Impacto do cristianismo na civilização

Cristãos famosos de grande destaque em diversas áreas.

O papel do cristianismo na civilização ocidental está interligada com a formação da história e da sociedade ocidental. Seus efeitos, tanto benéficos quanto desafiadores, moldaram o panorama cultural, ético e político, impactando o Ocidente e outras civilizações pelo mundo. As influências positivas da religião cristã são destacadas por estudiosos de diversas áreas, mas muitos também criticam seu legado. A influência cristã se estende a diversos aspectos da civilização.

Influência positiva[editar | editar código-fonte]

Através de sua longa história, a igreja tem sido uma fonte importante de serviços sociais como a educação, visto que várias universidades do mundo foram fundadas pela Igreja,[1] Historiadores da ciência como JL Heilbron,[2] AC Crombie, David Lindberg,[3] Edward Grant, Thomas Goldstein,[4] e Ted Davis, têm argumentado que a Igreja teve uma influência positiva e significativa no desenvolvimento da ciência,[5][6] e que sacerdotes-cientistas, muitos dos quais jesuítas, estão entre os luminares na astronomia, genética, geomagnetismo, meteorologia, sismologia e física solar, tornando-se alguns dos "pais" dessas ciências.[7] Praticamente todos os historiadores da ciência reconhecem agora o papel que o Cristianismo desempenhou.[8] Porém, é falsa a ideia de que apenas o Cristianismo produziu a ciência moderna[8], uma vez que foi a síntese da teologia cristã com a filosofia grega que moldou o pensamento científico moderno.[9][10][11]

A Igreja incentivou os cuidados médicos e serviços de bem-estar, influenciando no desenvolvimento da medicina e criação de hospitais.[12][13] Também teve influência em termos econômicos.[14]: Foi inspiração para a cultura e filosofia, e elemento influente na política e religião. Engenharia e matemática avançaram e isto refletiu-se através da transformação da arquitetura na Idade Média. De várias maneiras, tem procurado afetar atitudes ocidentais para o vício e a virtude em diversos campos. Foi, durante muitos séculos, propagadora dos ensinamentos de Jesus dentro do mundo ocidental e continua a ser uma fonte de continuidade entre a cultura ocidental moderna à cultura ocidental clássica.

A Bíblia e teologia cristã também influenciaram fortemente filósofos ocidentais e ativistas políticos.[15][16] Os ensinamentos de Jesus, como a Parábola do Bom Samaritano, estão entre as fontes importantes para as noções modernas de direitos humanos e medidas do bem-estar habitualmente fornecidas pelos governos do Ocidente.[17] Assim como ensinamentos cristãos sobre a sexualidade humana e o casamento também têm sido influentes na vida familiar.[18][19]

O cristianismo desempenhou um importante papel na extinção de práticas como o sacrifício humano, a escravidão,[20] o infanticídio e a poligamia.[21] Ele, em geral, afetou o estatuto das mulheres, condenando o infanticídio (bebês do sexo feminino tinham maior probabilidade de serem mortos), o divórcio, incesto, infidelidade, estupro poligamia, controle de natalidade, aborto e a defesa do casamento.[22][23][13][24] Embora o ensino oficial da Igreja considera que apenas homens e mulheres são complementares.

Também desempenhou um papel central na promoção da liberdade religiosa.[24][25] Embora o conceito de liberdade religiosa seja frequentemente creditado aos iluministas, seus primeiros defensores foram dois teólogos da patrística, Tertuliano e Lactâncio, que o fizeram tendo a Bíblia por fonte.[24] Na era moderna e contemporânea, os batistas foram seus mais proeminentes defensores.[26] Thomas Helwys escreveu uma das primeiras grandes defesa da liberdade religiosa e separação entre igreja e estado.

A promoção da educação também foi de grande importância[24], inclusive por meio da fundação de universidades.[13] Durante a Reforma Protestante, a democratização da educação foi uma pauta importante, pois os reformadores queriam que todos pudessem ler e interpretar a Bíblia.[27] Froebel e Comenius foram fortemente influenciados por suas convicções cristãs.

Influência do cristianismo não se restringe sobre a civilização ocidental, os cristãos também têm desempenhado um papel de destaque nos recursos de desenvolvimento e pioneiro da civilização islâmica.[28]

Martin Luther King Jr., pastor batista e ativista pelos direitos civis, escreveu sobre a influência do ensinamento cristão de amor em suas ideias. Inicialmente, ele via os ensinamentos de Jesus como aplicáveis apenas a interações individuais, mas após conhecer Gandhi, percebeu o potencial amplo desses ideais éticos. Para King, Gandhi elevou a ética do amor de Jesus a uma poderosa ferramenta social, combinando a base espiritual de Cristo com a metodologia estratégica de Gandhi, tornando o amor e a não violência princípios centrais no movimento pelos direitos civis. Segundo ele, isso serviu de exemplo para sua luta pelos direitos civis.[29]

A influência cultural da Igreja tem sido muito grande. Festas como a Páscoa e o Natal são marcados universalmente como feriados; o calendário gregoriano (do Papa Gregório XIII) foi adotado internacionalmente como o calendário civil; e o próprio tempo é medido pelo Ocidente a partir da data prevista de nascimento do suposto fundador da Igreja, Jesus de Nazaré: a AD Um Ano (Anno Domini). Na lista das 100 Pessoas Mais Influentes na história humana, 65 por cento figuras cristãs de diversas áreas.[30]

Em violeta, países de maioria cristã.

Influência negativa[editar | editar código-fonte]

Muitos estudiosos também tem apontado impactos negativos. Embora o movimento abolicionista britânico e o americano tenham se desenvolvido no seio da tradição cristã, muitos outros reivindicaram o Cristianismo para defender a escravidão.[31] O abolicionista Joaquim Nabuco criticou a Igreja Católica no Brasil por não se posicionar contra a escravidão, ao contrário de muitas igrejas na Europa e Estados Unidos.[32]

O tribunal da Inquisição e a caça às bruxas também são apontados como exemplos de perseguição promovida em nome do Cristianismo. Guerras religiosas na Idade Média e na Idade Moderna, como as Cruzadas e as guerras de religião dos séculos XVI e XVII, também são apontadas como exemplos de impactos negativos do Cristianismo.

A relação de missionários cristãos com as potências coloniais também é uma questão controvertida, envolvendo conflitos em algumas ocasiões, mas também alianças em outras.[31][33][34][35][36]

A extensão de alguns desses impactos negativos é alvo de intenso debate acadêmico. Embora a inquisição e a caça às bruxas tenham feito muitas vítimas ao longo de mais de três séculos, os números frequentemente são exagerados por críticos como Carl Sagan e outros. Autores acadêmicos contemporâneos tem colocado as vítimas da Inquisição Espanhola entre 2 e 3 mil, enquanto as vítimas da caça às bruxas estariam na casa dos 30 mil.[37][38][39]

O quão religiosas eram realmente as guerras dos séculos XVI e XVII também é alvo de discussões, com muitos argumentando que, embora o discurso religioso estivesse presente, a religião não era a grande motivação dessas guerras[40][41]. É apontado como evidência disso o fato de que a guerra envolveu várias alianças entre católicos e protestantes, sendo em essência um combate entre as duas maiores potências católicas da época: a França e o Sacro Império Romano.[42]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Christianity and eduction
  2. «J.L. Heilbron». London Review of Books. Consultado em 15 de setembro de 2006 
  3. Lindberg, David C.; Numbers, Ronald L. (2003). When Science and Christianity Meet. [S.l.]: University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-48214-9 
  4. Goldstein, Thomas (1995). Dawn of Modern Science: From the Ancient Greeks to the Renaissance. [S.l.]: Da Capo Press. ISBN 978-0-306-80637-7 
  5. Christianity and science
  6. Are Christians "Anti-S Assim também acontece com a caça às bruxas, que embora frequentemente estejam envoltos em exageros e mitos histór, não podem ser negligenciados, pois fizeram milhares de Guerras religiosas também são apontadas como exemplos de impactos negativos do Cristianismo.vítimas.icoscience?"
  7. Wright, Jonathan (2004). The Jesuits. [S.l.: s.n.] p. 189 
  8. a b Numbers, Ronald L., ed. (2010). Galileo goes to jail: and other myths about science and religion First Harvard University Press paperback edition ed. Cambridge, Massachusetts London: Harvard University Press 
  9. Numbers, Ronald L., ed. (8 de novembro de 2010). Galileo Goes to Jail and Other Myths about Science and Religion (em English) Reprint edition ed. Cambridge, Massachusetts London: Harvard University Press 
  10. Pearcey, Nancy (1 de janeiro de 2019). A Alma da Ciência 1ª edição ed. [S.l.]: Cultura Cristã 
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