Lubrificação da bala

Lubrificação da bala, em terminologia de armas de fogo, é a designação de um processo (artesanal ou industrial), necessário para que algumas balas tenham o comportamento de balística interna esperado.

A lubrificação da bala é especialmente necessária para balas de chumbo, pois elas perdem material quando disparadas devido ao atrito dentro do cano, principalmente quando os canos são estriados. Isso faz com que o interior do cano fique "chumbado", e portanto, ocorre uma redução na precisão do tiro. As balas, principalmente as de chumbo, devem portanto, ser lubrificadas.

Características e histórico[editar | editar código-fonte]

Ilustração em corte de uma "bala de artilharia" e seus sulcos de lubrificação (1914).

Na época do fecho de mecha e da pederneira, as balas de chumbo fundidas usadas em todas as operações militares e de caça não usavam lubrificação.[1] As "musketballs", usadas como a denominação indica em mosquetes eram simples esferas de chumbo, portanto não havia onde "prender" a substância lubrificante.[2]

A bucha servia a esse propósito, envolvendo a bala, facilitando sua inserção durante a recarga e a sua saída quando o disparo era efetuado, além de evitar deformações e abrasão, limitando assim a incrustação de chumbo no cano. Além disso, ajudava a selar os gases atrás do projétil, limitando o vazamento.[1] Nesse caso, o lubrificante era então aplicado nas buchas ou "patches" (pequenos pedaços de tecido ou couro fino lubrificados com sebo ou cera de abelha), com o objetivo de obter uma vedação mais efetiva dos gases no cano, e consequentemente, uma maior precisão do tiro.[2]

Armas de antecarga, desde os primeiros mosquetes de pederneira dos anos 1400 até o advento dos cartuchos na década de 1860, usavam lubrificantes principalmente para dois objetivos:[2]

Durante o período das armas de antecarga, os dois tipos de lubrificantes mais utilizados, eram o azeite e gordura animal transformada em sebo, sendo esse último considerado o mais eficaz, por ter um comportamento semelhante à graxa, repelindo bem a umidade.[2] Banha e ceras como cera de abelha, cera japonesa e parafina eram outras alternativas usadas.

No início do século XIX um conceito já conhecido desde a época das flechas, o de estabilizar os projéteis fazendo com que eles girassem sobre o próprio eixo durante o voo, dando-lhes maior precisão e alcance, foi implementado nas armas de fogo, com o processo conhecido como estriamento, foi quando surgiu o mosquete estriado, chamado de "rifle" na língua inglesa. No entanto, a relativa imprecisão e o curto alcance do mosquete não foram considerados significativos no campo de batalha, porque a fumaça da pólvora negra usada na época obscurecia rapidamente o campo de batalha e tornou o longo alcance do rifle inútil, especialmente à medida que a batalha avançava.[3]

Quando surgiram as balas cônicas, como a "Minié ball" em meados do século XIX, o sebo, com sua longevidade e capacidade de permanecer onde era colocado, o tornou ideal para esse novo tipo de bala, que não usava bucha, e possuiam ranhuras para que o lubrificante fosse depositado.[2]

As balas mais modernas, são fornecidas com um ou mais sulcos de graxa, e quando as balas são assentadas no estojo, os sulcos ficam cobertos por ele e, portanto, a graxa de lubrificação fica protegida.[1] No caso de cartuchos em que o calibre da bala e o diâmetro externo do estojo sejam iguais, a parte da bala inserida no estojo deve corresponder ao diâmetro interno deste. A gordura seria queimada assim que ocorresse o disparo, portanto, ineficaz. Com essas balas, a ranhura da graxa deve ser fixada na "cabeça" (ou "ogiva") da bala sem proteção. Uma outra solução é usar cera em vez de gordura à medida que ela endurece. No entanto, ambas as soluções funcionam apenas por um curto período de tempo, pois tanto a camada de gordura quanto a de cera desaparecem com o tempo devido à abrasão.[4]

O cartucho com lubrificação da bala interna.

Lubrificação interna[editar | editar código-fonte]

Outra solução para o problema foi desenvolvida pela Smith & Wesson no início do século XX, a "S&W self-lubricating bullet".[5]

Aqui, a bala contém um cilindro cheio de graxa em um orifício na parte traseira. Quando o tiro é disparado, a pressão dos gases de combustão empurra a graxa para a frente por meio de um pistão e a pressiona, através de canais na bala, para o interior do cano.[5]

Lubrificante[editar | editar código-fonte]

O processo de lubrificação da bala com seus sulcos específicos para isso, permanece essencialmente o mesmo desde a época das "Minié ball"; o que vem evoluindo constantemente é o desenho dos sulcos das balas e os lubrificantes em si, sendo que o que se destaca entre os lubrificantes naturais, é a cera de carnaúba que derrete a temperaturas bem mais altas que a cera de abelha; e entre os lubrificantes sintéticos, aqueles a base de lítio, como o "Alox 2138-F" e aqueles a base de poliglicóis.[1] Hoje, grafite, dissulfeto de molibdênio e teflon também são usados.

A "máquina" de lubrificação de balas de Gerhard Bock.

A "máquina" de lubrificação[editar | editar código-fonte]

No início de 1900, Gerhard Bock, um atirador de pistola esportiva de Charlottenburg, descreveu uma "máquina" com a qual balas de chumbo em 50 pequenas tigelas podem ser mergulhadas em sebo líquido no livro de bolso "Moderne Faustfeuerwaffen und ihr Gebrauch" (algo como "Armas de mão modernas e seu uso"), publicado por ele. As pequenas tigelas fechadas no fundo garantiam que a base das balas permanecesse livre de sebo depois que ele se solidificasse. [4]

Referências

  1. a b c d Fryxell, Glen E.; Applegate, Robert L. (2015). «Cast bullet lubrication». From Ingot to Target: A Cast Bullet Guide for Handgunners (PDF) (em inglês). [S.l.]: New Zealand Handloaders Association (publicado em Agosto de 2015). pp. 43–59. 195 páginas. Consultado em 10 de abril de 2021 
  2. a b c d e «A History of Firearms Lubricants». cherrybalmz.com. Consultado em 10 de abril de 2021 
  3. Bilby, Joseph G. (2005). Civil War Firearms: Their Historical Background and Tactical Use (em inglês) reimpressão, revisada ed. [S.l.]: Hachette Books (publicado em 19 de abril de 2005). 252 páginas. ISBN 978-0-30681-459-4. Consultado em 11 de abril de 2021 
  4. a b Bock, Gerhard (1911). Moderne Faustfeuerwaffen und ihr Gebrauch (em alemão) 3.ª, completa, revisada ed. [S.l.]: J. von Neumann (publicado em 1941). 462 páginas. ASIN B005EBJCL8 
  5. a b Guy Hildebrand, Gordon Martin e Paul Smith (2006). «The S&W Self-Lubricating Bullet». International Ammunition Association. Consultado em 11 de abril de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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