Epistemicídio

Epistemicídio é um termo normalmente utilizado por Boaventura de Sousa Santos desde a sua obra Pela Mão de Alice, até as obras que se seguiram. Contudo, também tem sido muito utilizado por autores e autoras que analisam a influência da colonização europeia (branca) e do imperialismo capitalista sobre os processos de produção e reprodução da vida. O epistemicídio é, em essência, a destruição de conhecimentos, de saberes e de culturas não assimiladas pela cultura ocidental. É um subproduto do colonialismo instaurado pelo avanço imperialista europeu sobre os povos da Ásia, da África e das Américas.[1][2][3][4]

História[editar | editar código-fonte]

O epistemicídio está inicialmente associado aos "exercícios de poder e violência contra saberes chamados de subalternos ou abissais".[5] Isso se refere à supressão ou desvalorização sistemática de determinados sistemas de conhecimento, geralmente aqueles associados a grupos marginalizados ou minoritários.[5][6]

Historicamente, o epistemicídio está relacionado à imposição de uma perspectiva eurocêntrica e norte-americana como hegemônica no campo do conhecimento, em detrimento de outras formas de saber.[7][8] Isso ocorreu através de estratégias como a negação da legitimidade de outros conhecimentos e a representação pejorativa de determinados grupos e suas práticas epistêmicas.[5][9]

Com o tempo, o conceito de epistemicídio se expandiu e passou a ser discutido em diversas áreas, incluindo a Ciência da Informação.[5] Isso se deve à necessidade de uma postura epistemologicamente crítica diante dessas dinâmicas de poder e violência contra saberes considerados "subalternos".[5][6][8]

Portanto, a história do conceito de epistemicídio envolve o reconhecimento da diversidade de construções de conhecimento e a denúncia da hegemonia de perspectivas eurocêntricas e norte-americanas, bem como a busca por maior justiça epistemológica.[7][8]

Referências

  1. «Boaventura de Sousa Santos - Artigos em Revistas Científicas». www.boaventuradesousasantos.pt. Consultado em 29 de maio de 2024 
  2. ANPG, Jornalista (23 de abril de 2019). «Epistemicídio: O que contribui para tornar o negro invisível na academia?». Associação Nacional de Pós-Graduandos. Consultado em 29 de maio de 2024 
  3. Carneiro, Sueli (4 de setembro de 2014). «Epistemicídio». Portal Geledés. Consultado em 29 de maio de 2024 
  4. Silva, Denise Almeida (2014). «DE EPISTEMICÍDIO, (IN)VISIBILIDADE E NARRATIVA: REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA DE REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA EM CADERNOS NEGROS». Ilha do Desterro: 51–62. ISSN 0101-4846. doi:10.5007/2175-8026.2014n67p51. Consultado em 29 de maio de 2024 
  5. a b c d e Gonçalves, Robson de Andrade; Mucheroni, Marcos L. (30 de novembro de 2021). «O que é epistemicídio? Uma introdução ao conceito para a área da Ciência da Informação». Liinc em Revista (2): e5759. ISSN 1808-3536. doi:10.18617/liinc.v17i2.5759. Consultado em 29 de maio de 2024 
  6. a b Santos, Elisabete Figueroa dos; Pinto, Eliane Aparecida Toledo; Chirinéa, Andréia Melanda (9 de abril de 2018). «A Lei nº 10.639/03 e o Epistemicídio: relações e embates». Educação & Realidade (3): 949–967. ISSN 2175-6236. doi:10.1590/2175-623665332. Consultado em 29 de maio de 2024 
  7. a b Souza, Carll; Oliveira dos Santos, Elisabeth Maria (5 de dezembro de 2019). «Sobre a história que a história não conta: por contranarrativas epistemológicas». Revista Discente Ofícios de Clio (6). 52 páginas. ISSN 2527-0524. doi:10.15210/clio.v4i6.16397. Consultado em 29 de maio de 2024 
  8. a b c Paim, Elison Antonio; Araújo, Helena Maria Marques (15 de julho de 2021). «O pensamento decolonial no horizonte de combate à violência epistemológica e/ou o epistemicídio no ensino de História». Intellèctus (1). ISSN 1676-7640. doi:10.12957/intellectus.2021.60983. Consultado em 29 de maio de 2024 
  9. Fonsêca, Vitor; Soares, Caroline Da Silva (1 de março de 2022). «Epistemicídio das narrativas negras e litígio estrutural: instrumentos extrajudiciais para dissolução do problema no sistema educacional». Revista Brasileira de Políticas Públicas (3). ISSN 2236-1677. doi:10.5102/rbpp.v11i3.7420. Consultado em 29 de maio de 2024