Forte das Chagas

Planta do Forte das Chagas (Damião Pego, Agosto de 1881).

O Forte das Chagas, também referido como Forte de São Francisco devido à sua proximidade com o convento desse nome,[1] localizava-se na freguesia de Santa Cruz, no concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, nos Açores.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro e do antigo canal de acesso ao Paul, contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Último forte que fechava a baía da Praia da Vitória pelo lado sul, cruzava fogos com o Forte de São João, ao norte, e com a Bateria da Luz e com o Forte do Porto, ao sul.

História[editar | editar código-fonte]

Embora a historiografia tradicional faça remontar a sua construção a 1576 por determinação do corregedor dos Açores, Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, [2] conforme o plano de defesa da ilha elaborado por Tommaso Benedetto, estudos mais recentes sugerem que a sua origem poderá remontar ao período do povoamento, e ser uma das duas "fortalezas velhas, que se fizeram quando se amurou a vila".[3]

A sua designação veio do fato de ter sido erguido em terreno pertencente ao Convento ou Recolhimento das Chagas, instituído pelo fidalgo Domingos Homem da Câmara e sua esposa Rosa de Macedo, para recolhimento das filhas solteiras do casal, erguido em 1543.

O padre António Cordeiro, em 1717, refere este forte, dando-o artilhado com duas peças.[4]

Com a instalação da Capitania Geral dos Açores, o seu estado foi assim reportado em 1767:

"25º - Forte das Chagas. Está reformado de novo e precisa a sua porta ser concertada, tem seis canhoneiras e tres peças de ferro boas com seus reparos capazes, precisa mais tres peças com seus reparos e para se guarnecer seis artilheiros e vinte e quatro auxiliares."[5]

Encontra-se referido como "24. Forte das Chagas na mesma b.ª [da Praia]" no relatório "Revista aos fortes que defendem a costa da ilha Terceira", do Ajudante de Ordens Manoel Correa Branco (1776), que lhe aponta os reparos necessários: "Necessita de tarimba na sua caza, o tilhado composto de algú pequeno conserto no dito Forte e portáo novo."[6]

Encontra-se assinalado como "H Forte das Chagas" na "Planta da Bahia da Villa da Praia" (1805),[7] e, no mesmo período, dele existe alçado e planta, com o título "Forte das Chagas", de autoria do sargento-mor do Real Corpo de Engenheiros, José Rodrigo de Almeida (1806).[8]

No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), quando da Batalha da Praia (11 de agosto de 1829) contra as forças de Miguel I de Portugal encontrava-se desartilhado, assim como o vizinho Forte da Luz. À época, optou-se estrategicamente por defender aquela frente, onde um desembarque seria mais provável, com trincheiras e outras barreiras que protegeriam o grosso das forças defensivas aí a postar.

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que se encontrava em bom estado.[9]

Quando da realização dos Tombos, em princípios de 1881, o mesmo foi encontrado devoluto, sendo o terreno usado há vários anos como logradouro do Comandante Militar da então Vila da Praia. À época encontrava-se arruinado e abandonado, após ter sido, durante anos, vigiado por um sargento reformado que tomava conta do mesmo.[10]

Até à década de 1940 encontrava-se em bom estado.[11] Em meados do século XX[12] os seus restos foram demolidos, tendo a sua cantaria sido subtraída por empresas construtoras, para servir de alicerce às edificações da atual avenida 25 de Abril.

Características[editar | editar código-fonte]

Do tipo abaluartado, apresentava planta no formato poligonal orgânico, adaptada à rocha sobre a qual se ergue. Em aparelho de cantaria de pedra, ocupava uma área de 980 metros quadrados.

Com capacidade para cinco peças de artilharia em canhoneiras, no terrapleno possuía casa para a guarnição e paiol.

MELO refere que possuía razoáveis proporções, semelhante às dos vizinhos Forte de São José e Forte do Espírito Santo, mas menor que o Forte de Santa Catarina.[13]

Referências

  1. Onde hoje se localiza o Auditório do Ramo Grande. FARIA, Manuel. in FAGUNDES, Helena. "Na costa Terceirense Fortes ao Abandono". in Revista DI, nº 357, 14 fev 2010, p. 7. MELO (1994), complementa que se erguia onde está hoje o primeiro pontão que divide a praia Grande da praia dos Sargentos. (Op. cit., p. 62.)
  2. DRUMMOND, 1981:231-232.
  3. FRUTUOSO, 2005.
  4. CORDEIRO, 1981:257-258.
  5. JÚDICE, 1981.
  6. Revista aos Fortes que Defendem a costa da Ilha Terceira - 1776 Arquivado em 27 de dezembro de 2013, no Wayback Machine. in IHIT.pt. Consultado em 3 dez 2011.
  7. "Planta da Bahia da Villa da Praia. para a Intiligencia do Molhe e Projecto do Ill.mo e Ex.mo Snr. Conde de S. Lourenço Governador e Capitão General das Ilhas dos Açores" in Biblioteca Nacional Digital. Consultado em 31 dez 2011.
  8. "Alçado e planta dos fortes da Luz, das Chagas, Santo Antão e Santa Catarina do Cabo da Praia, 1806, Praia da Vitória, ilha Terceira, Açores." in Arquipélagos.org. Consultado em 31 dez 2011.
  9. BASTOS, 1997:273.
  10. PEGO, 1996.
  11. FARIA, Manuel. in FAGUNDES, Helena. "Na costa Terceirense Fortes ao Abandono". in Revista DI, nº 357, 14 fev 2010, p. 7.
  12. MELO, 1994:62.
  13. Op. cit., p. 62.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Anónimo. "Colecção de todos os fortes da jurisdição da Villa da Praia e da jurisdição da cidade na Ilha Terceira, com a indicação da importância da despesa das obras necessárias em cada um deles (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • Anónimo. "Revista aos Fortes que Defendem a Costa da Ilha Terceira – 1776 (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que devem ser conservados para defeza permanente." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 272-274.
  • CORDEIRO, António (SJ). História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeytas no Oceano Occidental (reimpr da ed. de 1717). Terceira (Açores): Secretaria Regional de Educação e Cultura, 1981.
  • DRUMMOND, Francisco Ferreira. Anais da Ilha Terceira (fac-simil. da ed. de 1859). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981.
  • FARIA, Manuel Augusto. "Ilha Terceira – Fortaleza do Atlântico: Forte do Negrito". in Diário Insular, s/d.
  • FRUTUOSO, Gaspar. Saudades da Terra (6 vols.). Ponta Delgada (Açores): Instituto Cultural de Ponta Delgada, 2005. 124p. ISBN 972-9216-70-3
  • JÚDICE, João António. "Revista dos Fortes da Terceira". in Arquivo dos Açores, vol. V (ed. fac-similada de 1883). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 359-363.
  • MARTINS, José Salgado, "Património Edificado da Ilha Terceira: o Passado e o Presente". Separata da revista Atlântida, vol. LII, 2007. p. 47.
  • MELO, Paulo de Ávila. Ruas e Lugares da Praya (Notas para a sua História) I Volume. Praia da Vitória (Açores): Câmara Municipal da Praia da Vitória, 1994. 224p. fotos p/b.
  • MOTA, Valdemar. "Fortificação da Ilha Terceira". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • PEGO, Damião; ALMEIDA JR., António de. "Tombos dos Fortes da Ilha Terceira (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LIV, 1996.
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]