Chuva de granizo no leste de Minas Gerais em 1985

Chuva de granizo no leste de Minas Gerais em 1985
Chuva de granizo no leste de Minas Gerais em 1985
Duração 30 de setembro de 1985
Danos Milhares de casas danificadas, dezenas de residências completamente destruídas e 50% da safra de café de Itabirinha perdida
Vítimas 22
Áreas afetadas Vales do Rio Doce e Mucuri, em Minas Gerais, Brasil, mas Itabirinha foi a cidade mais atingida

A chuva de granizo no leste de Minas Gerais em 1985 foi um evento de queda de granizo e chuvas intensas que afetou severamente áreas dos vales do Rio Doce e Mucuri, no interior mineiro, em 30 de setembro de 1985. O município de Itabirinha, então denominado Itabirinha de Mantena, foi o mais afetado. Contava com cerca de 10 mil habitantes em 1985, dos quais 4 mil ficaram desabrigados. Somente nessa cidade foram registradas vinte vítimas fatais e seiscentos feridos.

A tempestade de granizo em Itabirinha, com pedras de gelo que chegavam a pesar um kg, durou cerca de quinze minutos, o suficiente para afetar mais de 50% das residências do núcleo urbano, incluindo 1 800 casas danificadas e cinquenta completamente destruídas. Na zona rural, 50% da safra de café do município foi perdida. Em Ipatinga, no Vale do Aço, a chuva de granizo provocou duas mortes e danos materiais. As regiões de Teófilo Otoni e Mantena também registraram tempestades.

História[editar | editar código-fonte]

Na tarde do dia 30 de setembro de 1985, uma segunda-feira, diversas regiões dos vales do Rio Doce e Mucuri registraram tempestades severas. Em Ipatinga, a chuva de granizo acompanhada por rajadas de vento, descargas elétricas e enxurradas provocou duas mortes, destelhamento e destruição de casas, danos em carros e deslizamentos de barrancos e muros. Segundo a Defesa Civil, outras regiões atingidas por tempestades foram Mantena e Teófilo Otoni.[1] No entanto, a localidade mais afetada naquele dia foi o município de Itabirinha,[1] onde a tempestade de granizo atingiu proporções severas e com posterior repercussão internacional, com pedras de gelo que chegavam a pesar um kg.[2]

Ruas inundadas de lama em Itabirinha depois da chuva de granizo.

A queda de granizo durou entre quinze e vinte minutos e foi suficiente para afetar de 50% a 70% das residências do núcleo urbano de Itabirinha, incluindo informações de 1 800 casas danificadas e cinquenta completamente destruídas.[2][3][4] Dos cerca de dez mil habitantes, aproximadamente quatro mil ficaram desabrigados, seiscentos ficaram feridos e vinte morreram.[2][5] Algumas das vítimas fatais foram encontradas nos dias seguintes congeladas, presas entre móveis quebrados e nos escombros das casas. Outras foram simplesmente soterradas pela camada de gelo, que chegou a 1,5 metro de altura. Estimativas iniciais da Defesa Civil indicavam que o número de mortos poderia chegar aos quarenta.[1] O acumulado diário de chuva do dia 1º de outubro em um ponto de medição da CPRM localizado em Ataléia, município vizinho, referente à medição das últimas 24 horas, foi de 79,0 mm.[6] Além das águas das chuvas intensas, o gelo que derreteu nos dias seguintes elevou o nível de alguns cursos hídricos que banham o município, provocando novas enchentes.[2]

Também foram danificados o prédio da prefeitura, do quartel da Polícia, escolas e o hotel da cidade.[1] Na zona rural de Itabirinha, cerca de 50% da safra de café, principal atividade econômica do município, foi perdida, o equivalente a oitocentas mil sacas. Segundo o então prefeito Clóvis de Castro, que teve uma crise de choro em vista da situação,[1] 150 mil pés de café foram destruídos.[5] O abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica e os serviços de telecomunicações foram interrompidos em toda a cidade e 24 horas depois ainda não havia sido restabelecidos, apesar dos trabalhos das fornecedoras.[1] No dia 4 de outubro, o excesso de gelo nas ruas fez com que o Corpo de Bombeiros suspendesse as buscas por dois corpos que ainda estavam desaparecidos. Até então dezoito vítimas fatais já haviam sido confirmadas.[5]

Até o dia 5 de outubro, foram registrados cem casos de pneumonia e seis de tifo no Hospital São Lucas, o único da cidade,[7] que apesar de também ter sido danificado já havia realizado mais de 1 200 atendimentos. O estoque de medicamentos ameaçava se esgotar,[5] mas a visita do secretário estadual de saúde Raimundo Resende no dia 5 garantiu o repasse de medicamentos e vacinas necessárias.[7] Chuvas fortes continuaram a atingir o leste mineiro nos primeiros dias de outubro,[1] mas o predomínio foi de tempo ensolarado em Itabirinha a partir do dia 3, contribuindo com o derretimento do gelo e com a limpeza. De acordo com a Defesa Civil, quinze tratores e oitenta caminhões foram empenhados na limpeza da cidade. No dia 6 o processo de desobstrução das vias ainda não estava concluído e havia blocos de gelo próximos aos rios.[7]

Ajuda e repercussão[editar | editar código-fonte]

No dia seguinte à tragédia em Itabirinha, em 1º de outubro, começaram a chegar carregamentos de alimentos, medicamentos, barracas, colchões e geradores de energia, grande parte trazida por dois caminhões de Governador Valadares e do Fundo Especial de Calamidade Pública da Defesa Civil estadual. Médicos, militares e bombeiros de cidades vizinhas, Mantena e Governador Valadares também se estabeleceram em Itabirinha.[1][8] O fornecimento de água potável foi feito por caminhões-pipa do Corpo de Bombeiros e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), que realizava obras na região, a pedido da Defesa Civil. A maioria dos desabrigados foi levada para igrejas e escolas, sendo cem deles para o Colégio Comercial Itabirense, que precisou ser coberto de lona por causa dos estragos. No dia 2 de outubro, foi decretado estado de emergência[1] e Cr$ 1 bilhão foram liberados pelo Ministro do Interior, Ronaldo Costa Couto, para o atendimento das vítimas.[4] Uma conta corrente também foi aberta no Banco do Brasil para a arrecadação de doações.[7]

Segundo o então Serviço Nacional de Meteorologia, a ausência de equipamentos meteorológicos naquela época fez com que a tempestade fosse imprevisível. A estação de monitoramento mais próxima estava localizada no Rio de Janeiro, não sendo possível alcançar as localidades mais afetadas.[4] O chefe do 5º Distrito de Meteorologia, Luiz Ladeira, afirmou se tratar de fenômenos meteorológicos "localizados" e que não poderia dar maiores explicações devido à ausência de monitoramento nessas áreas. No entanto, tempestades rápidas e isoladas não são incomuns nessa época do ano na região, marcando o início do período chuvoso.[8] Apesar do episódio, que obteve repercussão nacional e internacional, o município se recompôs com o passar do tempo. O dia 30 de setembro foi decretado como ponto facultativo por alguns anos, em memória às vítimas.[9][10]

Referências

  1. a b c d e f g h i «Chuva mata 22 e desaloja 4 mil no Vale do Rio Doce» (PDF). Jornal do Brasil (177): 7. 2 de outubro de 1985. Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2017 
  2. a b c d Organización Meteorológica Mundial (15 de julho de 1999). «Informe del Grupo de Trabajo sobre Meteorología Agrícola de la AR IV» (PDF) (em espanhol). World AgroMeteorological Information Service (WAMIS). p. 330–331. Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2017 
  3. Economía y Negocios (2 de outubro de 2015). «Mercury há 30 anos» (em espanhol). Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada em 12 de julho de 2017 
  4. a b c «Interior ajuda vítimas em Minas» (PDF). Jornal do Brasil (178): 17. 3 de outubro de 1985. Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2017 
  5. a b c d «Sarney libera verba para cidade mineira arrasada por granizo» (PDF). Jornal do Brasil (179): 7. 4 de outubro de 1985. Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2017 
  6. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 10/1985». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada em 12 de julho de 2017 
  7. a b c d «Inundações aumentam os casos de pneumonia e tifo no Rio Doce» (PDF). Jornal do Brasil (181): 28. 6 de outubro de 1985. Consultado em 12 de julho de 2017 
  8. a b «Granizo causa mortes e destruição em Minas». Jornal do Commercio (2): 12. 2 de outubro de 1985. Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada em 12 de julho de 2017 
  9. Portal Vargem Grande (2015). «Tragédia em Itabirinha completa 30 anos; população relembra chuva de granizo que destruiu a cidade». Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada em 12 de julho de 2017 
  10. Prefeitura (28 de fevereiro de 2014). «Livro de decretos municipais de Itabirinha - ano de 2013». p. 119. Consultado em 12 de julho de 2017. Cópia arquivada em 12 de julho de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]