Dicionário de Tupi Antigo

Dicionário de Tupi Antigo
Dicionário de Tupi Antigo
Capa da 1ª edição
Autor(es) Eduardo de Almeida Navarro
Idioma português
País Brasil
Assunto língua tupi
Gênero dicionário
Ilustrador Célio Cardoso
Editora Global
Formato 16 × 23 cm[1]
Lançamento 2013
Páginas 620
ISBN 9788526019331

O Dicionário de Tupi Antigo: a língua indígena clássica do Brasil é um dicionário da língua tupi elaborado pelo lexicógrafo e filólogo Eduardo Navarro e publicado em 2013.[2][3] A obra foi concebida tendo como meta a difusão do tupi para um público mais amplo, não restrito aos meios acadêmicos.[4]

Dividido em três partes, tem no seu início um vocabulário português-tupi. A segunda parte é o dicionário tupi-português, isto é, o dicionário propriamente dito, que contém quase oito mil palavras-entradas (ou lexemas), sendo o dicionário mais completo já feito até o momento. A terceira parte contém uma relação de duas mil palavras do português brasileiro cuja origem é o tupi (em geral nomes de lugares e cidades).

Como o tupi é uma língua morta, o dicionário tem cunho filológico. Foi feito com base em textos antigos, e não com falantes da língua, sendo, por isso, um dicionário histórico. As palavras-entradas foram retiradas de textos dos séculos XVI e XVII. O objetivo dessa delimitação é não misturar o tupi com seus desenvolvimentos históricos, como as línguas gerais, entre elas o nheengatu.[5]

Navarro conquistou sua livre-docência em 2006 com seu dicionário, que foi aperfeiçoado até ser publicado pela Global Editora de São Paulo, em 2013, mesmo ano em que Navarro tornou-se professor titular da USP.[6] O autor afirma que a criação de um dicionário foi necessária para que ele concluísse sua tradução das cartas dos índios Camarões.[7][8]

Conteúdo e confecção da obra[editar | editar código-fonte]

O dicionário é dividido em três partes. Além da introdução e do prefácio de Ariano Suassuna, são elas:

  1. Vocabulário português-tupi
  2. Dicionário tupi-português
  3. Etimologias de topônimos e antropônimos de origem tupi, e outros tupinismos

A primeira parte é um simples vocabulário português-tupi. Há apenas as palavras e suas traduções, sem explicações ou detalhes. A segunda parte é o dicionário propriamente dito. Nele, assim como no resto do livro, Navarro optou por atualizar a grafia usadas nas fontes primárias. Deste modo, qu foi substituído por k, e o ig foi grafado como y.[5] A terceira parte do livro não é exaustiva. Navarro afirmou que um trabalho futuro deverá dar conta de abordar um número bem maior de tupinismos e nomes de origem tupi no português atual.[6]

Fontes primárias utilizadas[editar | editar código-fonte]

Conforme Navarro, muitas informações sobre a língua tupi, que antes estavam dispersas e inacessíveis ao grande público, foram reunidas e analisadas. Foram usadas apenas obras escritas ou publicadas nos séculos XVI e XVII. Nesse último século, o tupi deixou de ser falado, e é onde se encontram seus últimos documentos. Apesar de sua antiguidade, o tupi é a língua indígena brasileira mais bem conhecida.[5]

Algumas das obras mais importantes usadas como fonte foram, entre muitas outras:

Histórico[editar | editar código-fonte]

Outros dicionários e vocabulários do tupi foram publicados antes. Navarro afirma que, até a publicação por Plínio Ayrosa, em 1938, do Vocabulário na Língua Brasílica, obra de um jesuíta do século XVI, era praticamente desconhecido o léxico do tupi. Portanto, qualquer dicionário feito antes desse pode ser considerado não confiável.[5]

Em 1951, Antônio Lemos Barbosa publicou seu Pequeno Vocabulário Tupi-Português, e em 1970, o Pequeno Vocabulário Português-Tupi. Para Navarro, "são os únicos que se fundamentaram amplamente no Vocabulário na Língua Brasílica do século XVI e nos textos de autores quinhentistas e seiscentistas. São, portanto, os únicos trabalhos confiáveis que existem no gênero."[5]

Outro dicionário relevante, não citado por Navarro na introdução de sua obra, foi o Dicionário tupi (antigo)-Português (1987), de Moacyr Ribeiro de Carvalho.[9]

Reações[editar | editar código-fonte]

O antropólogo Benedito Prezia afirmou, na cerimônia de lançamento do dicionário, que Navarro está resgatando uma dívida histórica com o tupi. Lembrou que o último dicionário (que, na verdade, era um vocabulário) foi lançado foi em 1950 e que, até então, a grande referência em tupi ainda era o dicionário dos jesuítas do século XVI.[10]

Criticas[editar | editar código-fonte]

Como o próprio Navarro afirmou, nenhuma obra é imune a erros, especialmente uma grande obra.[4] O dicionário sucitou algumas controvérsias, algumas das quais foram corrigidas por Navarro. Uma delas é a grafia da palavra pyrang, que signfica vermelho. Ao contrário do que constava (antes de o dicionário ser publicado), a palavra é grafada com i: piranga, como na palavra 'ypiranga, que significa rio vermelho.[11][9]

O mesmo crítico afirma ainda que o trabalho de Eduardo Navarro por supostamente não mencionar outros importantes estudiosos da língua tupi. Também questionou alguams das etimologias apresentadas pelo autor.[11]

Outra crítica envolve a atualização da grafia utilizada nas fontes primárias. Navarro adotou uma grafia nova nas palavras-entradas e atualizou a grafia das próprias citações das fontes primárias, usadas como exemplo.[5] O acadêmico responde que a meta por ele almejada é difundir o conhecimento da língua tupi, sendo esse o motivo da ortografia que ele escolheu. Conforme a orelha da capa, o dicionário "destina-se não a especialistas sem alma, mas ao grande público que deseja compreender melhor as raízes do seu próprio país".

Se o fizera [em referência ao uso da grafia original dos documentos], tornaria o dicionário inútil a um público mais vasto. Como já salientei alhures, difundir o tupi antigo é a meta por mim colimada.[...] Ele [o crítico] quer, assim como acontece consigo próprio, que ninguém a leia, ninguém a escreva, ninguém a fale, ninguém, enfim, a saiba. Ele quer fidelidade total à ortografia dos originais para que o tupi antigo continue a ser fracamente conhecido ou somente que o seja em nível estrutural[...]
— Eduardo Navarro[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Dicionário de Tupi antigo». Grupo Editorial Global. Consultado em 3 de fevereiro de 2023 
  2. «"Tupi or not Tupi"». IstoÉ 
  3. «Eduardo Navarro é autor do 'Dicionário tupi antigo': 'Trabalho de muitos anos'». Programa do Jô. 26 de outubro de 2013. Consultado em 7 de fevereiro de 2023 
  4. a b c Navarro, Eduardo. «COMENTÁRIOS À RECENSÃO CRÍTICA DO PROF. EDUARDO TUFFANI» (PDF) 
  5. a b c d e f Navarro, Eduardo de Almeida (2013). «Introdução». Dicionário tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. [S.l.]: Global Editora 
  6. a b «ENTREVISTA COM EDUARDO DE ALMEIDA NAVARRO | MetaLinguagens». Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  7. «Do tupi antigo para o português». revistapesquisa.fapesp.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  8. «Professor traduz para o português cartas escritas por indígenas em tupi na época do Brasil Colonial». G1. Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  9. a b «Uma tese de tupi antigo I [Dicionário de tupi antigo de Eduardo de Almeida Navarro]». pesquisadores.uff.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  10. «Eduardo Navarro lança o Dicionario Tupi Antigo, pela Global Editora». Grupo Editorial Global. 30 de outubro de 2013. Consultado em 7 de fevereiro de 2023 
  11. a b «'Dicionário de tupi antigo': nota de Eduardo Tuffani a Eduardo de Almeida Navarro». pesquisadores.uff.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2023