Krameriaceae

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Krameria
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Clado: angiospérmicas
Clado: eudicotiledóneas
Clado: rosídeas
Clado: eurosídeas I
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Zygophyllales
Família: Krameriaceae
Dumort.[1]
Género: Krameria
L. ex Loefl.[2]
Espécies
17-18 espécies. Ver texto.
Flores zigomórficas de Krameria erecta. O aparato de atracçção de polinizadores são as sépalas arroxeadas. As pétalas, mais escuras, produtoras de óleo e reduzidas, são facilmente reconhecíveis. Os estames amarelos são dirigidos para baixo nesta espécie.
Fruto espinhoso de Krameria grayi.
O remédio herbal ratanhiae radix (raiz de ratânhia), preparado com raízes secas e moídas de ratânhia-vermelha (Krameria lappacea).

Krameriaceae é uma família monogenérica de plantas com flor dicotiledóneas, cujo único género é Krameria, com 17-18 espécies validamente descritas,[3] distribuídas pelas regiões temperadas e subtropicais das Américas, mais frequentes nas zonas semi-árias ou áridas. No sistema de classificação APG IV a família integra a ordem Zygophyllales.[4][5][6][7] Várias espécies, conhecidas pelos nomes comuns de ratânia ou ratânhia, são utilizadas como planta medicinal e como fonte de corante.[8][9] As espécies mais utilizadas para fins medicinais são Krameria argentea e Krameria lappacea (ratânia-peruana).

Descrição[editar | editar código-fonte]

Morfologia[editar | editar código-fonte]

Os membros da família Krameriaceae são arbustos, subarbustos ou herbáceas perenes, com caules erectos. Folhas alternas, simples ou raramente trifoliadas, lineares, lanceoladas, oblanceoladas ou ovadas, mucronada nos ápice, inteiras, sésseis ou pecioladas.[10] Muitas das espécies são plantas parcialmente parasitas que usam as raízes das plantas vizinhas como hospedeiro.

As flores são hermafroditas, zigomorfas, solitárias nas axilas das folhas ou dispostas em rácimos terminais ou laterais, com o pedúnculo e o pedicelo separados entre si por um par de bractéolas. As sépalas são 4-5, indumentadas na página inferior. As pétalas são dimorfas, com duas pétalas modificados recobertas de glândulas rodeando o ovário e (2–)3 petalóides, pequenas, formando uma bandeira acima do ovário. Os estames são (3–)4, iguais em comprimento ou didínamos, com filamentos fortes, livres ou conados basalmente. As anteras são deiscentes por poros apicais. O ovário é súpero, ovóide, indumentado, coroado por um estilo forte, arqueado, glabro, de um só carpelo por supressão do segundo, com 2 óvulos apicais.[10]

As glândulas florais, designadas por elaióforos, contêm elaioplastos que produzem um lípido que é recolhido por abelhas do género Centris, as quais polinizam as flores.

O fruto é globoso, semelhante a uma noz, espinhoso, com uma única semente. A semente é globosa, sem endosperma.[10]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

As regiões de distribuição natural das aproximadamente 18 espécies estão restritas ao Neotropis. A família distribui-se numa vasta região que vai do sudoeste dos Estados Unidos até ao Chile, incluindo as Caraíbas. Dez espécies ocorrem numa região que se estende do Kansas por todo o sudoeste dos Estados Unidos (com uma espécie com distribuição disjunta na Flórida e áreas adjacentes da Georgia e na Costa Rica). Seis espécies ocorrem do norte da Colômbia ao centro-leste do Brasil, com uma espécie (Krameria ixine) que atinge o estado mexicano de Sinaloa e as Grandes e Pequenas Antilhas. Duas espécies ocorrem no centro-oeste da América do Sul, nas regiões andinas do Peru, Bolívia, norte do Chile e Argentina.

Os membros do género Krameria preferem em áreas quentes, de clima árido e sem-iárido.

Usos[editar | editar código-fonte]

Várias espécies, entre elas Krameria argentea, Krameria lappacea (ratânia-peruana) e Krameria ixine, têm sido usadas como planta medicinal, especialmente como adstringentes e para tratamento de problemas de saúde que variam desde a diarreia até transtornos hepáticos e renais.[11]

A actividade biológica da ratânia é devida ao efeito adstringente do ácido rataniatânico, um composto estruturalmente semelhante ao ácido tânico.[12] Na medicina tradicional da região andina, de onde estas plantas são nativas, era usado em infusões para gargarejo ou pastilhas para mascar, especialmente quando misturado com cocaína,[12] como um hemostático local[12] e como remédio para diarreia.

Quando finamente pulverizadas, as raízes secas destas plantas forneceram um componente frequentemente utilizado em dentifrícios tradicionais. As raízes em pó também serviram, especialmente em Portugal, para realçar a coloração rubi de alguns vinhos. A casca da raiz contém uma substância vermelha livre, quase insolúvel, chamada vermelho-ratânia, usada como corante tradicional.

Sistemática[editar | editar código-fonte]

Hábito e flores de Krameria grayi
Inflorescência de Krameria tomentosa

Classificação[editar | editar código-fonte]

Nos sistemas de classificação tradicionais, entre os quais o sistema de Cronquist (1981), a família era integrada na ordem Polygalales. Contudo, a partir do sistema APG II, esta família passou a ser colocada como grupo basal do clado das eurosídeas I e o género Krameria podia ser incluído na família Zygophyllaceae ou, opcionalmente, ser elevado ao nível taxonómico de família sob o nome de Krameriaceae.

A partir do sistema APG III, as famílias Zygophyllaceae e Krameriaceae passaram a constituir a ordem Zygophyllales, uma evolução a partir da versão anterior do sistema na qual o Angiosperm Phylogeny Group tinha apenas incluído a opção de integrar o géneros Krameria em Zygophyllaceae. O enquadramento da família Zygophyllaceae no clado das eurosídeas (ou fabids) é o que consta do seguinte cladograma:[13]

fabids
 Zygophyllales 

Zygophyllaceae

Krameriaceae

Fabales

Rosales

Fagales

Cucurbitales

Celastrales

Malpighiales

Oxalidales

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

O género Krameria foi estabelecido em 1758 por Lineu, que foi o editor do livro de viagens do botânico Pehr Loefling intitulado Iter hispanicum, editado em Estocolmo pela tipografia de Lars Salvii Kostnad. Nessa obra Lineu inclui a p. 195 o novo género, que Loefling no seu manuscrito tinha designado por Ixine, sob o nome de Krameria.[14] A espécie tipo é Krameria ixine L., que havia sido publicada por Lineu na sua obra Systema naturae, Editio Decima 1759, vol. 2, p. 899. A família Krameriaceae foi proposta em 1829 por Barthélemy Charles Joseph Dumortier na sua obra Analyse des Familles de Plantes, 20, p. 23.[15] Anteriormente o género Krameria fora integrado na família Polygalaceae, a partir da qual Dumortier o segregou em 1829. Contudo, a criação da família não foi consensual e em 1892 Paul Hermann Wilhelm Taubert propôs a integração do géneros nas Leguminosae. Masis uma vez, na falta de consenso, Beryl B. Simpson reactivou em 1989 a família Krameriaceae na sua obra Flora Neotropica, Monograph 49, p. 1–109. A moderna filogenética permitiu determinar que Krameriaceae e Zygophyllaceae s. str. são clados irmãos. O nome genérico Krameria é uma homenagem ao médico militar e botânico Johann Georg Heinrich Kramer (1684–1744).

A família monotípica Krameriaceae tem como único género Krameria L. ex Loefl. com as seguintes espécies:[5][14][16][17]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Angiosperm Phylogeny Group (2009). «An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III». Botanical Journal of the Linnean Society. 161 (2): 105–121. doi:10.1111/j.1095-8339.2009.00996.x. Consultado em 6 de julho de 2013 
  2. «Genus: Krameria L.». Germplasm Resources Information Network. United States Department of Agriculture. 31 de janeiro de 2005. Consultado em 28 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 10 de outubro de 2012 
  3. Christenhusz, M. J. M.; Byng, J. W. (2016). «The number of known plants species in the world and its annual increase». Phytotaxa. 261 (3): 201–217. doi:10.11646/phytotaxa.261.3.1 
  4. Angiosperm Phylogeny Website : Krameriaceae
  5. a b NCBI : Krameriaceae
  6. DELTA Angio Krameriaceae Dum.
  7. ITIS : Krameriaceae[ligação inativa]
  8.  «Rattany». Encyclopedia Americana. 1920 .
  9. Ecotintes: ratana.
  10. a b c «Krameriaceae». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden: Flora de Nicaragua. Consultado em 17 de fevereiro de 2010 
  11. Max Wichtl: Teedrogen und Phytopharmaka. 4. ed. Wissenschaftliche Verlagsgesellschaft, Stuttgart 2002, ISBN 3-8047-1854-X
  12. a b c Chisholm, Hugh, ed. (1911). «Rhatany». Encyclopædia Britannica (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia Britannica, Inc. (atualmente em domínio público) 
  13. (em inglês) Angiosperm Phylogeny Group (2003). An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG II. Botanical Journal of the Linnean Society 141: 399-436. (Disponível online: Texto completo (HTML) Arquivado em 22 de dezembro de 2007, no Wayback Machine. | Texto completo (PDF) Arquivado em 12 de setembro de 2019, no Wayback Machine.).
  14. a b «Krameria». Agricultural Research Service (ARS), United States Department of Agriculture (USDA). Germplasm Resources Information Network (GRIN). Consultado em 12 de julho de 2013 
  15. «Krameriaceae». Tropicos. Missouri Botanical Garden. 40000095 
  16. «Krameria» (em inglês). ITIS (www.itis.gov). Consultado em 28 de janeiro de 2011 
  17. «GRIN Species Records of Krameria». Germplasm Resources Information Network. United States Department of Agriculture. Consultado em 28 de janeiro de 2011. Arquivado do original em 24 de setembro de 2015 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Simpson, B. B. (1982). Krameria (Krameriaceae) flowers: Orientation and elaiophore morphology. Taxon 31:3 517–528
  • Fl. Guat. 24(4): 488–489. 1946; N.L. Britton. Krameriaceae. N. Amer. Fl. 23: 195–200. 1930; B.B. Simpson. Krameriaceae. Fl. Neotrop. 49: 1–108. 1989; W. Burger & B.B. Simpson. Krameriaceae. In: Fl. Costaricensis. Fieldiana, Bot., n.s. 28: 1–3. 1991.
  • Jon L.R. Every & Amélia Baracat Every, 2009: Neotropical Krameriaceae. In: W. Milliken, B. Klitgård & A. Baracat: NeotropikeyInteractive key and information resources for flowering plants of the Neotropics, 2009 onwards.
  • Comparison of Krameria Species.
  • Mark A. Dimmitt: Krameraceae (krameria family) vom Arizona-Sonora Desert Museum.
  • Sia Morhardt & J. Emil Morhardt: California Desert Flowers: An Introduction to Families, Genera, and Species, University of California Press, 2004. ISBN 9780520240032 Google-Book-online. darin Krameriaceae S. 165–168
  • Die Familie der Krameriaceae bei der APWebsite. (Abschnitt Beschreibung und Systematik)
  • Die Familie der Krameriaceae bei DELTA von L. Watson & M. J. Dallwitz. (Abschnitt Beschreibung)
  • Beryl B. Simpson, Andrea Weeks, D. Megan Helfgott & Leah L. Larkin: Species relationships in Krameria (Krameriaceae) based on ITS sequences and morphology: implications for character utility and biogeography, In: Systematic Botany, 29, 2004, S. 97–108. doi:10.1600/036364404772974013 (Abschnitt Beschreibung, Verbreitung und Systematik)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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