O Brasil não é um país sério

Carlos Alves de Souza Filho, autor da frase.

"O Brasil não é um país sério" dita originalmente "Edgar, le Brésil n'ont è pas un pays sérieux" é uma frase dita pelo diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho ao jornalista Luís Edgar de Andrade, à época correspondente do Jornal do Brasil em Paris, no contexto do incidente diplomático conhecido como Guerra da Lagosta.[1][2]

A frase é geralmente atribuída erradamente ao ex-presidente francês Charles de Gaulle.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Em 1979, o diplomata Carlos Alves de Souza Filho publicou um livro em que assume a autoria da frase, devido à percepção de Gaulle sobre o Brasil em período de contexto geopolítico turbulento, em que o país não fornecia maiores ameaças à França.[4]

Análises[editar | editar código-fonte]

Fernando Gabeira argumenta se foi mesmo De Gaulle que falou, que a derrota da França na Guerra Franco-Prussiana foi um forte golpe para o país, que viu a "seriedade" no ensino alemão e frivolidade dos franceses, em 1873, Alexandre Dumas escreveu: “já não se trata mais de ser espirituoso, leve, libertino, zombeteiro e alegremente inconsequente. A França deve agora haver-se com o ‘muito sério’. Caso contrario, sucumbira". O francês teria falado a frase nesse sentido.[5]

Em 1997, o então presidente francês Jacques Chirac, durante uma conferência de imprensa em São Paulo, foi perguntado se considerava o Brasil um país sério, Chirac respondeu:[6][7]

"(…) eu faço questão de asseverar que o general de Gaulle jamais disse isso e eu vo-lo digo oficialmente. Foi uma declaração que veio da Embaixada do Brasil em Paris. O general de Gaulle jamais disse isso por bons motivos. Primeiro porque o general de Gaulle tinha grande amor pela América Latina. Foi aqui recebido triunfalmente e era, além disso, um homem extremamente educado e cortês. É impensável que ele tenha dito uma coisa como essa. É uma invenção pura e simplesmente, cuja origem nós pudemos perfeitamente determinar, foi uma besteira.

Para mim, eu creio que o Brasil é um país extraordinariamente sério. Mas o sério pode ser entediante. O Brasil possui essa particularidade. É um país sério, que gere seus assuntos com seriedade, mas, para tanto, ele não perde nem seu entusiasmo, nem o seu charme e essa é provavelmente uma de suas grandes forças."

Para Daniel Buarque, a frase acabou reforçando o "complexo de vira-latas" do modo como geralmente é tratada, mas, como declarou Jarbas Passarinho, no artigo "A força da versão", de 2001, essa acabou se tornando "a ofensa de que nos orgulhamos". Essa ambiguidade pode destacar tanto o desleixo quanto a alegria do brasileiro dependendo da intenção e contexto.[8]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Com a França, foi guerra da lagosta». Estadão. Consultado em 14 de julho de 2023 
  2. «Brasil e França vivem crise diplomática mais severa em décadas». Folha de S.Paulo. 24 de agosto de 2019. Consultado em 14 de julho de 2023 
  3. «Quem disse ou teria dito que "o Brasil não é um país sério"? E afinal, somos ou não um país sério?». Quora. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  4. SOUZA, Carlos Alves de (1979). Um embaixador em tempos de crise. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora. [S.l.: s.n.] 
  5. «O Brasil de De Gaulle». gabeira.com.br. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  6. «Folha de S.Paulo - Brasil é "extraordinariamente sério", afirma francês - 14/03/97». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  7. «Folha de S.Paulo - Sério mesmo? - 15/3/1997». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  8. «Daniel Buarque - Conheça a confusa história por trás da frase 'o Brasil não é um país sério'». brasilianismo.blogosfera.uol.com.br. Consultado em 2 de fevereiro de 2023