Jurandir Freire Costa

Jurandir Freire Costa
Nome completo Jurandir Sebastião Freire Costa
Nascimento 1944 (80 anos)
Recife, Pernambuco
Ocupação médico, professor, psicanalista
Instituições Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Especialidade Psiquiatria
Pesquisa psicanálise, subjetividade,
Alma mater Universidade Federal de Pernambuco

École pratique des hautes études

Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Prémios relevantes Prêmio Jabuti - Ciências Humanas (1996)

Jurandir Sebastião Freire Costa (Recife, 1944) é um médico psiquiatra, professor, escritor e psicanalista brasileiro.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em Recife, formou-se no curso de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) no ano de 1968.[2] Realizou seu mestrado na área de etnopsiquiatria na École pratique des hautes études, localizada em Paris na França.[1][3][4] No ano de 1996, obteve seu doutorado na área de saúde pública na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).[5]

No ano de 1974, logo depois de voltar de um período de estudos da França, Jurandir entrou para o Departamento de Psiquiatria da UERJ, e pouco depois para o recém-inaugurado Instituto de Medicina Social.[6] Suas linhas de pesquisa e trabalhos costumam abarcar temas como psicanálise, subjetividade, Donald Woods Winnicott, corpo e mente.[7][8]

Recentemente, tem se dedicado a temas como autismo e narrativa em primeira pessoa, déficit patológico e diversidade identitária.[9][10] Atualmente, trabalha como professor titular no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e no Ministério da Saúde é colaborador do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro.[5][11][12]

Como escritor, possui obras de destaque como Ordem médica e ordem familiar (Graal, 1981), Violência e Psicanálise (Graal, 1984) e Psicanálise e contexto cultural (Campus, 1989).[13][14][15] É considerado um dos principais psiquiatras no país, sendo visto como uma referência nos estudos da área para outros pesquisadores e profissionais.[16][17][18][19] Já chegou a apresentar edições no programa Café Filosófico.[20][21]

No ano de 1996, venceu o Prêmio Jabuti - principal prêmio literário do Brasil - com o livro A Face e o Verso, na categoria de Ciências Humanas.[22][23]

Visões[editar | editar código-fonte]

Tem uma visão crítica das instituições psiquiátricas, assim como das intervenções burocratizantes dos técnicos de saúde mental, situando a importância, a contribuição e a estratégia da psicoterapia, em particular da psicanálise, em suas possíveis contribuições ou benefícios para a vida dos pacientes como também para a sociedade como um todo.[24][25]

Penso que quando faço uma certa defesa da instituição psiquiátrica isso não significa que eu queira conservar o asilo como tal. Em primeiro lugar, quando falo de Psiquiatria, atribuo à palavra um sentido absolutamente diverso daquele que tem uma codificação universitária transmitida na formação médica através de manuais. Defendo que deve haver e deve continuar havendo a possibilidade de acolhimento específico para determinados momentos da vida das pessoas, que podemos chamar de psicoses ou de formas anômalas de viver as experiências humanas, no sentido de variação individual em relação a tipo específico. Nem todo mundo está preparado e equipado para conviver de forma produtiva com esses desvios da racionalidade. Por causa disso, não acredito que basta reenviar essas pessoas para o seu meio familiar e social para que tudo esteja solucionado. Não sou a favor dessa espécie de diluição na qual se pressupõe que todo mundo tem experiências humanas similares. Por outro lado, não posso aceitar e caucionar a idéia do asilo, porque ele é o leão de chácara do que a sociedade tem de pior. Neste caso, o asilo deve ser evidentemente destruído, mas não acho que nada deva ser posto no lugar.[24]

Autor de ensaios reflexivos e até mesmo polêmicos, sua militância por uma saúde mental não normativa e seus posicionamentos e comentários sobre a cultura publicados em veículos de massa têm tido enorme presença no debate nacional de ideias.[26][27][28][29][30]

Em "Psicanálise e contexto cultural", considera que a mediação teórica básica que tenha encontrado — sem contar outras possíveis que não tenha pesquisado — é a do conceito psicanalítico de imaginário. É através do imaginário que pode-se entender a construção da subjetividade historicamente contingente e socialmente determinada.[31] Jurandir Freire Costa não se revela um psicanalista que se acomodou na repetição dos postulados freudianos, em vista de situar a psicanálise como mais uma produção cultural.[32] A preocupação do autor em elucidar por quais vias perpassa o discurso psicanalítico; verifica-se em suas obras, pelo exemplo da noção freudiana de perversão.[31]

Livros[editar | editar código-fonte]

  • História da Psiquiatria no Brasil (1976). Reeditado em 2007 pela Editora Garamond.[33]
  • Ordem Médica e Norma Familiar (1983).[13]
  • Violência e Psicanálise (1986).[14]
  • Psicanálise e Contexto Cultural: imaginário psicanalítico, grupos e psicoterapias (1989). Ed. Campus.[15]
  • A Inocência e o Vício: estudos sobre o homoerotismo (1992). Ed. Relume-Dumará.[34]
  • A Ética e o Espelho da Cultura (1994). Ed. Rocco.[35]
  • Redescrições da Psicanálise (1994). Rio de Janeiro: Ed. Relume-Dumará.[36]
  • A Face e o Verso: estudos sobre o homoerotismo II (1995). Ed. Escuta.[37]
  • Sem Fraude nem Favor: estudos sobre o amor romântico (1998). Ed. Rocco.[38]
  • Razões Públicas, Emoções Privadas (1999). Ed. Rocco.[39]
  • O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo (2004). Rio de Janeiro: Editora Garamond.[40]
  • O risco de cada um - e outros ensaios de psicanálise e cultura (2007). Rio de Janeiro: Editora Garamond.[41]
  • O ponto de vista do outro - Figuras da ética na ficção de Graham Greene e Philip K. Dick (2010). Rio de Janeiro: Editora Garamond.[42]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Cristovam Buarque / Annateresa Fabris e Alcir Pécora
Prêmio Jabuti - Ciências Humanas
1996
Sucedido por
Aziz Ab'Sáber

Referências

  1. a b «JURANDIR FREIRE COSTA | Rocco». Rocco. Consultado em 26 de abril de 2021 
  2. «Jurandir Sebastião Freire Costa». Rede Nacional de Ciência Para Educação. Consultado em 26 de abril de 2021 
  3. «École Pratique des Hautes Études - Chaînes - Canal-U». Canal-u. Consultado em 26 de abril de 2021 
  4. Martins-Borges, Lucienne; Lodetti, Mariá Boeira; Jibrin, Márcio; Pocreau, Jean-Bernard; Martins-Borges, Lucienne; Lodetti, Mariá Boeira; Jibrin, Márcio; Pocreau, Jean-Bernard (2019). «Inflexões epistemológicas: a Etnopsiquiatria». Fractal: Revista de Psicologia (SPE): 249–255. ISSN 1984-0292. doi:10.22409/1984-0292/v31i_esp/29001. Consultado em 26 de abril de 2021 
  5. a b «Jurandir Sebastião Freire Costa – Instituto de Medicina Social». Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Consultado em 26 de abril de 2021 
  6. Bezerra Jr, Benilton; Costa, Jurandir Freire; Bezerra Jr, Benilton; Costa, Jurandir Freire (2014). «Entrevista: Jurandir Freire Costa». Physis: Revista de Saúde Coletiva (4): 1023–1033. ISSN 0103-7331. doi:10.1590/S0103-73312014000400003. Consultado em 26 de abril de 2021 
  7. Vilhena, Junia. «"NOS DERAM ESPELHOS E VIMOS UM MUNDO DOENTE": REFLEXÕES SOBRE AGRESSIVIDADE, COMPORTAMENTO ANTI-SOCIAL E VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE». Revista Científica Eletrônica de Psicologia 
  8. «Um contraponto ao biopoder e ao desamparo no contexto contemporâneo: reflexões winnicottianas». Psicologia Clínica (2): 223–228. 2008. ISSN 0103-5665. doi:10.1590/S0103-56652008000200018. Consultado em 26 de abril de 2021 
  9. Lima, Rossano (2010). «Autismo como transtorno da memória pragmática: teses cognitivistas e fenomenológicas à luz da filosofia de Henri Bergson». Consultado em 26 de abril de 2021 
  10. Penna, William (2019). «ESCREVIVÊNCIAS DAS MEMÓRIAS DE NEUSA SANTOS SOUZA: APAGAMENTOS E LEMBRANÇAS NEGRAS NAS PRÁTICAS PSIS» (PDF). Universidade Federal Fluminense. Consultado em 26 de abril de 2021 
  11. «Entrevista com Jurandir Freire Costa» (PDF). 2004. Consultado em 26 de abril de 2021 
  12. «Jurandir Freire Costa». Fronteiras do Pensamento. Consultado em 26 de abril de 2021 
  13. a b Costa, Jurandir Freire (1979). Ordem médica e norma familiar. [S.l.]: Graal 
  14. a b Costa, Jurandir Freire (2003). Violência e psicanálise. [S.l.]: Graal 
  15. a b Costa, Jurandir Freire (1989). Psicanálise e contexto cultural: imaginário psicanalítico, grupos, e psicoterapias. [S.l.]: Editora Campus 
  16. Alves, Altair (9 de novembro de 2020). «Caetano Veloso e Patrícia Pillar pedem voto útil para Martha Rocha». Diário do Rio de Janeiro. Consultado em 26 de abril de 2021 
  17. Tolentino, Luana (24 de julho de 2020). «Ser feia dói?!». CartaCapital. Consultado em 26 de abril de 2021 
  18. Gigliotti, Analice (14 de agosto de 2020). «Por que precisamos falar sobre Fake News? | Manual de Sobrevivência no século XXI». VEJA RIO. Consultado em 26 de abril de 2021 
  19. Costa, Jurandir (23 de abril de 2000). «A vida e o erro». Folha de S. Paulo. Consultado em 26 de abril de 2021 
  20. Democratizar o amor e a amizade II | Jurandir Freire Costa, consultado em 26 de abril de 2021 
  21. «A ESPIRITUALIDADE NA VIDA CONTEMPORÂNEA | JURANDIR FREIRE COSTA». TV Cultura. Consultado em 26 de abril de 2021 
  22. «Premiados do Ano | 62º Prêmio Jabuti». Prêmio Jabuti. Consultado em 26 de abril de 2021 
  23. «Prêmio Jabuti 2019 tem livro de Fernanda Young entre os vencedores; veja lista». G1. 29 de novembro de 2019. Consultado em 26 de abril de 2021 
  24. a b Bezerra Jr, Benilton; Costa, Jurandir Freire (dezembro de 2014). «Entrevista: Jurandir Freire Costa». Physis: Revista de Saúde Coletiva: 1023–1033. ISSN 0103-7331. doi:10.1590/S0103-73312014000400003. Consultado em 26 de abril de 2021 
  25. Spohr, Bianca (2011). «Lógica psiquiátrica e reforma em saúde mental». Mental (17): 559–570. ISSN 1679-4427. Consultado em 26 de abril de 2021 
  26. Gentil, Valentim (30 de novembro de 1999). «Uma leitura anotada do projeto brasileiro de "Reforma Psiquiátrica"». Revista USP (43). 6 páginas. ISSN 2316-9036. doi:10.11606/issn.2316-9036.v0i43p6-23. Consultado em 26 de abril de 2021 
  27. Velleda, Luciano (15 de junho de 2019). «Em tempos de respostas para tudo, escritor lança livro em busca de perguntas». Rede Brasil Atual. Consultado em 26 de abril de 2021 
  28. Pichonelli, Matheus (27 de setembro de 2019). «Boom da ficção anticientífica escancara ódio e sectarismo do mundo atual». TAB. UOL. Consultado em 26 de abril de 2021 
  29. Pichonelli, Matheus (6 de setembro de 2019). «Bolsonaro e a TV». Com Ciência. Consultado em 26 de abril de 2021 
  30. Pradera, Humberto (28 de novembro de 2019). «Jurandir Freire: a desigualdade traz o desencantamento da sociedade». Partido Socialista Brasileiro. Consultado em 26 de abril de 2021 
  31. a b «Psicanálise e cultura». Mental (13): x–x. 2009. ISSN 1679-4427. Consultado em 26 de abril de 2021 
  32. Colucci, Vera Lucia (1989). «As razões de uma Ética». Psicologia: Ciência e Profissão (2): 37–38. ISSN 1414-9893. doi:10.1590/S1414-98931989000200014. Consultado em 26 de abril de 2021 
  33. Costa, Jurandir Freire (10 de outubro de 2011). História da Psiquiatria no Brasil. [S.l.]: Editora Garamond 
  34. Costa, Jurandir Freire (1992). A inocência e o vício: estudos sobre o homoerotismo. [S.l.]: Relume Dumará 
  35. Costa, Jurandir Freire (1994). A ética e o espelho da cultura. [S.l.]: Rocco 
  36. FREIRE, JURANDIR COSTA. REDESCRIÇOES DA PSICANALISE. [S.l.]: RELUME-DUMARA 
  37. Costa, Jurandir Freire (1995). A face e o verso: estudos sobre o homoerotismo II. [S.l.]: Escuta 
  38. Costa, Jurandir Freire (1 de janeiro de 1998). Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico. [S.l.]: Rocco 
  39. Costa, Jurandir Freire (1999). Razões públicas, emoções privadas. [S.l.]: Rocco 
  40. Costa, Jurandir Freire (2005). O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. [S.l.]: Garamond 
  41. Costa, Jurandir Freire (2007). O risco de cada um: e outros ensaios de psicanálise e cultura. [S.l.]: Editora Garamond 
  42. Costa, Jurandir Freire (2010). O ponto de vista do outro: figuras de ética na ficção de Graham Greene e Philip K. Dick. [S.l.]: Garamond