Cine-Teatro Avenida

Cine-Teatro Avenida
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O Cine-Teatro Avenida, atualmente Edifício Avenida, foi um cine-teatro situado na cidade de Aveiro, em Portugal. Com projeto da autoria do arquiteto Raul Rodrigues Lima, a sala de espetáculos foi inaugurada em 29 de janeiro de 1949 com a exibição do filme Não Há Rapazes Maus. Atualmente é uma galeria comercial [1] e um Café-Concerto.

Precendentes[editar | editar código-fonte]

A abertura da Avenida do Doutor Lourenço Peixinho inicia-se em 1918. Nos anos 20 e 30, os edifícios têm, em geral, dois pisos, com estabelecimento comercial no piso térreo e habitação no andar superior. Os primeiros edifícios são de inspiração Beaux-Arts, dos quais é exemplo a ainda existente Pensão Avenida. Ainda nos anos 30 começam a ser introduzidos elementos novos, através do gosto Art Déco, fazendo-se a transição para uma arquitectura mais geométrica e depurada. Nas décadas de 30 e 40, os anos modernistas da Avenida, a escala dos edifícios cresce para três e quatro pisos, com um desenho cuidado e uma maior exploração volumétrica. Nos anos 40 em Aveiro nota-se uma maior preocupação com a qualidade e tratamento do espaço urbano e da arquitectura. A Avenida é assim, nesta época, um lugar privilegiado da cidade. A vida social, até aí maioritariamente no Rossio, vai transferindo-se também para a Avenida. [2]

Construção[editar | editar código-fonte]

Para a construção e exploração deste edifício foi constituída uma empresa, "nos vulgares modos de uma sociedade comercial por cotas" (nas palavras de Augusto Bagão, um dos principais sócios) [3], designada por Empresa Cinematográfica Aveirense, Lda, a qual foi também responsável pela construção do Cine-Teatro de Estarreja, com um capital social inicial de 1.500 contos. [4] As obras demoraram cerca de 4 anos, de 1944 a 1949 e foram bastante atribuladas. No discurso de inauguração, Augusto Bagão referiu:

"Não quero fazer valer o empreendimento expondo todas as dificuldades que foi preciso vencer. Seria indelizadeza convidar V. Excelências para lhes ler o elogio do nosso esforço ou pintar todo o quadro de aborrecimentos que uma grande construção como está dá sempre a quem lhe mete os ombros. [...] Mas os louvores da realização material da obra cabem ao sr. arquiteto Rodrigues de Lima e ao sr. engenheiro Angelo Ramalheira porque penso eu e pensa a Empresa, deram neste edifício mais uma prova do seu alto valimento como tecnicos consagrados e artistas de mérito invulgar." [3]

Efetivamente, todo o capital social de 1500 contos foi gasto nas complicadas fundações e teve que ser aumentado várias vezes. Devido ao subsolo alagadiço, a Empresa foi obrigada a proceder à extração de lamas e a injeções de areia até a uma profundidade de cerca de 20 metros.[4] O engenheiro responsável pela obra foi Ângelo Ramalheira.

Escrevia o Jornal Democrata:

"... as fundações que tiveram que profundar no terreno roto perto de 30 metros foram entregues à reconhecida competência do sr. engenheiro Angelo Ramalheira, que ali empregou um sistema de poços que, cheios de beton, constituiram o suporte da formidável massa do edifício erguido sobre terreno muito ingrato e perigoso." [...] no dizer dos entendidos, foi produzida uma obra que muito honra a técnica nacional de construção civil."

Inauguração e Descrição do Espaço[editar | editar código-fonte]

À data da inauguração escrevia o Jornal Democrata:

"Constituiu um verdadeiro acontecimento a inauguração do Cine Teatro Avenida que a Empresa Cinematográfica Aveirense mandou construir na Avenida D. Lourenço Peixinho.

O Cine-Teatro é um edifício grandioso que honraria qualquer grande capital e que veio enriquecer o centro da cidade, causando admiração a quantos o visitam.

Os aveirences podem sentir-se orgulhosos com esta nova casa de espetáculos. É um verdadeiro palácio que custou milhares de contos e satisfaz inteiramente todos os requintes modernos."

Nessa mesma notícia é descrito o interior do Cine-Teatro, sendo evidente o luxo e a imponência com que o mesmo foi construido.

"A sala de espetáculos comporta 1400 pessoas que podem distribuir-se pela plateia, 1º e 2º balcão e quatro camarotes. É toda em linhas modernas de avantajado pé direito, luz indirecta, havendo vários salóes entre os quais se distingue o salão de festas no 1º andar, primorosamente decorado, sobressaindo no meio uma escultura de Teixeira Lopes (sobrinho) e um lustre e portão monumental onde se pode admirar a feliz combinação de arte de ferro forjado com motivos cerâmicos das Fábricas Aleluia. É uma verdadeira novidade na arte decorativa que tem sido muito admirado. Há vários bars e numerosos lustros em cristal de fabrico de Alcobaça. As passadeirars e as carpetes são riquíssimas. O mobiliário estufado inexcedível de comododidade. Na sala de espectáculos há trabalhos artísticos do distinto escultor ilhavense Euclides Vaz, que na Escola de Belas Artes de Lisboa fez o seu curso com 20 valores. Dentre estas obras de arte sobressai a grande composição superior que simboliza neptuno, o deus do mar, levando no seu carro, sobre as águas, a cidade de Aveiro, representada pela deusa Vénus, de grande beleza plástica. Noutros pontos do edifício há composições do escultor espanhol Ruano."

Já em relação ao exterior é referido:

"No exterior nota-se uma composição de arquictetura moderna, mas sem nenhum exagero de cimento armado. O estilo é exactamente o que está sendo empregue nas grandes construções de Lisboa. Veem-se varandas de ferro, janelas e aberturas circulares, quebrando a monotonia das grandes paredes numa combinação feliz de gosto actual, com recordações dos estilos nacionais, conforme na solenidade de abertura ouvimos dizer a pessoas competentes. Entre os materiais empregados há granitos e mármores verdadeiros e forjados ricos, além de muito mateiral plástico e sintético de revestimento, isolamento e decoração. O som foi objeto de um projeto especial, a iluminação a tuvos de neon e florescentes de belíssimo efeito. A impressão do conjunto é, na verdade, grandiosa, causando a admiração de todos até dos menos entendidos em problemas arquitectónicos."

Primeiras Décadas de Funcionamento[editar | editar código-fonte]

Com a inauguração do novo Cine-Teatro, Aveiro passou a ter duas salas de espetáculos, o Cine-Teatro Avenida e o Teatro Aveirense. A cidade era pequena para duas grandes salas de espetáculos, pelo que, nos anos cinquenta, as duas administrações se reunem e acordaram exibições alternadas de espetáculos, o que implicava que nenhuma delas apresentasse dois espetáculos seguidos.[4] No mesmo edifício funcionou também o restaurante e salão de chá Galo D'Ouro, inaugurado em meados de Maio de 1949. O restaurante estava localizado "nos baixos do prédio" e cuja entrada se fazia pela transversal da Avenida que dá acesso ao Mercado Manuel Firmino. [5]

Encerramento[editar | editar código-fonte]

Em 1984, o interior do edifício foi completamente alterado, mas mantendo o aspeto exterior. O Edifício foi renomeado para Edifício Avenida e passou a ter vários propósitos ao longo do tempo nomeadamente numa sala de exposição de Artes Plásticas, e posteriormente, numa sala de bingo, num parque temático de diversão infantil.

Atualmente[editar | editar código-fonte]

Atualmente, neste edifício, existem duas repartições de bancos, duas lojas de roupa e dois cafés. À excepção de um café, todos os estabelecimentos comerciais referidos se localizam no rés do chão. Nos pisos superiores, num regresso à função originalmente projetada, encontra-se o Avenida Café Concerto. Aberto em 2018[6], o espaço pretende apostado em dar palco a projectos culturais de qualidade. Em 2019, aquando do primeiro aniversário do espaço, contavam-se já 115 concertos, 11 sessões de cinema, 12 festas, seis exposições, quatro performances de dança e sete peças de teatro realizadas.[7]


Referências

  1. «Cine-Teatro Avenida / Edifício Avenida». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Consultado em 11 de março de 2018 
  2. Cruz, Sara Alves Pereira Ventura da (Julho de 2011). Aveiro, A Avenida: Bases Para um Plano. [S.l.]: Universidade de Coimbra. p. 13 e 15 
  3. a b Semanário Republicano de Aveiro, O Democrata (5 de Fevereiro de 1949). «Progresso de Aveiro - A inauguração do Cine-Teatro Avenida» (pdf). Jornal. 5 de Fevereiro de 1949 
  4. a b c Leite, José (20 de Novembro de 2015). «Cine-Teatro Avenida em Aveiro» (html). Blog. Consultado em 9 de Agosto de 2020 
  5. Semanário Republicano de Aveiro, O Democrata (28 de Maio de 1949). «Aveiro e o seu progresso - Depois da inauguração do Cine-Teatro Avenida, que hoje reproduzimos em gravura e a que largamente nos referimos a quando da abertura das suas portas, a do "Galo d'Ouro", restaurante e salão de chá no mesmo edifício» (pdf). Jornal. 28 de Maio de 1949 
  6. «Um bar que é, acima de tudo, um espaço de artes» (html). Jornal. 15 de setembro de 2018. 15 de setembro de 2018  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  7. «O Avenida voltou a ser um espaço cultural de referência em Aveiro» (html). Jornal. 23 de agosto de 2019. 23 de Agosto de 2019  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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