casa de Detenção. Ao representar a vida dos presos, o diretor não pretende reduzi-los à posição de vítimas mas dar-lhes voz, com a menor mediação possível, proporcionando-lhes assim exercitar o direito de elaborar as próprias representações - de si mesmos e da realidade. Entendendo o conceito de cidadania como o direito a ter direitos, o realizador oferece a cada um dos autorretratados, a possibilidade de se apresentar como algo diverso do usual estereótipo desumanizante. Nas palavras de William da Silva Lima (1942-2019), um dos criadores do Comando Vermelho:
"Somos simplesmente assaltantes. Ou estelionatários. Ou homicidas. Entre os direitos que perdemos, se encontra o de sermos conhecidos pela totalidade das nossas ações, boas e más, como qualquer ser humano. O ato criminoso - o único devidamente divulgado e reproduzido nas fichas - define tudo o que somos, resumindo, de forma mágica, passado, presente e futuro." [4]

Prêmios[editar | editar código-fonte]

O filme obteve os seguintes prêmios:[3]

  • Prêmio da Crítica: Melhor Documentário Longa Metragem em 35mm" do 31º Festival de Gramado (2003)
  • Melhor Documentário: Competição Nacional e Internacional do Festival É Tudo Verdade (2003)[5]
  • Prêmio Especial do Júri do Festival do Rio (2003)
  • Menção Honrosa do júri Festival Internacional de Cinema do Uruguai (2004)
  • Melhor Documentário do 7º Festival de Málaga (Espanha), recebendo o troféu Biznaga de Plata e um prêmio de 12 mil euros.
  • Melhor Documentário - Opera Prima, no 8º Festival Internacional Latino-Americano de Cinema de Los Angeles
  • Melhor longa-metragem no 18º Festival Internacional de Cinema de Leeds (Inglaterra)
  • Melhor Diretor estreante em longa-metragem concedido pela APCA -Associação Paulista dos Críticos de Arte (2004)
  • Melhor Diretor de Documentário - Opera Prima - no Tribeca Film Festival, EUA (2004)
  • Menção Especial no Future Filme Festival - Digital Award. Festival de Veneza, Itália (2003)
  • Medalha de Prata no Filmmaker Doc Film Festival, Milão, Itália (2003)

Referências

  1. «Prisioneiro da Grade de Ferro». Base de Dados da Cinemateca Brasileira. Consultado em 26 de maio de 2020 
  2. SOUZA, Percival de. O Prisioneiro da Grade de Ferro. Traço, 1983. ISBN: 9788534517669
  3. a b Vozes do cárcere: uma análise do filme O Prisioneiro da Grade de Ferro, por Ana Paula Silva Oliveira. Trabalho apresentado no VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom.
  4. LIMA, William da Silva. Quatrocentos contra um: uma história do Comando Vermelho. Prefácio de Percival de Souza. Petrópolis: Vozes/ISER, 1991; 2ª ed.: São Paulo: Labortexto Editorial, 2001, p. 43.
  5. «É Tudo Verdade - Premiados 2003». É Tudo Verdade. Consultado em 26 de maio de 2020 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]