Mestre Vitalino

Mestre Vitalino
Mestre Vitalino
Nascimento Vitalino Pereira dos Santos
10 de julho de 1909
Caruaru
Morte 20 de janeiro de 1963 (53 anos)
Caruaru
Cidadania Brasil
Ocupação escultor, artista
Prêmios

Vitalino Pereira dos Santos, conhecido como Mestre Vitalino (Caruaru, 10 de julho de 1909Caruaru, 20 de janeiro de 1963), foi um importante artesão, ceramista popular e músico,[1] sendo considerado um dos maiores artistas da História da arte do barro no Brasil.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Vitalino Pereira dos Santos nasceu na cidade de Caruaru, Pernambuco. Era filho de um lavrador e de uma artesã que fazia panelas de barro para vender na feira.[3] Ainda criança, começou a modelar pequenos animais de seu repertório rural, como bois e cavalos, com as sobras do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos para serem vendidos na feira de Caruaru. Os primeiros bonecos que criava eram seus brinquedos,[4] e o barro que mais tarde serviria de matéria prima para a sua arte, era retirado das margens do rio Ipojuca, local onde Vitalino brincava durante sua infância.[3]

Nos anos 1920, Mestre Vitalino cria a banda Zabumba Vitalino, da qual é o tocador de pífano principal. Na década de 1930, possivelmente influenciado pelos conflitos armados do período, modela seus primeiros grupos. As cenas que remetem à ordem e ao crime no sertão brasileiro são recorrentes em sua produção. Entre bandidos e soldados, policiais, ladrões de cabra e de galinha, destacam-se as figuras dos cangaceiros Lampião, Maria Bonita e Corisco.[1]

As obras de Vitalino ganharam reconhecimento na região Sudeste a partir de 1947, quando o artista plástico Augusto Rodrigues o convidou para a Exposição de Cerâmica Popular Paraibana realizada em João Pessoa. Em janeiro de 1949, a fama foi ampliada com uma exposição no Masp.[5] Em 1955, integrou em Neuchâtel, Suíça, a exposição Arte Primitiva e Moderna Brasileiras.[6]

O reconhecimento do artista foi ampliado após a sua morte. A biografia do artista inspirou o samba-enredo da Império da Tijuca nos carnavais de 1977 e 2009. A Festa de São João de Caruaru o adotou como a personalidade homenageada de 2009.[7] Em 2009, Mestre Vitalino foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, in memoriam, junto a outros grandes artistas brasileiros, como Raul Seixas e Burle Marx.[8]

A produção do artista passou a ser iconográfica[9] e inspirou a formação de novas gerações de artistas, especialmente no Alto do Moura, um bairro que fica na cidade de Caruaru, onde viveu. A casa onde viveu parte de sua vida atualmente é a instalação da Casa Museu Mestre Vitalino. O entorno é ocupado por oficinas de artesãos.[10]

Parte de sua obra pode ser contemplada no Museu do Louvre, em Paris, na França. No Brasil, a maior parte está nos museus Casa do Pontal e Chácara do Céu, Rio de Janeiro; Acervo Museológico da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife; e no Alto do Moura.[5][9][11]

Obra[editar | editar código-fonte]

Notabilizam-se na obra de Mestre Vitalino as suas peças de cerâmica, que trazem figuras inspiradas nas crenças populares, em cenas do universo rural e urbano, no cotidiano, nos rituais e no imaginário da população do sertão nordestino brasileiro. Suas obras mais famosas são Violeiro, O enterro na rede, Cavalo-marinho, Casal no boi, Noivos a cavalo, Caçador de onça e Família lavrando a terra.[5] Mestre Vitalino retratou em seus bonecos e bonecas de barro a cultura e o folclore do povo africano especialmente do interior de Pernambuco e da tradição do modo de vida dos sertanejos.[5]

Imagem de Mestre Vitalino.

Seus temas prediletos eram o trabalho,[12] os ritos de passagem (nascimento, casamento e morte), a família e o lazer do homem sertanejo, ajudando a construir o imaginário de um povo. Além dos temas, a cor é um elemento importante na obra do artista. No início, ele a obtém por meio de argilas de diferentes tons, avermelhado e branco. Depois, passa a pintar os bonecos com tintas industriais, o que lhes confere um aspecto alegre e lúdico. De acordo com a antropóloga Lélia Coelho Frota, autora de livro sobre o ceramista, a cor, nessa fase de Vitalino, não é utilizada como mero elemento decorativo, mas sim como parte integrante da própria modelagem, na medida em que confere às figuras e cenas maior dramaticidade.[1] A partir de 1953, o artista deixa de pintar as figuras, mantendo-as na cor da argila queimada.

O tipo de arte que produziu foi batizado por especialistas como arte figurativa.[3]

Em 2017, por unanimidade, os membros do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC) aprovaram o tombamento do acervo de Mestre Vitalino. O tombamento incluiu 232 peças do mestre, que fazem parte do acervo de quatro instituições públicas: O Museu do Barro de Caruaru (Mubac), o Centro Cultural Benfica, o Museu de Arte Popular do Recife (MAP) e o Museu do Homem do Nordeste. Segundo Elinildo Marinho de Lima, relator do processo no Conselho, o parecer foi favorável diante da significação memorialística, artística e cultural da obra do Mestre Vitalino.

“A importância deste mestre e de sua obra é imensamente significativa para a cultura pernambucana, nordestina e brasileira. Sua arte traduziu de forma impar e singular sua terra, sua gente, e sua cultura. Por meio do barro, este homem, único e simples, desenvolveu de forma brilhante, extremamente particular, uma forma de tocar, sensibilizar, e fazer sentir e refletir sobre a vida comum e a vida cultural”.[2]

Homenagem[editar | editar código-fonte]

Em 2009 o compositor brasileiro Jorge Antunes compôs a obra sinfônica intitulada O Massapê Vivo, em homenagem ao centenário de Mestre Vitalino. A composição musical foi premiada em concurso promovido pela Funarte (Fundação Nacional de Artes) e estreada na XVIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea.

Referências

  1. a b c Cultural, Instituto Itaú. «Mestre Vitalino». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 8 de março de 2021 
  2. a b «Jorge Antunes premiado pela Funarte - Violão». Fórum do Violão (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2021 
  3. a b c «Biografia de Mestre Vitalino». eBiografia. Consultado em 8 de março de 2021 
  4. Mestre Vitalino e outros Arquivado em 17 de março de 2010, no Wayback Machine. - Cerâmica no Rio, (visitado em 15-3-2010)
  5. a b c d Do barro nasce um herói[ligação inativa] - Revista de História da Biblioteca Nacional, 1 de julho de 2009 (visitado em 15-3-2010)
  6. Vitalino, Mestre (1909 - 1963) - Enciclopédia de Artes Visuais do Itaú Cultural, 22 de janeiro de 2007 (visitado em 15-3-2010)
  7. Ninguém faz festa junina como eles - O Estado de S.Paulo, 13 de maio de 2009 (visitado em 15-3-2010)
  8. «Décima Quinta Edição da Ordem do Mérito Cultural – Secretaria Especial da Cultura». Consultado em 8 de março de 2021 
  9. a b Mestre Vitalino se instala no céu - O Estado de S. Paulo, 29 de agosto de 2009 (visitado em 15-3-2010)
  10. Retratos do cotidiano sertanejo - O Estado de S.Paulo, 16 de junho de 2009 (visitado em 15-3-2010)
  11. Acervo Museológico da UFPE, 2009 (visitado em 15-3-2010)
  12. Carréra', 'Guilherme. «Pernambuco ficou famoso pela confecção de clássicos do artesanato». Acervo. Consultado em 8 de março de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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