Cupuaçu

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Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malvales
Família: Malvaceae
Subfamília: Sterculioideae
Género: Theobroma L.
Espécie: T. grandiflorum
Nome binomial
Theobroma grandiflorum
(Willd. ex Spreng.) K. Schum.

Theobroma grandiflorum, comumente conhecido como cupuaçu, é uma árvore da floresta tropical relacionada ao cacau.[1] Nativo e comum em toda a bacia amazônica, é cultivado naturalmente nas selvas do norte do Brasil, com maior produção no Pará, Amazonas e Amapá, Colômbia, e também na Bolívia e Peru.[1] A polpa do fruto do cupuaçu é consumida em toda a América Central e América do Sul, principalmente nos estados do norte do Brasil,[2] e é utilizada para fazer sorvetes, salgadinhos,[3] e outros produtos.[4][5]

Domesticação[editar | editar código-fonte]

Recentemente, através de estudos genéticos se descobriu que o cupuaçu é uma planta domesticada pelos nativos da Amazônia há cerca de 8000 anos atrás e sua versão selvagem é o cupuí. A suspeita começou quando pesquisadores notaram que a árvore de cupuaçu existia em maior número próximo a assentamentos humanos, e sua presença na floresta era mais rara.[6]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Flor do cupuaçu, cujo grande tamanho ajuda a compor seu nome científico.[7]

Seu nome científico é Theobroma (lat: “manjar dos deuses”) grandiflorum (lat: “flores grandes”).[7] As árvores de cupuaçu geralmente variam de 5−15 metros (−33 pé) de altura, embora algumas possam atingir 20 metros (66 pé). Possuem casca marrom e as folhas variam de 25-35 centímetros de comprimento, com nove ou dez pares de veias. À medida que amadurecem, as folhas mudam de rosa para verde e, eventualmente, começam a dar frutos.[8] O chá e o extrato das folhas tem efeito calmante e também são usados para tratar problemas intestinais, renais e respiratórios.[9]

As flores do cupuaçu são estruturalmente complexas e requerem polinização de vetores bióticos.[10] A maioria das árvores de cupuaçu são autoincompatíveis, o que pode resultar na diminuição dos níveis de polinização e, consequentemente, diminuição da produção de frutos.[10] A polinização também pode ser afetada negativamente pelas condições ambientais. Polinizadores, que incluem gorgulhos crisomelídeos e abelhas sem ferrão, são incapazes de voar entre as flores em chuvas fortes.[10]

A polpa branca do cupuaçu tem odor descrito como uma mistura de chocolate e abacaxi e é frequentemente utilizada em sobremesas, sucos e doces.[1] O suco tem gosto principalmente de pêra, banana, maracujá e melão.[11][12] O chocolate feito de cupuaçu, muito parecido com o de cacau, é chamado de cupulate.[13][14]

Cultivo[editar | editar código-fonte]

O cupuaçu é mais comumente propagado a partir de sementes, mas também são usados enxertos e estacas enraizadas.[15]

As árvores do cupuaçu são frequentemente incorporadas em sistemas agroflorestais em toda a Amazônia devido à sua alta tolerância a solos inférteis, que predominam na região amazônica.[15]

O cupuaçu geralmente é colhido do chão depois de cair naturalmente da árvore. Pode ser difícil determinar o pico de maturação porque não há mudança perceptível na cor externa da fruta. No entanto, estudos mostraram que, nas condições da Amazônia ocidental colombiana, os frutos geralmente atingem a maturidade completa em 117 dias após a frutificação.[16]

Os brasileiros comem cru ou usam para fazer doces.[17] Os produtos alimentícios comerciais incluem a polpa e o pó.[18]

Cupuaçu, em plantação da
EMBRAPA perto de Manaus,
Brasil, com quatro
anos de idade.
Fruto. Fruto de cupuaçu aberto. Licor de cupuaçu.

Pragas e doenças[editar | editar código-fonte]

A vassoura-de-bruxa ( Moniliophthora perniciosa) é a praga mais proeminente que afeta as árvores de cupuaçu.[19] Afeta toda a árvore e pode resultar em perda significativa de rendimentos, bem como na morte da árvore se não for tratada. A poda regular é recomendada para reduzir a severidade dessa doença nas plantações de cupuaçu.[19]

O cupuaçu suporta a borboleta herbívora, "lagarta-do-cupuaçu", Macrosoma tipulata (Hedylidae), que pode ser um desfolhador.[20]

Fitoquímicos[editar | editar código-fonte]

Os sabores do cupuaçu derivam de seus fitoquímicos, como taninos, glicosídeos, teograndinas, catequinas, quercetina, kaempferol e isoscutelareína.[21] Também contém teacrina, cafeína, teobromina e teofilina, encontradas no cacau, embora com uma quantidade muito menor de cafeína.[22][23][24] Ao contrário do chocolate feito do cacau, o cupulate ("chocolate" de cupuaçu) é livre de teobromina e cafeína.[14][25]

Manteiga de cupuaçu[editar | editar código-fonte]

Manteiga de cupuaçu

A manteiga de cupuaçu é um triglicerídeo composto por ácidos graxos saturados e insaturados, conferindo à manteiga um baixo ponto de fusão (aproximadamente 30 °C) e textura de um sólido macio, sendo utilizado como confeitaria semelhante ao chocolate branco.[1] Os principais ácidos graxos da manteiga de cupuaçu são ácido esteárico (38%), ácido oleico (38%), ácido palmítico (11%) e ácido araquídico (7%).[26][23]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Giacometti, DC (1994). «Cupuaçu». In: Bermejo; León. Neglected Crops: 1492 from a Different Perspective. Col: Plant Production and Protection Series No. 26. Rome, Italy: FAO. pp. 205–209. ISBN 978-92-5-103217-6 
  2. «Cupuaçu - the taste of the Amazon - Kew». kew.org. Consultado em 28 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 28 de abril de 2023 
  3. Balston, Catherine; Derry, Johanna (17 de abril de 2014). «Cupuaçu: Brazil's new alternative to chocolate». The Guardian. Consultado em 28 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 28 de abril de 2023 
  4. Prazeres, Isadora Cordeiro dos; Domingues, Alessandra Ferraiolo Nogueira; Campos, Ana Paula Rocha; Carvalho, Ana Vânia (Junho de 2017). «Elaboration and characterization of snack bars made with ingredients from the Amazon». Acta Amazonica. 47 (2): 103–110. doi:10.1590/1809-4392201602203Acessível livremente 
  5. «Brazil: Biodiversity for Food and Nutrition». b4fn.org. Consultado em 28 de outubro de 2018 
  6. Colli-Silva, Matheus; Richardson, James E.; Neves, Eduardo G.; Watling, Jennifer; Figueira, Antonio; Pirani, José Rubens (1 de novembro de 2023). «Domestication of the Amazonian fruit tree cupuaçu may have stretched over the past 8000 years». Communications Earth & Environment (em inglês) (1): 1–8. ISSN 2662-4435. doi:10.1038/s43247-023-01066-z. Consultado em 1 de dezembro de 2023 
  7. a b Rafael Moysés Alves, José Edmar Urano de Carvalho, Walnice Maria Oliveira do Nascimento, Saulo Fabrício da Silva Chaves. «Theobroma grandiflorum, Cupuaçu» (PDF). EMBRAPA. Consultado em 21 de junho de 2023 
  8. «Theobroma grandiflorum Cupuassu, Cupuacu PFAF Plant Database». pfaf.org. Consultado em 28 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 28 de abril de 2023 
  9. Da redação (20 de setembro de 2019). «Cupuaçu: aproveite seus benefícios». Namu. Consultado em 21 de junho de 2023 
  10. a b c Venturieri, Giorgini Augusto (Março de 2011). «Flowering levels, harvest season and yields of cupuassu (Theobroma grandiflorum)». Acta Amazonica. 41 (1): 143–152. doi:10.1590/S0044-59672011000100017Acessível livremente 
  11. Silva, F.M.; Silva, C.L.M. (Fevereiro de 2000). «Note. Quality evaluation of cupuaçu (Theobroma grandiflorum) purée after pasteurization and during storage / Nota. Calidad del puré de cupuaçu (Theobroma grandiflorum) después de la pasterización y durante su almacenamiento». Food Science and Technology International. 6 (1): 53–58. doi:10.1177/108201320000600108 
  12. Teixeira, Maria Francisca Simas; Andrade, Jerusa Souza; Fernandes, Ormezinda Celeste Cristo; Durán, Nelson; Lima Filho, José Luiz de (2011). «Quality Attributes of Cupuaçu Juice in Response to Treatment with Crude Enzyme Extract Produced by Aspergillus japonicus 586». Enzyme Research. 2011: 494813. PMC 3206358Acessível livremente. PMID 22114735. doi:10.4061/2011/494813 
  13. Pensamento Verde, 12 de maio de 2014.
  14. a b «Cupulate» (PDF). EMBRAPA. Consultado em 21 de junho de 2023 
  15. a b Schroth, G. (2000). «Growth, Yield and Mineral Nutrition of Cupuacu (Theobroma grandiflorum) in Two Multi-Strata Agroforestry Systems on a Ferralitic Amazonian Upland Soil at Four Fertilization Levels». Journal of Applied Botany 
  16. Hernández L, Claudia; Hernández G, María Soledad (Janeiro de 2012). «Growth and development of the cupuaçu fruit (Theobroma grandiflorum [Willd. Ex Spreng.] Schum.) in the western colombian Amazon». Agronomía Colombiana. 30 (1): 95–102. ProQuest 1677579349 
  17. «This Brazilian Fruit Makes Beer, Ice Cream, and Faux Chocolate». Atlas Obscura. Consultado em 28 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 28 de outubro de 2023 
  18. Silva, Alessandra Eluan da; Silva, Luiza Helena Meller da; Pena, Rosinelson da Silva (Dezembro de 2008). «Comportamento higroscópico do açaí e cupuaçu em pó» [Hygroscopic behavior of açaí and cupuaçu powders]. Ciência e Tecnologia de Alimentos. 28 (4): 895–901. doi:10.1590/S0101-20612008000400020Acessível livremente 
  19. a b Alves, Rafael Moysés; Resende, Marcos Deon Vilela de; Bandeira, Bruna dos Santos; Pinheiro, Thiago Martins; Farias, Daniella Cristina Raiol (Dezembro de 2009). «Evolução da vassoura-de-bruxa e avaliação da resistência em progênies de cupuaçuzeiro». Revista Brasileira de Fruticultura. 31 (4): 1022–1032. doi:10.1590/S0100-29452009000400015Acessível livremente 
  20. Lourido, Gilcélia; Silva, Neliton M.; Motta, Catarina (Fevereiro de 2007). «Parâmetros biológicos e injúrias de Macrosoma tipulata Hübner (Lepidoptera: Hedylidae), em cupuaçuzeiro [Theobroma grandiflorum (Wild ex Spreng Schum)] no Amazonas» [Biological parameters and damage by Macrosoma tipulata Hübner (Lepidoptera: Hedylidae), in cupuaçu tree [Theobroma grandiflorum (Wild ex Spreng Schum)] in Amazonas, Brazil]. Neotropical Entomology. 36 (1): 102–106. PMID 17420867. doi:10.1590/s1519-566x2007000100012Acessível livremente 
  21. Yang, Hui; Protiva, Petr; Cui, Baoliang; Ma, Cuiying; Baggett, Scott; Hequet, Vanessa; Mori, Scott; Weinstein, I. Bernard; Kennelly, Edward J. (Dezembro de 2003). «New Bioactive Polyphenols from Theobroma g randiflorum ("Cupuaçu")». Journal of Natural Products. 66 (11): 1501–1504. PMID 14640528. doi:10.1021/np034002j 
  22. Lo Coco, F.; Lanuzza, F.; Micali, G.; Cappellano, G. (1 de maio de 2007). «Determination of Theobromine, Theophylline, and Caffeine in by-Products of Cupuacu and Cacao Seeds by High-Performance Liquid Chromatography». Journal of Chromatographic Science. 45 (5): 273–275. PMID 17555636. doi:10.1093/chromsci/45.5.273Acessível livremente 
  23. a b Sira, Elevina Eduviges Prez (2018). The Uses of Cocoa and Cupuaçu Byproducts in Industry, Health, and Gastronomy. [S.l.]: Nova Science Publishers. ISBN 978-1-5361-3456-8 
  24. Taylor L, Mumford P, Roberts M, Hayward S, Mullins J, Urbina S, Wilborn C (2016). «Safety of TeaCrine®, a non-habituating, naturally-occurring purine alkaloid over eight weeks of continuous use». Journal of the International Society of Sports Nutrition. 13. 2 páginas. PMC 4711067Acessível livremente. PMID 26766930. doi:10.1186/s12970-016-0113-3 
  25. Silva, Mariana dos Santos, Silva, Lorena Rocha (2020). «INTOXICAÇÃO POR CHOCOLATE E CAFÉ EM PEQUENOS ANIMAIS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA» (PDF). Amazon Web Services. Consultado em 21 de junho de 2023  line feed character character in |título= at position 45 (ajuda)
  26. Cohen, K. de O.; Jackix, M. de N. H. (2009). «Características químicas e física da gordura de cupuaçu e da manteiga de cacau» [Chemical and physical characteristics of cupuaçu fat and cocoa butter]. Infoteca-e. Consultado em 28 de abril de 2023. Cópia arquivada em 28 de abril de 2023 
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