Ian Hacking

Ian Hacking
Ian Hacking
Hacking in 2009
Nascimento 18 de fevereiro de 1936
Vancouver, Colúmbia Britânica, Canadá
Morte 10 de maio de 2023 (87 anos)
Toronto, Ontário, Canadá
Nacionalidade Canadense
Cidadania Canadá
Cônjuge Laura Anne Leach (c. ?)
Nancy Cartwright (c. ?)
Judith Baker (c. ?)
Filho(a)(s) 3
Alma mater Universidade da Colúmbia Britânica
Trinity College, Cambridge
Ocupação filósofo, professor, historiador
Prêmios Prêmio Izaak-Walton-Killam (2002)
Empregador(a) Universidade de Toronto, Departamento de Filosofia da Universidade de Stanford, Collège de France, Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences
Orientador(a)(es/s) Casimir Lewy
Orientado(a)(s) David Papineau
Instituições Universidade de Princeton (1960), Universidade da Virgínia (1961), Universidade da Colúmbia Britânica (1964-1969), Universidade de Stanford
Campo(s) Filosofia
Escola/tradição Filosofia Analítica
Movimento estético epistemologia histórica
Página oficial
http://www.ianhacking.com

Ian Hacking, CC FRSC FBA (Vancuver, 18 de fevereiro de 1936Toronto, 10 de maio de 2023) foi um filósofo canadense especializado em filosofia da ciência.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em Vancuver, graduou-se na Universidade da Colúmbia Britânica (1956) e na University of Cambridge (1958), onde estudou no Trinity College. Hacking doutorou-se em Cambridge em 1962, sob a orientação de Casimir Lewy, um ex-aluno de G. E. Moore. Após lecionar por vários anos na Stanford University, foi para a University of Toronto em 1982. De 2000 a 2006 ocupou a Cátedra de Filosofia e História dos Conceitos Científicos do Collège de France. Aposentou-se em 2006, tornando-se professor honorário da cátedra e professor emérito da Universidade de Toronto.[1][2]

Em 2002, Hacking recebeu Prêmio Killam para as Humanidades, a mais prestigiosa honraria do Canadá por realizações notáveis na carreira. Ele foi nomeado Companheiro da Ordem do Canadá (CC) em 2004.[3] Hacking foi nomeado professor visitante na Universidade da Califórnia, Santa Cruz, nos invernos de 2008 e 2009. Em 25 de agosto de 2009, Hacking foi anunciado como vencedor do Prêmio Holberg, uma distinção norueguesa por trabalhos acadêmicos nas áreas das artes, humanidades, ciências sociais, direito e teologia.[18]

Em 2003, prelecionou a Palestra Memorial Sigmund H. Danziger Jr. em Humanidades, e em 2010 ministrou as Palestras René Descartes no Tilburg Center for Logic and Philosophy of Science (TiLPS). Hacking também apresentou as Palestras Howison na Universidade da Califórnia, Berkeley, sobre o tema de matemática e suas fontes no comportamento humano ('Prova, Verdade, Mãos e Mente') em 2010. Em 2012, Hacking recebeu a Condecoração Austríaca de Ciência e Arte, e em 2014 foi agraciado com o Prêmio Balzan.[4]

Morreu no dia 10 de maio de 2023, aos 87 anos.[5]

Trabalho Filosófico[editar | editar código-fonte]

Influenciado por debates envolvendo Thomas Kuhn, Imre Lakatos, Paul Feyerabend e outros, Hacking é conhecido por adotar uma abordagem histórica à filosofia da ciência.[6] A quarta edição (2010) do livro Against Method, de 1975, de Feyerabend, e a edição do 50º aniversário (2012) de A Estrutura das Revoluções Científicas, de Kuhn, incluem uma introdução de Hacking. Ele é às vezes descrito como membro da "Escola de Stanford" na filosofia da ciência, um grupo que inclui também John Dupré, Nancy Cartwright e Peter Galison. Hacking se identificava como um filósofo analítico de Cambridge. Ele foi um grande defensor do realismo sobre a ciência, chamado de "realismo de entidades".[7] Essa forma de realismo incentiva uma postura realista em relação às respostas para as incógnitas científicas hipotetizadas por ciências maduras (do futuro), mas mantém um ceticismo em relação às teorias científicas atuais. Hacking também influenciou a atenção direcionada às práticas experimentais e mesmo às práticas de engenharia da ciência, e à sua relativa autonomia em relação à teoria. Por causa disso, Hacking levou o pensamento filosófico um passo além do giro inicial histórico, mas intensamente focado em teoria, de Kuhn e outros.[8]

Após 1990, Hacking direcionou seu foco um tanto das ciências naturais para as ciências humanas, em parte sob a influência do trabalho de Michel Foucault. Foucault foi uma influência desde 1975, quando Hacking escreveu "Por Que a Linguagem Importa para a Filosofia?" e "O Surgimento da Probabilidade". Neste último livro, Hacking propôs que o cisma moderno entre a probabilidade subjetiva ou personalista e a interpretação de frequência de longo prazo emergiu na era moderna inicial como uma "ruptura" epistemológica envolvendo dois modelos incompatíveis de incerteza e chance. Como história, a ideia de uma ruptura acentuada foi criticada,[9][10] mas interpretações 'frequentista' e 'subjetiva' concorrentes de probabilidade permanecem até hoje. A abordagem de Foucault aos sistemas de conhecimento e poder também se reflete no trabalho de Hacking sobre a mutabilidade histórica dos distúrbios psiquiátricos e papéis institucionais para o raciocínio estatístico no século XIX. Ele rotula sua abordagem às ciências humanas como [11] (também nominalismo dinâmico[12] or realismo dialético),[12] uma forma historicizada de nominalismo que traça as interações mútuas ao longo do tempo entre os fenômenos do mundo humano e nossas concepções e classificações deles.[13]

Em Mad Travelers (1998), Hacking forneceu um relato histórico dos efeitos de uma condição médica conhecida como fuga psicogênica no final do século XIX. A fuga psicogênica, também conhecida como "Fuga dissociativa", é um tipo diagnosticável de insanidade em que homens europeus caminhavam em transe por centenas de milhas sem conhecimento de suas identidades.[14]

Obras[editar | editar código-fonte]

Livros traduzidos para o português[editar | editar código-fonte]

  • Por que a linguagem interessa à filosofia?. São Paulo, Ed. Unesp, 2006. 201p. (B)[15]
  • Ontologia histórica. Rio Grande do Sul, Ed. UNISINOS, 2009. 308p. (B)[16]
  • Representar e Intervir. Tópicos Introdutórios de Filosofia da Ciência Natural. Rio de Janeiro, EdUERJ, 2012. 406p. (B)[17]

Livros[editar | editar código-fonte]

Capítulos de livros[editar | editar código-fonte]

  • Hacking, Ian (1992), «The self-vindication of the laboratory sciences», in: Pickering, Andrew, Science as practice and culture, ISBN 978-0-226-66801-7, Chicago: University of Chicago Press, pp. 29–64. 
  • Hacking, Ian (1996), «Causal Cognition: A Multidisciplinary Debate», in: Sperber, Dan; Premack, David; Premack, Ann James, The Looping Effects of Human Kinds, ISBN 9780191689093, Oxford University Press, pp. 351–394 

Artigos[editar | editar código-fonte]

Prêmios e distinções honorárias[editar | editar código-fonte]

  • Pesquisador Izaak Walton Killam (1986-1988)[31]
  • Bolsista do John Simon Guggenheim Memorial entre 1990 e 1991.[33]
  • Ganhador do Prêmio Pierre Janet (pelo livro Rewriting the Soul) em 1996[36]
  • Killam Prize for the Humanities (2002)[39]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Ian Hacking, philosopher». Ian Hacking (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  2. «Ian Hacking fonds - Finding Aid» (PDF). University of Toronto Discover Archives (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  3. «Mr. Ian Hacking». Governor-General of Canada (em inglês). Consultado em 11 de maio de 2023 
  4. Michael Valpy (26 de agosto de 2009). «From autism to determinism, science to the soul». The Globe and Mail. pp. 1, 7. Consultado em 14 de abril de 2012 
  5. «In memoriam: Ian Hacking (1936-2023)». Department of Philosophy (em inglês). Consultado em 11 de maio de 2023 
  6. Hacking, Ian (2002). Historical Ontology. [S.l.]: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-00616-4. JSTOR j.ctv1n3x198. doi:10.2307/j.ctv1n3x198 
  7. Boaz Miller. «What is Hacking's Argument for Entity Realism?». philarchive.org. Consultado em 27 de junho de 2023 
  8. Grandy, Karen. «Ian Hacking». The Canadian Encyclopedia. Consultado em 10 de junho de 2016. Cópia arquivada em 10 de agosto de 2016 
  9. Garber, Daniel; Zabell, Sandy (1979). «On the emergence of probability». Archive for History of Exact Sciences. 12 (1): 33–53. JSTOR 41133550. doi:10.1007/BF00327872. Consultado em 20 de agosto de 2022 
  10. Franklin, James (2001). The Science of Conjecture: Evidence and Probability Before Pascal. Baltimore: Johns Hopkins University Press. p. 373. ISBN 0-8018-6569-7 
  11. Uma visão que Hacking também atribui a Thomas Kuhn (veja D. Ginev, Robert S. Cohen (eds.), Issues and Images in the Philosophy of Science: Scientific and Philosophical Essays in Honour of Azarya Polikarov, Springer, 2012, pp. 313–315).
  12. a b Ş. Tekin (2014), "The Missing Self in Hacking's Looping Effects".
  13. «Root and Branch». The Nation. ISSN 0027-8378. Consultado em 10 de junho de 2016. Cópia arquivada em 4 de março de 2016 
  14. «Dissociative Amnesia, DSM-IV Codes 300.12 ( Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition )». Psychiatryonline.com. Consultado em 18 de novembro de 2011. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2007 
  15. Hacking, Ian; Romeijn, Jan-Willem (2006). Por que a linguagem interessa à filosofia?. [S.l.]: Editora UNESP. ISBN 9788571392496 
  16. Hacking, Ian (2009). Ontologia histórica. [S.l.]: Ed. UNISINOS. ISBN 978-8574313368 
  17. Hacking, Ian (2012). Representar e Intervir. Tópicos Introdutórios de Filosofia da Ciência Natural. [S.l.]: EdUERJ. ISBN 978-85-7511-236-6 
  18. Hacking, Ian; Romeijn, Jan-Willem (2016). Logic of Statistical Inference – Ian Hacking (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9781107144958. doi:10.1017/CBO9781316534960 
  19. Barnouw, Jeffrey (1979). «Review of The Emergence of Probability: A Philosophical Study of Early Ideas About Probability, Induction and Statistical Inference.». Eighteenth-Century Studies (em inglês). 12 (3): 438–443. ISSN 0013-2586. JSTOR 2738528. doi:10.2307/2738528 
  20. Loeb, Louis E. (1977). «Review of Why does Language Matter to Philosophy?». The Philosophical Review (em inglês). 86 (3): 437–440. ISSN 0031-8108. JSTOR 2183805. doi:10.2307/2183805 
  21. Hacking, Ian (20 de outubro de 1983). Representing and Intervening: Introductory Topics in the Philosophy of Natural Science (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-28246-8 
  22. Hacking, Ian (1983). Representing and Intervening: Introductory Topics in the Philosophy of Natural Science. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-28246-8 
  23. Hacking, Ian (1990). The Taming of Chance. Col: Ideas in Context (em inglês). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-38014-0 
  24. Hacking, Ian (1995). Rewriting the Soul: Multiple Personality and the Sciences of Memory. [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 978-0-691-05908-2. JSTOR j.ctt7rr17 
  25. «Rewriting the soul: Multiple personality and the sciences of memory.». psycnet.apa.org (em inglês). Consultado em 17 de maio de 2023 
  26. Hacking, Ian (1998). Mad travelers: reflections on the reality of transient mental illnesses. Col: Page-Barbour lectures for (em inglês) 1. publ ed. Charlottesville, Va.: Univ. Press of Virginia. ISBN 978-0-8139-1823-5 
  27. Hacking, Ian (15 de novembro de 2000). The Social Construction of What?. Cambridge, MA: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-00412-2 
  28. Hacking, Ian (2 de julho de 2001). An Introduction to Probability and Inductive Logic (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-77501-4 
  29. «In memoriam: Ian Hacking (1936-2023)». Department of Philosophy (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  30. «Ian Hacking». Institute for Advanced Study (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  31. «Ian Hacking. Biographie et publications. Philosophie et histoire des concepts scientifiques». Collège de France (em francês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  32. «Past Tarner Lectures». Tarner Public Lectures Trinity College Cambridge (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  33. «Ian HackingIan Hacking». John Simon Guggenheim Memorial Foundation (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  34. «Ian Hacking». American Academy of Arts and Sciences (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  35. «Professor Ian Hacking FBA». The British Academy (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  36. «Ian Hacking Biographie et publications Philosophie et histoire des concepts scientifiques». Collège de France (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  37. «Professor Ian Macdougall Hacking, 1936-2023». Professor Ian Macdougall Hacking, 1936-2023 (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  38. «THE TITLE AND DEGREE OF DOCTOR OF LAWS, (honoris causa) CONFERRED AT CONGREGATION, MAY 28, 2001». UBC Archives - Honorary Degree Citations - 2000-02 (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  39. «Two Profs Win Killam Prize». University of Toronto Magazine (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  40. «Order of Canada». The Governor General of Canada (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  41. «SSHRC Gold Medal for Achievement in Research». Winning SSHRC Research - SSHRC Gold Medal for Achievement in Research - Ian Hacking (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  42. «Ian Hacking awarded the Holberg Prize 2009». Holberg Prize (em inglês). Consultado em 16 de dezembro de 2023 

Obras relacionadas[editar | editar código-fonte]

  • Martínez Rodríguez, María Laura (2021) Texture in the Work of Ian Hacking. Springer International Publishing. ISBN: 978-3-030-64785-8
  • Sciortino, Luca (2023) History of Rationalities: Ways of Thinking from Vico to Hacking and Beyond Springer - Palgrave McMillan ISBN: 978-3-031-24003-4