Literatura galega dos Séculos Escuros

A criação literária em língua galega foi praticamente inexistente durante os séculos XVI, XVII e XVIII, razão pela que estes se denominam Séculos Escuros.[1]

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

Há quem afirme que o cronista Fernão Lopes (século XV) é o último escritor medieval pertencente à literatura galego-portuguesa. Para alguns autores, a partir desse momento, os sistemas literários galego e português ficaram independentes com desenvolvimentos autónomos.[2][3]

Henrique II de Castela substituiu a nobreza galega.

As únicas manifestações literárias que se conservaram em língua galega desde o desaparecimento de um sistema literário comum a ambas duas margens do Minho são as cantigas recolhidas no Cancioneiro de Baena (século XV), pertencentes à escola da lírica galego-castelhana. Mas estas composições, elaboradas por poetas de reconhecido prestígio naquela época, como Macías "O Namorado" ou o Arcediago de Touro, possuem um nível muito inferior às que se achavam nos cancioneiros da escola galego-portuguesa. Além disso, as circunstâncias históricas e sociolinguísticas da época levaram aos copistas deste Cancioneiro de Baena a introduzir a língua castelhana nos poemas em galego, o qual em muitas ocasiões estragou as rimas das cantigas. Por exemplo, encontrámos em várias ocasiões a palavra desejo (que naquela altura devia ter uma pronunciação muito similar à atual portuguesa) com espelho (cuja pronunciação devia se aproximar à atual espanhola).

Estas circunstâncias especiais da época das que dantes falávamos vinham dadas pela progressão da língua castelhana nos âmbitos da alta nobreza e do alto clero galego.[1][4]

Isabel I de Castela mudou a nobreza galega por outra castelhana.

Durante o desenvolvimento das guerras trastamaristas (1370), a alta nobreza galega apoiou Pedro I na sua tentativa de subir ao trono de Castela. No entanto, o vencedor deste conflito bélico foi o seu rival, Henrique de Trastámara. Como consequência disto, Henrique II de Castela (ou Henrique de Trastámara) substituiu parte da nobreza galega por nobres castelhanos, processo batizado pelos historiadores como a primeira alteração nobiliar. Repetir-se-ia a história pouco mais de um século mais tarde. Numa nova guerra pela sucessão ao trono castelhano, a nobreza galega apoiou Joana a Beltraneja (herdeira legítima), mas o vencedor foi o partido de Isabel I de Castela, também conhecida como Isabel a Católica. Após a guerra, a vingança da rainha Isabel I chegará através do denominado pelo padre Zurita como "Doma y castración del Reino de Galicia", mediante o qual a nobreza galega ficará totalmente "descabeçada" e indefesa e, o que é mais importante para a literatura, sem capacidade para produzir um sistema literário em língua galega.[5][6] O galego continuou sendo a língua habitual de toda a população, mas sem uso entre a alta nobreza, pois a emergente classe fidalga ainda manteria até ao seu desaparecimento o uso da língua galega em âmbitos informais, como pode ver-se nas novelas de Ramón Otero Pedrayo.

E se a nobreza laica foi substituída, o mesmo ocorrerá com a eclesiástica. Enquanto os bispos galegos exerciam os seus cargos em outros lugares da Península Ibérica, nomeadamente em Sevilha, à Galiza chegavam bispos castelanófonos que favoreciam os nobres castelhanos. A nobreza eclesiástica empregava o latim, excepto nas relações pessoais dos bispos e em alguns usos administrativos, onde empregava o castelhano. Isto continuava assim mesmo quando algum galego dirigia as dioceses galegas.

Achamo-nos, a partir do século XVI, pois, com uma língua galega sem poder e carente do prestigioso sistema literário de que tinha desfrutado durante a Idade Média. Ainda assim, encontram-se manifestações literárias destes Séculos Escuros.[1]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Álvarez Blázquez, Xosé María (1959): Escolma de Poesía Galega II. A Poesía dos Séculos XIV a XIX (1354-1830), Vigo: Galaxia.
  • Baldomir Cabanas, Juan Javier (2010): A Literatura Galega dos Séculos Escuros e do Prerrexurdimento, tese de doutoramento dirixida por Luciano Rodríguez Gómez, Universidade da Corunha.
  • Baldomir Cabanas, Xohán Xabier (2012). Historia da literatura dos Séculos Escuros e do Prerrexurdimento. A escrita literaria galega entre os anos finais do século XV e a década de 1840. [S.l.]: Editorial Académica Española. ISBN 978-3-8484-5299-6  templatestyles stripmarker character in |autor= at position 1 (ajuda)[1]
  • Tarrío, Anxo. «Síntesis de la historia de la literatura gallega (siglos xv-xx)». Boletín de la Asociación Europea de Profesores de Español (em espanhol) (32-32). ISSN 1133-4444  templatestyles stripmarker character in |sobrenome= at position 1 (ajuda)

Referências

  1. a b c «2.8 Historia da lingua galega: os séculos escuros (aspectos teóricos)» (em galego). Junta da Galiza. Consultado em 23 de abril de 2018 
  2. «A literatura galega dos Séculos Escuros e do Prerrexurdimento» (em galego). Universidade da Corunha. 2010. Consultado em 23 de abril de 2018 
  3. «A Literatura Galega dos Séculos Escuros e do Prerrexurdimento» (em galego). Dialnet. 2010. Consultado em 23 de abril de 2018 
  4. «Literatura Galega». InfoEscola. 23 de setembro de 2013. Consultado em 23 de abril de 2018 
  5. «"Séculos Escuros"» (em espanhol). galego.org. Consultado em 23 de abril de 2018 
  6. «Bo Día! Isso Não é Português Errado, Isso é Galego, a Língua Irmã do Português». Language Trainers. 23 de setembro de 2013. Consultado em 23 de abril de 2018 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]