Misuratas

Misuratas (Misratas) ou Mesuratas (Mesratas) são uma importante tribo de berberes que pertente ao ramo dos zenetas do grupo dos baranitas.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Misuratas são conhecido sobretudo pelos relatos de ibne Caldune. Segundo ele, esse povo deriva de Melde, que era filho de Aurigue, filho de Baranis e irmão de Hauara. Segundo Abzeme, e a genealogia berbere de Sabique ibne Solimão, ambos citados por ibne Caldune, os misuratas, satatas, uarfalas e uacilas que descendiam de Melde tinham Laane como antepassado comum, razão pela qual eram coletivamente chamados laanas (Lahana). Eles foram por vezes associados à tribo líbia dos lagânicos ou lasânicos mencionados por Ptolemeu como habitantes de Ptolemaida (atual Tolmeta) e Cirene (Barca aos árabes) na Cirenaica. O historiador francês J. Desanges localizou essa tribo entre 35 e 40 quilômetros a oeste de Cirene. Pensa-se que a tribo de Banu Jacfar, citada por ibne Caldune como "da família de Misurata, um ramo da tribo berbere de Hauara", habitou a mesma região que os lagânicos, ou alguma zona da província de Barca; eles ainda ocupavam no século XIV seus antigos sítios próximo de Barca, atualmente em Marje. Apesar da associação feita por Caldune, os próprios Banu Jacfar diziam descender de árabes.[1]

Em algum ponto antes da Conquista muçulmana do Magrebe, os Banu Jacfar mudaram-se para oeste, ocupando o setor mais oriental da zona costeira do futuro "País Hauara" (ard Hawwara) na Tripolitânia Central. Parte da tribo envolveu-se nas migrações de segmentos dos hauaras através da Ifríquia à Argélia e Marrocos. Um dos grupos misuratas que os acompanharam se assentou no Magrebe Central, na montanha de Hauara, que domina a cidade de Bata (cuja localização é desconhecida). Segundo A. Epaulard, a cidade de Bata provavelmente foi construída no começo do século XIV e estava próximo da margem esquerda do Mina, na região da atual Relizane, na principal rota entre Tremecém e Argel, onde hoje só restam algumas ruínas. Leão Africano afirma que em seu tempo (início do século XVI), Bata era "grande cidade, muito civilizada e muito populosa [...] construída há pouco pelos africanos (berberes)"; à época de Leão, somente suas fundações restavam, pois havia sido destruída. Além desses grupos, alguns poucos membros da tribo, provavelmente nativos do oásis de Misurata, chegaram em momento incerto, talvez à época da conquista da Sicília pelo cádi Assade ibne Alfurate em 826, à região da Catânia, onde se observa que entre 1075-1125 havia camponeses pertencentes a diocese dessa cidade que descendiam dos misuratas.[1]

Maomé Abdari Alhi, viajante e nativo de Valência na Espanha, que fez peregrinação a Meca em 1289, ao partir do território dos berberes haha, próximo de Mogador no Marrocos, onde residia sua família, atravessou o Balade de Misurata situado na região costeira da Tripolitânia Central. Segundo ele, havia um oásis, pobre e pouco habitado. Essa descrição é desacordada por Abulféda, que ao escrever sobre o assunto com base na obra geográfica de ibne Saíde Almagribi, coetâneo de Abulféda, fala que "a terra é cultivada com oliveiras e palmeiras. Os habitantes exportam cavalos para Alexandria. Peregrinos em seu caminho (do Magrebe) para Meca são tratados por eles com a maior cortesia." No tempo de ibne Caldune (virada do século XIV ao XV), a situação do país dos misuratas foi ainda mais próspera. O nome da cidade tripolitana de Misurata, uma homenagem a eles, ao menos do século XII ao XIV, foi utilizado para designar a maior conurbação ocidental do oásis de Misurata, que até então chamada-se Suaicate ibne Matcude (Suwaykat Ibn Mathkud). Os misuratas, ainda muito numerosos à época de ibne Caldune, estiveram ativos no comércio, com seus mercadores visitando Bilade Aljaride e Sudão. A distância de 16 dias e marcha separava Misurata de Zauilate ibne Catabe (atual Zuila), no Fezã, que dava acesso a maior parte do Sudão.[1]

A situação econômica do país dos misuratas permaneceu a mesma ou melhorou próximo ao início do século XVI, quando o norte da África foi descrito por Leão Africano. Segundo ele, Misurata foi um cantão da costa mediterrânica que continha inúmeros castelos e vilas, algumas na planície, outras nas montanhas. Os habitantes eram muito ricos pois não pagavam tributo e porque eram ativos no comércio. Manusearam os bens que chegaram no seu país pelas galés venezianas e trasportaram-os à Numídia, em outras palavras ao interior do Norte da África, onde eram trocados por escravos e outros bens vindos da Abissínia e Sudão. Esses bens variados eram exportados ao Império Otomano.[1]

Referências

  1. a b c d e Lewicki 1993, p. 186.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Lewicki, T. (1993). Bosworth, C.E.; Donzel, E. van; Heinrichs, W.P.; Pellat, Ch., ed. The Encyclopaedia of Islam Vol. VII MIF-NAZ. Leida e Nova Iorque: Brill