Línguas aruaques

Línguas aruaques
Outros nomes:Maipureanas
Falado(a) em:
Total de falantes:
Família: Macroaruaques (controversa)
 Línguas aruaques
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
As línguas aruaques da América do Sul. Os pontos representam as localizações precisas das línguas bem documentadas. O resto das áreas sombreadas reconstroem a extensão da distribuição das línguas no passado. Em azul-claro, as línguas aruaques setentrionais, e, em azul-escuro, as línguas aruaques meridionais.

As línguas aruaques, nuaruaques,[1] aruak ou arawak formam uma família de línguas ameríndias da América do Sul e do Mar do Caribe. As línguas aruaques são faladas em grande parte do território da América do sul em direção ao Paraguai ao norte, em países da costa norte da América do Sul, como o Suriname, a Guiana e a Venezuela.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O termo "aruaque" se originou do termo aruaque aruwak, que significa "comedor de farinha".[2] O termo "nuaruaque" se originou da expressão aruaque nu aruwak, que significa "meu comedor de farinha".[3]

Geografia[editar | editar código-fonte]

Para Rodrigues,[4] essa língua, também conhecida como Lokono, era falada em algumas ilhas antilhanas, como Trinidad. Quando os europeus inciaram sua colonização do Caribe, os Aruák aí dividiam e disputavam o mesmo espaço com os caribes, e foi com uns e outros que aqueles tiveram seus primeiros contatos com a população nativa e com suas línguas. Assim como caribe, o nome Aruák veio a ser usado para designar o conjunto de línguas encontradas no interior do continente e aparentadas à língua Aruaque. Ainda segundo esse autor, esse conjunto de línguas foi também chamado de Maipure ou Nu-Aruák e corresponde ao que Martius (1794 — 1868) há mais de um século chamou de Guck ou Coco.

Dispersão[editar | editar código-fonte]

Considerando a possibilidade de reconstrução histórica a partir das línguas nativas, o referido autor Urban (1992) conjectura que o curso principal do Amazonas não foi a principal rota de dispersão Arawák. Ao contrário, parece que os Maipure migraram pela periferia da bacia amazônica, tanto pelo norte como pelo sul a partir da área peruana, estabelecendo-se apenas mais tarde em regiões de terras baixas amazônicas há mais de 3 000 anos atrás.

Classificação[editar | editar código-fonte]

Payne subdivide o grupo de línguas aruaques em cinco categorias:[5] setentrional (exemplo: Achagua); oriental (ex: Palikur); central (ex: Waurá); meridional (ex: Terena) e ocidental (Ex: Amuesha). Não existindo consenso na literatura quanto à origem geográfica desse troco (Maipure[6]), apesar de estar claro que, em relação aos Tupi, e Caribe, os Maipure apresentam uma distribuição genericamente ocidental.[7]

Jolkesky (2016)[editar | editar código-fonte]

Classificação interna das línguas aruaques (Jolkesky 2016):[8]

(† = língua extinta)


Arawak
  • Yanexa
  • Arawak Ocidental
    • Aguachile †
    • Chamikuro
    • Mamoré-Paraguai
      • Mamoré-Guaporé
        • Mojo-Paunaka
          • Mojo: Ignaciano; Trinitario
          • Paunaka
        • Baure-Paikoneka
          • Baure: Baure; Joaquiniano; Muxojeone †
          • Paikoneka †
      • Terena: Chane †; Guana †; Kinikinau; Terena
    • Negro-Putumayo
      • Jumana-Pase: Jumana †; Pase †
      • Kaixana †
      • Nawiki
        • Kabiyari
        • Karu-Tariana
          • Karu: Baniwa; Kuripako
          • Tariana
        • Mepuri †
        • Piapoko-Achagua: Achagua; Piapoko
        • Wainambu †
        • Warekena-Mandawaka: Warekena; Mandawaka †
        • Yukuna-Wainuma: Mariate †; Wainuma †; Yukuna
      • Resigaro
      • Wirina †
    • Orinoco
      • Yavitero-Baniva: Baniva; Yavitero †
      • Maipure †
    • Pré-Andino
      • Axaninka-Nomatsigenga
        • Nomatsigenga
        • Machiguenga-Nanti
        • Axaninka-Kakinte
          • Kakinte
          • Axaninka-Axeninka
            • Axaninka: Axaninka
            • Axeninka: Axeninka Pajonal; Axeninka Perene; Axeninka Pichis; Axeninka Ucayali; Axininka
    • Purus
      • Apurinã
      • Inhapari
      • Piro-Manchineri: Kanamare †; Kuniba †; Manchineri; Maxko Piro; Yine
  • Arawak Oriental
    • Baixo Amazonas
      • Atlântico: Marawan †; Palikur
      • Guaporé-Tapajós
        • Saraveka †
        • Tapajós: Enawene-Nawe; Paresi
      • Xingu
        • Kustenau †
        • Waura-Mehinako: Mehinaku; Waura
        • Yawalapiti
      • Waraiku: Waraiku †
    • Solimões-Caribe: Marawan †; Palikur
      • Marawa
      • Caribenho
        • Kaketio †
        • Wayuu-Anhun
          • Anhun
          • Wayuu
        • Lokono-Inheri
          • Inheri: Garifuna; Kalhiphona †
          • Lokono
        • Xebayo †
        • Taino †
      • Negro-Branco
        • Arua †
        • Mainatari †
        • Negro
          • Bare-Guinao: Bare; Guinao †
          • Bawana-Kariai-Manao: Bawana †; Kariai †; Manao †
          • Yabaana †
        • Branco
          • Mawayana
          • Wapixana-Parawana: Aroaki †; Atorada; Parawana †; Wapixana

Nikulin & Carvalho (2019)[editar | editar código-fonte]

Classificação interna das línguas aruaques (Nikulin & Carvalho 2019: 270):[9]

Ramirez (2020)[editar | editar código-fonte]

A classificação da família arawak segundo Henri Ramirez (2020).[10][11][12] Essa classificação difere substancialmente de sua classificação anterior (Ramirez 2001[13]), mas chega a ser muito semelhante à proposta por Jolkesky (2016).

12 subgrupos (subfamílias) com 56 línguas (29 vivas e 27 extintas) († = extinta)

Línguas dessa família[editar | editar código-fonte]

Aldeia arawak (G.W.C. Voorduin 1860/1862).

Comparação lexical[editar | editar código-fonte]

Comparação lexical (Rodrigues 1986):[14]

Português língua água sol mão pedra anta
Karútana inene uni kamui kapi hipa hema
Warekéna inene one kamoi kapi ipa ema
Tariãna enene uni kamoi kapi hipada hema
Baré nene uni kamuhu kabi tiba tema
Mandawáka nene uni gamoui kahi iha ema
Palikúr nene une kamoi (iwakti) tipa (aludpikli)
Wapixána nenuba wene kamoo kae keba (kudoi)
Apurinã nene weni (atukatxi) (piu) (kai) kema
Piro nu honu (tkatxi) (mio) (sotlu) hema
Paresí nini one kamai kahe sehali (kotioi)
Waurá nei une kamy kapi typa teme
Yawalapití niati u kame kapi teba tsema
Teréna nene une (kaxe) (vo’u) kamo

Influência na língua portuguesa[editar | editar código-fonte]

As línguas aruaques legaram algumas palavras para a língua portuguesa, embora não de modo tão expressivo quanto as línguas da família tupi-guarani. Geralmente, essas palavras chegaram à língua portuguesa indiretamente, através da língua castelhana dos conquistadores espanhóis das Antilhas, os quais aprenderam o idioma taino dos habitantes dessa região. Exemplos de palavras da língua portuguesa com origem no idioma taino são: canoa, goiaba, furacão, iguana, cacique, batata, caribe, tabaco etc.[15]

Reconstrução[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Proto-arawak

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Wikilivros
Wikilivros
O Wikilivros tem um livro chamado Civilização Aruaque

Reconstruções[editar | editar código-fonte]

  • PAYNE, David L. A classification of Maipuran (Arawakan) languages based on shared lexical retentions. In: DERBYSHIRE, Desmond C.; Geoffrey K. PULLUM (eds.). Handbook of Amazonian languages, v. 3. Berlim: Mouton de Gruyter, 1991. p. 355–499.
  • Aikhenvald, Alexandra. (2002). Language contact in Amazonia. Oxford University Press.
  • Captain, David. (1991 [2005]). Proto-Lokono-Guajiro. Revista Latinoamericana de Estudios Etnolingüísticos, 10:137-172.

Japurá-Colômbia:

Bolívia:

Campa:

  • MICHAEL, Lev. La reconstrucción y la clasificación interna de la rama Kampa de la família Arawak. In: Memorias del V Congreso de Idiomas Indígenas de Latinoamérica, 6–8 de octubre de 2011, Universidad de Texas en Austin. Austin: University of Texas, 2011.
  • MICHAEL, Lev; Robin ALCORN; Lisa FANN; Briana VAN EPPS; Mona ZARKA. Phonological reconstruction of the Kampan branch of Arawak. Trabalho apresentado em 1 de maio de 2010 no 13° Workshop on American Indigenous Languages. Santa Barbara: University of California, 2010.

Purus:

  • Carvalho, Fernando O. de (2021). A Comparative Reconstruction of Proto-Purus (Arawakan) Segmental Phonology. International Journal of American Linguistics, 87(1), 49–108. doi:10.1086/711607
  • BRANDÃO, Ana Paula; Sidi FACUNDES. Estudos comparativos do léxico da fauna e flora Aruák. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências humanas, Belém, v. 2, n. 2, p. 133–168, maio/ago. 2007.
  • FACUNDES, Sidney da Silva. The language of the Apurinã people of Brazil (Arawak). Tese (Doutorado em Linguística) – University of New York at Buffalo, Buffalo, 2000.
  • FACUNDES, Sidney da Silva. The comparative linguistic methodology and its contribution to improve the knowledge of Arawakan. In: HILL, Jonathan D.; Fernando SANTOS-GRANERO (eds.). Comparative Arawakan histories. Illinois: University of Illinois Press, 2002. p. 74–96.

Dicionários[editar | editar código-fonte]

  • Subgrupo Bolívia:
    • Mary Ritchie Key. 2015. Ignaciano dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/263
    • Ruth Gill and Wayne Gill. 2015. Trinitario dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/265
    • Mary Ritchie Key. 2015. Baure dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/261
  • Subgrupo Purus:
    • Mary Ritchie Key. 2015. Mashco Piro dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/264
  • Subgrupo Amazonas-Antilhas:
    • Jesús Olza Zubiri and José Alvarez (commentary) and Miguel Angel Jusayú. 2015. Goajiro dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/262
  • Subgrupo Central:
    • Colette Melville and Frances V. Tracy and Olive Williams. 2015. Wapishana dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/266
  • Subgrupo Xingu:
    • Joan Richards. 2015. Waurá dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/267
  • Subgrupo Alto Orinoco:
    • Mary Ritchie Key. 2015. Yavitero dictionary. In: Key, Mary Ritchie & Comrie, Bernard (eds.) The Intercontinental Dictionary Series. Leipzig: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology. http://ids.clld.org/contributions/268

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 178.
  2. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 178.
  3. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 203.
  4. Rodrigues, Aryon Dall'Igna. Línguas brasileiras. Para o conhecimento das línguas indígenas. SP, Loyola, 1986
  5. Payne, David L. A classification of Maipuran (Arawakian) languages based on shared lexical retentions. in Derby-shire, D.C.; Pullun, G.K. (orgs) Handbook of Amazonian languages, 1991. pp. 355-499
  6. Payne e outros autores empregam os termos 'maipure' e 'arauaque' como sinônimos. Ver também (em castelhano) Lenguas Indígenas - Análisis comparativode la cláusula relativa en lenguasarahuacas venezolanas. Por Marlene Socorro Sánchez. Lingua Americana Año VIII Nº 15 (2004): 101 - 124
  7. Urban, Greg. A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas. in: Cunha, Manuela Carneiro (org.) História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras - Secretaria Municipal de Cultura/ FAPESP, 1992
  8. Jolkesky, Marcelo Pinho de Valhery. 2016. Estudo arqueo-ecolinguístico das terras tropicais sul-americanas. Doutorado em Linguística. Universidade de Brasília.
  9. Nikulin, Andrey; Fernando O. de Carvalho. 2019. Estudos diacrônicos de línguas indígenas brasileiras: um panorama. Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli, v. 8, n. 2 (2019), p. 255-305. (PDF)
  10. Ramirez, Henri (2020). Enciclopédia das línguas Arawak: acrescida de seis novas línguas e dois bancos de dados 🔗. 2 1 ed. Curitiba: Editora CRV. 208 páginas. ISBN 978-65-5578-892-1. doi:10.24824/978655578892.1 
  11. Ramirez, Henri (2020). Enciclopédia das línguas Arawak: acrescida de seis novas línguas e dois bancos de dados 🔗. 3 1 ed. Curitiba: Editora CRV. 290 páginas. ISBN 978-65-251-0234-4. doi:10.24824/978652510234.4 
  12. Ramirez, Henri, & França, Maria Cristina Victorino de. (2019). Línguas Arawak da Bolívia. LIAMES: Línguas Indígenas Americanas, 19, e019012. doi:10.20396/liames.v19i0.8655045
  13. Ramirez, Henri (2001). Línguas arawak da Amazônia Setentrional. Manaus: Universidade Federal do Amazonas. (PDF)
  14. Rodrigues, Aryon Dall'Igna. 1986. Línguas brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola. (PDF)
  15. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 830 p.