Composição étnica da Argentina

A atual composição étnica da Argentina é, em ordem cronológica, o resultado da interação da população indígena-nativa precolombina com uma população de colonizadores europeus ibérios e com outra de origem africana-subsaariano, imigrada forçadamente e escravizada (que deu origem à população afroargentina), durante época colonial e o primeiro século posterior ao processo de independência, iniciado em 1810.[1]

A esta população, que formava a totalidade da população argentina até aproximadamente 1860, se somou o fluxo proveniente da grande onda de imigração europeia e asiática, majoritariamente italiana e espanhola. Esta onda imigratória sucedeu-se na segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX, ainda que a imigração mais importante, quantitativamente falando, ocorreu entre 1880 e 1930.[2][3]

Desde meados do século XX, a composição étnica esteve influída pelas grandes migrações internas do campo à cidade, e do norte e o litoral para as grandes cidades do país. Finalmente, o território argentino sempre recebeu uma considerável corrente migratória procedente de outros países sul americanos, destacando principalmente as comunidades procedentes do Paraguai e da Bolívia; e, em menor medida, as de Chile, Uruguai, Peru, Colômbia e Venezuela.

Como resultado da continuidade dos povos originários e os fluxos imigratórios, a população argentina conta com consideráveis comunidades étnicas; entre elas as qom, wichi, aimara, coya, mapuche, napolitana, calabresa, lombardesa, basca, catalã, galega, castelhana, andaluza, francesa, alemã, árabe, ucraniana, croata, polaca, judia, armênia, chilena, uruguaia, inglesa, peruana, japonesa, chinesa, coreana e sul-africana, entre outras.

Tal qual Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Brasil ou Uruguai, Argentina se considera como um "país de imigração" pelo forte impacto que as correntes migratórias têm tido na composição étnica da população. enquanto o historiador argentino Jose Luís Romero define a Argentina como um "país aluvial".[nota 1][nota 2]

A miscigenação tem desempenhado um papel na composição étnica da população argentina. As correntes imigratórias durante a época colonial e depois na época da grande imigração ultramarina (1850-1930) estiveram integradas maioritariamente por homens sozinhos que em vários casos se misturaram na Argentina com mulheres indígenas ou de origem africana, ou seus descendentes.[nota 3][6]

Diversos estudos genéticos concordam em termos gerais que a proporção do componente genético ameríndio é considerável, bem como o indício de contribuição africano, tendo um grosso contingente populacional cuja genética corresponde com a mistura latino-americana em graus variáveis.[7][8][9][10][11]

No século XIX, a Argentina estabeleceu uma política estatal de "integração", orientada intencionalmente a diluir as identidades étnicas particulares. Este fato foi denominado com o termo "crisol de raças" (melting pot ou caldeirão de raças) e foi sido sustentado de modo mais ou menos variável pelos governos sucessivos, as instituições educativas e os meios de comunicação mais influentes.[12][13] Diversos estudiosos têm questionado a visão tradicional do crisol de raças, considerando-a um mito e trazendo à tona a existência de uma grande distância étnica e social entre descendentes de europeus e não europeus, citando a existência de mecanismos de racismo e discriminação étnica, invisibilidade social e assimilação forçada, presentes na sociedade argentina.[14]

Discriminação étnica em Argentina[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Racismo na Argentina

Na Argentina existem condutas de discriminação pelas características étnicas ou pela origem nacional das pessoas e difundiram-se termos e condutas para discrimi­nar certos grupos de população.[15]

O antisemitismo na Argentina teve graves manifestações, como a ordem secreta do chanceler argentino em 1938 de impedir a entrada de judeus no território nacional e os atentados terroristas contra instituições judias em 1992 e 1994.[16]

Também se desenvolveram termos e atitudes de tipo racista e xenofóbicos, utilizados com frequência a partir da metade da década do 2000 para se dirigir a imigrantes da Bolívia, Paraguai e Peru. Os simpatizantes de alguns clubes de futebol populares do país cantam em massa canções destinadas a desprezar os torcedores de seus rivais utilizando termos xenófobos ou racistas.[17]

Em 1995, criou-se em Argentina o Instituto Nacional contra a Discriminação (INADI) através da Lei 24515 para combater a discriminação e o racismo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. O antropólogo Darcy Ribeiro inclui a Argentina como um dos "povos transplantados", junto com Estados Unidos, Uruguai e Canadá[4]
  2. O historiador argentino Jose Luís Romero define a Argentina como um "país aluvial", uma sociedade influenciada decisivamente por um ou mais fenômenos migratórios.[5]
  3. A taxa de masculinidade dos estrangeiros nos censos de 1898 e 1914 foi de 172, o que implica em 63,1% de homens e 36,9% de mulheres

Referências

  1. «Biblioteca del Congreso - Argentina - Bibliopress #9 - página 2». web.archive.org. 28 de fevereiro de 2009. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  2. «Llegan los inmigrantes a la Argentina». Sur der Sur. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  3. «La Gran Inmigración, 1880-1930. - Ciencias Sociales - Campus Virtual ORT». campus.ort.edu.ar. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  4. RIBEIRO, Darcy (2021). As Américas e a Civilização. Processo de Formação e Causas do Desenvolvimento Desigual dos Povos Americanos. [S.l.: s.n.] OCLC 1310756599 
  5. Romero, José Luis (2004). La experiencia argentina y otros ensayos. Luis Alberto Romero 1. ed ed. Buenos Aires: Taurus. OCLC 57577991 
  6. Clarín.com (16 de janeiro de 2005). «El 56% de los argentinos tiene antepasados indígenas». Clarín (em espanhol). Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  7. Corach, Daniel; Lao, Oscar; Bobillo, Cecilia; Van Der Gaag, Kristiaan; Zuniga, Sofia; Vermeulen, Mark; Van Duijn, Kate; Goedbloed, Miriam; Vallone, Peter M. (janeiro de 2010). «Inferring Continental Ancestry of Argentineans from Autosomal, Y-Chromosomal and Mitochondrial DNA: Genetic Ancestry in Extant Argentineans». Annals of Human Genetics (em inglês) (1): 65–76. doi:10.1111/j.1469-1809.2009.00556.x. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  8. Avena, Sergio A.; Goicoechea, Alicia S.; Rey, Jorge; Dugoujon, Jean M.; DeJean, Cristina B.; Carnese, Francisco R. (2006). «Mezcla génica en una muestra poblacional de la ciudad de Buenos Aires» (PDF). Buenos Aires. Medicina: organo de la Sociedad Argentina de Investigación Clínica (66): 113-118. ISSN 0025-7680. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  9. Avena; et al. (2012). «Heterogeneity in Genetic Admixture across Different Regions of Argentina». PloS One Genetics. 7 (4). doi:10.1371/journal.pone.0034695. Consultado em 19 de agosto de 2016 
  10. Homburguer; et al. (2015). «Genomic Insights into the Ancestry and Demographic History of South America». PloS One Genetics. 11 (12). doi:10.1371/journal.pgen.1005602. Consultado em 19 de agosto de 2016 
  11. Fernández, Francisco Lizcano. «Composición Étnica de las Tres Áreas Culturales del Continente Americano al Comienzo del Siglo XXI» (PDF) (em espanhol). Centro de Investigación en Ciencias Sociales y Humanidades, UAEM. Consultado em 18 de novembro de 2020 
  12. Ramos Mejía, José María (1899). Las multitudes argentinas. Abel Langer. Buenos Aires: Secretaría de Cultura de la Nación. OCLC 34562607 
  13. Navarra, Gabriela (4 de setembro de 2011). «Y al final..., ¿llegamos de los barcos?». La Nación. Consultado em 28 de janeiro de 2015 
  14. Torrado, Susana (9 de setembro de 2002). «La pobreza tiene rasgos criollos». Clarín. Consultado em 10 de janeiro de 2010 
  15. «Los migrantes y la discriminación en Argentina». www.ub.edu. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  16. Valente, Marcela (3 de maio de 2005). «ARGENTINA: Grietas nazis en pasado encubierto». web.archive.org. Consultado em 26 de dezembro de 2022. Arquivado do original em 22 de abril de 2008 
  17. Barretto Ghione, Hugo (1999). «Libre circulación de trabajadores en el Mercosur : un imaginario de la dimensión humana de la integración». library.fes.de. Consultado em 26 de dezembro de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • MARGULIS, Mario; URRESTI, Marcelo (1998). La segregación negada: cultura y discriminación social. [S.l.]: Buenos Aires: Biblos. ISBN 950-786-224-2 
  • Ramos Mejía, José (1934) [1899]. Las multitudes argentinas. [S.l.]: Buenos Aires: Talleres Gráficos Argentinos 
  • Sarramone, Alberto (1999). Los abuelos inmigrantes: historia y sociología de la inmigración argentina. [S.l.]: Buenos Aires: Biblos Azul. ISBN 9789879435014