Teresa de Leão

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Teresa de Leão
Condessa de Portucale
Teresa de Leão
D. Teresa de Leão em ilustração de Alfredo Roque Gameiro no livro História de Portugal, popular e ilustrada (1899-1905) da autoria de Manuel Pinheiro Chagas
Condessa de Portucale
Reinado c. 1096
a 12 de maio de 1112
Sucessor(a) Afonso Henriques
(como conde)
Rainha de Portugal
Reinado 12 de maio de 1112
a 24 de junho de 1128
Reconhecimento papal c. 1117
Sucessor(a) Afonso I (1139)
 
Nascimento c.1080
  Disputado:
Póvoa de Lanhoso, Portugal
ou
Mosteiro de Montederramo, Galiza
Morte 11 de novembro de 1130 (50 anos)
  Mosteiro de Montederramo, Galiza
Sepultado em Sé de Braga, Portugal
Nome completo Teresa de Leão
Cônjuge Henrique de Borgonha
Descendência Urraca, Infanta de Portugal
Sancha, Senhora de Bragança
Afonso I, Rei de Portugal
Casa Jiménez
Pai Afonso VI de Leão e Castela
Mãe Ximena Moniz
Religião Católica Apostólica Romana

Teresa de Leão, Condessa de Portugal (em galaico-português: Tarasia ou Tareja de Portugal, mais conhecida em Portugal apenas por Dona Teresa; c.1080Póvoa de Lanhoso ou Mosteiro de Montederramo, 11 de novembro de 1130) foi Condessa de Portugal de 1112 a 1128.

Era infanta do reino de Leão e condessa do Condado Portucalense, governando como rainha. Esposa de Henrique de Borgonha, conde de Portucale e mãe de D. Afonso Henriques, fundador do reino de Portugal e primeiro rei de Portugal.

Casamento e Condado Portucalense[editar | editar código-fonte]

Miniatura medieval que representa Teresa de Leão, condessa de Portugal (ao centro), sua filha Urraca Henriques (à direita) e Bermudo Peres de Trava (à esquerda). Manuscrito gótico do mosteiro de Toxosoutos.

Teresa era filha ilegítima do rei Afonso VI de Galiza, Leão e Castela e de Ximena Moniz, filha de Munio Moniz de Bierzo, conde de Bierzo. Viveu toda a infância na companhia da sua mãe e do seu avô materno, que a educaram, e da sua irmã Elvira.

Em 1093 Teresa foi dada pelo seu pai em casamento a Henrique de Borgonha, um nobre francês que o tinha ajudado em muitas conquistas aos mouros. Teresa tinha à data treze anos e Henrique 24. Afonso VI doou-lhes então o Condado de Portugal, território do reino da Galiza entre o Minho e o Vouga que, a partir de 1096, se estenderia entre o Minho e o Tejo. D. Henrique teve vários filhos, mas poucos sobreviveram: o único varão que chegou a adulto foi Afonso Henriques, além das suas filhas Urraca, Sancha e Teresa Henriques.

Regência[editar | editar código-fonte]

Depois da morte de Henrique em 1112 Teresa governou o condado como rainha, por direito próprio, sendo reconhecida como tal pelo Pascoal II (através Bula Fratrum Nostrum emitida em 18 de junho de 1116[1]), pela sua irmã, Urraca de Galiza, Leão e Castela e, posteriormente, por seu sobrinho Afonso VII de Galiza, Leão e Castela. A partir de 1117 assina como "Ego regina Taresia de Portugal regis Ildefonssis filia".[2][3][4]

Em 1116, os almorávidas invadiram a região de Coimbra e destruíram os castelos de Miranda da Beira e Santa Eulália próximos da cidade, tendo morto ou cativado as suas guarnições. Em 1117 deu-se o Cerco de Coimbra, imposto pelo emir almorávida Ali ben Iusuf em pessoa e D. Teresa encontrava-se na cidade, que resistiu ao violento assédio de vinte dias, embora os arrabaldes tenham sido postos a saque.[5][6][7][8]

Atacadas pelas forças da sua meia-irmã, a rainha D Urraca, durante a Crise de 1121, as forças de D. Teresa recuaram desde a margem esquerda do rio Minho, derrotadas e dispersas, até que D. Teresa se encerrou no Castelo de Lanhoso. Aí sofreu o Cerco de Lanhoso. Em posição de inferioridade, D. Teresa conseguiu ainda negociar o Tratado de Lanhoso, pelo qual salvou o seu governo do Condado Portucalense.

Em aliança com D. Teresa na revolta galaico-portuguesa contra Urraca esteve Fernão Peres de Trava, da mais poderosa casa do Reino da Galiza. Os triunfos nas batalhas de Vilasobroso e Lanhoso selaram a aliança entre os Trava e Teresa de Portugal. Fernão Peres de Trava passou assim a governar o Porto e Coimbra e a firmar com Teresa importantes disposições e documentos no condado de Portugal. Com a morte de Urraca, Fernão Peres de Trava tornou-se um grande aliado do rei Afonso VII de Leão e Castela no Reino da Galiza. A aliança e ligação de D. Teresa com o conde galego Fernão Peres de Trava, de quem teve duas filhas, indispôs contra ela os nobres portucalenses e o seu próprio filho Afonso Henriques.

Conflito com o filho, D. Afonso Henriques[editar | editar código-fonte]

D. Teresa na Genealogia dos Reis de Portugal

Teresa exercera a regência do Condado Portucalense durante a menoridade de D. Afonso Henriques. Mas em 1122, sob a orientação de Paio Mendes arcebispo de Braga, Afonso pretendeu assegurar o seu domínio no condado e armou-se cavaleiro em Zamora.

Ressentidos com a proximidade de D. Teresa ao conde de Trastâmara Fernão Peres de Trava seu influente amante e ao favoritismo que demonstrava para com a nobreza galega, que apoiava os seus desígnios de vir a reinar como rainha independente, em 1127 revoltou-se a nobreza portuguesa de Entre-Douro-e-Minho, que se declarou a favor do infante D. Afonso Henriques, a esta data com dezasseis ou dezassete anos.[9]

Ante a revolta dos nobres portugueses, o rei Afonso VII reuniu as suas hostes e, ao comando das suas tropas, dirigiu-se em pessoa a Portugal para restabelecer a sua tia no pleno governo do condado. A campanha do rei tinha o apoio do bispo de Compostela Diego Gelmires bem como da maioria da nobreza Galega.

Transpostas as fronteiras portuguesas, sucederam-se alguns cercos e combates.[10] As terras de Guimarães, cujo castelo era sede dos condes de Portugal, haviam-se declarado a favor de D. Afonso Henriques e sobre este castelo de fulcral importância, onde por então se encontrava o infante, se focou Afonso VII de Leão, que para lá se dirigiu rapidamente.[10] Seguiu-se o Cerco de Guimarães, após o qual o infante D. Afonso Henriques viu-se obrigado a jurar fidelidade para com o seu primo Afonso VII de Leão e D. Teresa reposta no governo, embora tenha esta também sofrido represálias e perdido algumas terras que adquirira a norte do rio Minho.[10]

As ruínas do castelo de Soure.

Durante o governo de D. Teresa, em 1128 deu-se a fixação dos templários em território português, tendo D. Teresa doado à Ordem o castelo de Soure, erguido na segunda metade do séc. XI por Sesnando Davides perto de Coimbra, na estrada que ligava esta cidade a Lisboa.[11]

Em breve os interesses estratégicos de mãe e filho entraram em conflito. Em 1128, juntando os cavaleiros portugueses à sua causa contra Fernão Peres de Trava e Teresa de Leão, Afonso Henriques derrotou ambos na batalha de São Mamede, quando pretendiam tomar a soberania do espaço galaico-português, e assumiu o governo do condado.

Obrigada desse modo a deixar a governação, alguns autores defendem que foi detida pelo próprio filho no Castelo de Lanhoso ou se exilou num convento na Póvoa de Lanhoso, onde veio a falecer em 1130. Modernamente, depreende-se que após a batalha e já em fuga, ela e o conde Fernão Peres foram aprisionados e expulsos de Portugal.

Morte[editar | editar código-fonte]

Túmulo de D. Teresa de Leão na Sé de Braga.

D. Teresa teria falecido na Galiza, possivelmente no mosteiro de Montederramo que refundara em 1124, de acordo com um documento assinado em Allariz.

Os seus restos mortais foram trazidos mais tarde, por ordem expressa do seu filho já rei D. Afonso I de Portugal, para a Sé de Braga, onde ainda hoje repousam junto ao túmulo de seu marido, o conde D. Henrique.

Descendência[editar | editar código-fonte]

Do seu casamento com Henrique de Borgonha, conde de Portugal, nasceram:

  1. Urraca Henriques (c. 1095[12]–depois de 1169), casou com D. Bermudo Peres de Trava;
  2. Sancha Henriques (c. 1097[12]–1163), casou com D. Sancho Nunes de Celanova e com D. Fernão Mendes de Bragança II, senhor de Bragança;
  3. Teresa Henriques (n. c. 1098);[12]
  4. Henrique Henriques (c. 1106-1110);
  5. Afonso Henriques (1109[13]–1185), primeiro rei de Portugal, casado com Mafalda de Saboia;[14]

Da sua relação com Fernão Peres de Trava nasceram duas filhas:

Na cultura popular[editar | editar código-fonte]

Literatura[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ A Crónica latina de Castela, atribuiu a divisão do reino pelos filhos do emperador à sua iniciativa: "divisit siquidem regmum suum, permitente Deo propter peccata hominum, duobus filiiis suis ad instanciam Fernandi comitis de Gallecia"

Referências

  1. «Bula "Fratrum nostrum" do papa Pascoal II dirigida a D. B., bispo de Toledo e D. Maurício Burdino, bispo de Braga e D. A., bispo de Tui, e D. J., bispo de Salamanca e à rainha D. Teresa, mandando, depois das queixas do bispo de Coimbra, que seja restituído à igreja de Coimbra, tudo o que lhe tinha sido tirado, inclusive a igreja de Lamego que fora concedida à igreja do Porto - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  2. Las lenguas románicas estándar:historia de su formación y de su uso, p.138 [1]
  3. PINHO, António Brandão de (2017). A Cruz da Ordem de Malta nos Brasões Autárquicos Portugueses. Lisboa: Chiado Editora. 426 páginas. Consultado em 28 de agosto de 2017 
  4. Almeida, Sérgio A. S. (3 de dezembro de 2019). O (meu) melhor de Portugal: História, memórias, sabores... [S.l.]: Editora Labrador 
  5. "A CRÓNICA DOS GODOS" in O Portal da História at arqnet.pt
  6. Bernard F. Reilly, p. 143
  7. Jorge de Alarcão: Coimbra: A Montagem do Cenário Urbano, Imprensa da Universidade de Coimbra / Coimbra University Press, Jan 1, 2008, pp. 204-205.
  8. João Diogo Rodrigues de Carvalho: Santarém e a Reconquista: a Tomada da Cidade, 2022, Universidade de Lisboa, p. 143
  9. Francisco da Fonseca Benevides: Rainhas de Portugal: estudos historico com muitos documentos, Volume 1, Typographia Castro Irmão, Lisboa, 1878, pp. 69-70.
  10. a b c H. V. Livermore: A History Of Portugal, Cambridge University Press, 1947, p. 59.
  11. Mário Jorge Barroca: OS CASTELOS DOS TEMPLÁRIOS EM PORTUGAL E A ORGANIZAÇÃO DA DEFESA DO REINO NO SÉC. XII pp.213-225.
  12. a b c Rodrigues Oliveira 2010, p. 28.
  13. Rodrigues Oliveira 2010, p. 31.
  14. Rodrigues Oliveira 2010, p. 33.
  15. Torres Sevilla-Quiñones de León 1999, p. 336.
  16. López-Sangil 2002, p. 134-137.
  17. López-Sangil 2002, p. 142.
  18. Torres Sevilla-Quiñones de León 1999, p. 230.
  19. Sánchez de Mora 2003, p. 185, Vol. I.
  20. «D. Teresa – A Esfera dos Livros». Consultado em 7 de setembro de 2020 
  21. «Isabel Stilwell». isabelstilwell.com. Consultado em 7 de setembro de 2020 
  22. Teresa, a Condessa-Rainha, Luís Carlos Amaral, Mário Jorge Barroca - Temas e Debates. [S.l.: s.n.] 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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Precedido por
Vago (governo direto do Reino de Leão e Castela)
Titulares anterioresː
Nuno Mendes (como conde de Portucale)
Martim Moniz de Ribadouro (como conde de Coimbra)

Condessa de Portucale (1096-1116)
Rainha de Portucale (1116-1128)

1096 - 1128
(com Henrique de Borgonha até 1112)
Sucedido por
Afonso Henriques
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