Chauvinismo

 Nota: "Chovinista" redireciona para este artigo. Para o porco de estimação do Cascão, da Turma da Mônica, veja Chovinista (Turma da Mônica).

Chauvinismo ou chovinismo (do francês chauvinisme) é o termo dado a todo tipo de opinião exacerbada, tendenciosa ou agressiva em favor de um país, grupo ou ideia. Associados ao chauvinismo, frequentemente identificam-se expressões de rejeição radical a contrários, desprezo às minorias, entusiasmo excessivo pelo que é nacional e menosprezo sistemático pelo que é estrangeiro.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O termo deriva do nome de Nicolas Chauvin, um soldado do Primeiro Império Francês[1] que, sob o comando de Napoleão Bonaparte, demonstrou grande patriotismo tendo sido ferido dez vezes em combate, mas sempre retornando aos campos de batalha. Sua história verdadeira misturou-se à lenda de uma forma inseparável.

Chauvin lutou em diversas campanhas e ficou severamente mutilado por ter sido ferido 17 vezes em combate. Por sua bravura, o nome de Chauvin, que foi condecorado pessoalmente por Napoleão, era visto como um símbolo do soldado francês valoroso. No entanto, à medida que várias peças do teatro cômico e de vaudeville começaram a ridicularizar o personagem, apresentando-o como ingênuo e fanático, o termo foi adquirindo o valor negativo que tem hoje. Modernamente, o chauvinismo está associado ao sentimento ultranacionalista de certos grupos, que os leva a odiar as minorias e a perseguir estrangeiros. O Women's Liberartion Moviment (WLM), movimento de emancipação feminina da década de 70, imortalizou sua crítica aos machistas ao denominá-los de "porcos chauvinistas".

Análise[editar | editar código-fonte]

O chauvinismo resulta de uma argumentação falsa ou não lógica, uma falácia ao olhar para outras culturas. Em retórica, consubstancia-se em alguns dos argumentos falsos chamados ad hominem que servem para persuadir com sentimentos em vez de razão quem reage mais àqueles que a estes. A prática nasceu fundamentalmente com a crença do romantismo nos "caracteres nacionais" ("Volksgeist", Espírito do Povo, em alemão).

A principal característica do chauvinismo é a intenção permanente de mostrar que a própria nação é a melhor. Essa noção perdura e prevalece sobre todas as coisas, tornando todo o resto irrelevante.

O chauvinismo pode gerar comportamentos irracionais que resultam em atitudes extremas e radicais, como exclusão social e individual de acordo com a raça (discriminação racial), xenofobia e outros ressentimentos evidenciados na rejeição de outros, vistos como uma ameaça à sua nação.

Chauvinismo de bem-estar social[editar | editar código-fonte]

O chauvinismo de bem-estar social é um termo usado para descrever a noção política de que os benefícios do Estado de bem-estar social devem ser restritos a certos grupos, particularmente aos nativos de um país em oposição aos imigrantes.[2][3] Geralmente, é utilizada como argumento por políticos/partidos que alegam que problemas do Estado de bem-estar podem estar ligados à imigração, ou mesmo a grupos sociais como beneficiários da seguridade social e desempregados.[4][5][6] Na descrição da sociedade e dos problemas do Estado de bem-estar social, chauvinistas do bem-estar usam uma linha de argumentação baseada na divisão dos cidadãos em dois grupos: "nutritivos" (composto por aqueles que fazem parte do bem-estar da sociedade e da prosperidade do país) e "debilitantes" (formado por aqueles vistos como extenuantes, que promovem ou utilizam o bem-estar sem agregar qualquer valor à sociedade).[5][6]

O termo foi usado pela primeira vez nas ciências sociais no artigo de 1990 "Structural Changes and New Cleavages: the Progress Parties in Denmark and Norway", de Jørgen Goul Andersen e Tor Bjørklund.[7]

De acordo com os chauvinistas do bem-estar social, a seguridade social do estado de bem-estar é voltada para aqueles que eles acreditam pertencer à comunidade. Pelos seus padrões, as filiações à sociedade são baseadas em aspectos que a tornam culturalmente homogênea. O grupo debilitante (principalmente imigrantes) é considerado fora da sociedade e um injusto usuário do sistema de bem-estar social.[8][9] Em essência, os chauvinistas do bem-estar consideram a imigração como um dreno dos escassos recursos da sociedade. Eles acreditam que esses recursos devem ser usados ​​para a população nativa,[10] preferencialmente crianças e idosos.[11]

O mesmo princípio é transferido para o mercado de trabalho, onde a competição por empregos pode gerar conflito entre imigrantes e a população nativa. Em tempos de alto desemprego, essa retórica amplifica a legitimidade do chauvinismo de bem-estar social e de outros argumentos xenofóbicos.[12]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Columbia Encyclopaedia [1]
  2. Barbosa, Jefferson Rodrigues (18 de novembro de 2020). «Chauvinismo de bem-estar social e fascismo contemporâneo». UNICAMP. Cadernos Cemarx. ISSN 2318-065X. doi:10.20396/cemarx.v13i00.14202 
  3. Spire, Alexis (2 de dezembro de 2013). «Xenofobia em nome do Estado de bem-estar social - Le Monde Diplomatique». Le Monde Diplomatique Brasil. Consultado em 13 de janeiro de 2023 
  4. Rydgren, Jens (2005). Från skattemissnöje till etnisk nationalism: Högerpopulism och parlamentarisk högerextremism i Sverige (em sueco). [S.l.]: Studentlitteratur. ISBN 978-91-44-04307-4 
  5. a b Mény, Yves; Surel, Yves (2002). Democracies and the Populist Challenge (em inglês). [S.l.]: Palgrave. ISBN 978-0-333-97004-1 
  6. a b Rydgren, Jens; Widfeldt, Anders (2004). Från Le Pen till Pim Fortuyn – Populism och Parlamentarisk Högerextremism i dagens Europa (em sueco). [S.l.]: Liber. ISBN 978-0-333-97004-1 
  7. Andersen, Jørgen Goul; Bjørklund, Tor (julho de 1990). «Structural Changes and New Cleavages: the Progress Parties in Denmark and Norway». Acta Sociologica (em inglês) (3): 195–217. ISSN 0001-6993. doi:10.1177/000169939003300303 
  8. Rydgren, Jens; Widfeldt, Anders (2004). Från Le Pen till Pim Fortuyn – Populism och Parlamentarisk Högerextremism i dagens Europa (em sueco). [S.l.]: Liber. ISBN 978-0-333-97004-1 
  9. Kitschelt, Herbert. The radical right in Western Europe: a comparative analysis (em inglês). [S.l.]: University of Michigan Press. ISBN 978-0-472-08441-8 
  10. Rydgren, Jens (2005). Från skattemissnöje till etnisk nationalism: Högerpopulism och parlamentarisk högerextremism i Sverige (em sueco). [S.l.]: Studentlitteratur. ISBN 978-91-44-04307-4 
  11. Lodenius, Anna-Lena (2010). Sverigedemokraterna, så funkar dom (em sueco). [S.l.]: Ordfront magasin 
  12. Scheepers, Peer; Gijsberts, Mérove; Coenders, Marcel. «Ethnic Exclusionism in European Countries: Public Opposition to Civil Rights for Legal Migrants as a Response to Perceived Ethnic Threat"». European Sociological Review (em inglês) (18): 17–34. doi:10.1093/esr/18.1.17