Carlos Pasquetti

Carlos Pasquetti
Nome completo Carlos José Pasquetti
Nascimento 30 de abril de 1948
Bento Gonçalves, RS
Morte 22 de setembro de 2022 (74 anos)
Porto Alegre, RS
Educação Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Carlos José Pasquetti (Bento Gonçalves, 30 de abril de 1948Porto Alegre, 22 de setembro de 2022) foi um professor e artista brasileiro.

Carlos Pasquetti, década de 1980.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Filho de Camillo Pasquetti, organizador de um grupo de teatro, pintor e fotógrafo, quando jovem ajudava o pai em seus trabalhos artísticos. Formou-se em artes visuais no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1970 e em 1973 começou a lecionar no Departamento de Arte Dramática da UFRGS, ensinando cenografia e montagem e participando da criação de cenários para várias peças apresentadas por estudantes.[1] Fez mestrado no Art Institute de Chicago e, de volta ao Brasil, passou a dar aulas de desenho no Departamento de Artes Visuais da UFRGS até 1991, quando iniciou uma viagem de estudos na Escócia e Inglaterra, depois retomando a docência. Foi um dos fundadores do Grupo Nervo Óptico.[2] Entre seus mestres estão Robert Loescher, Ray Yoshida, Philip Hanson, Martin Prekop, Diane Townsend, Karen Savage e Iberê Camargo.[3][4]

Com a artista e professora Mara Álvares teve os filhos Camila e Marcelo. Faleceu em Porto Alegre em 22 de setembro de 2022 em decorrência de um câncer.[5]

Obra[editar | editar código-fonte]

Com o Nervo Óptico (NO) desenvolveu um trabalho na linha conceitual, usando uma variedade de técnicas, tendo um foco no questionamento dos padrões de arte consagrados e no debate sobre a situação política e social, numa época marcada pela ditadura militar e a censura às expressões artísticas. Segundo Cláudio Ferreira, a ironia era onipresente no seu trabalho na década de 1970, dissimulando sua contrariedade frente aos desafios da época, sendo para ele "a maneira pela qual conduziu sua ação profissional e suas ações artísticas, com o fim de resistir à censura, à opressão, à sua prisão, à coerção da liberdade. [...] Os artistas que atuavam no país nas décadas de 1960 e 1970, influenciados de alguma maneira pelo conceitualismo vigente, se valeram da ironia grandemente com o objetivo de constituir trabalhos que apontassem para questões sensíveis na confrontação com a realidade, elemento que ao mesmo tempo evitava possíveis leituras literais. Entretanto, não apenas quando empregada para dissimular uma crítica à situação política, o uso da ironia na arte, de maneira geral, reflete a busca pela não fixidez de uma interpretação definidora".[6] O grupo NO exerceu um impacto renovador nas artes do estado, ganhando reconhecimento nos principais centros do país.[7]

Nesta época Pasquetti lançou com os integrantes do NO um manifesto onde criticavam a ingerência do mercado de arte sobre a produção artística, propondo, entre outras coisas, um trabalho que fosse "produto de uma consciência crítica atuante; operações artísticas que sejam verdadeiros centros transformadores da consciência e não manifestações coniventes com um dirigismo mercadológico deformador de valores, e uma visão lúcida do papel do artista no seu contexto social e de sua participação construtiva dentro deste contexto".[8]

O desenho foi sua forma de expressão principal, onde ideias são investigadas e testadas em suas possibilidades construtivas e perceptivas, e depois trabalhadas de diferentes modos, migrando de uma técnica para outra e de um trabalho para outro.[9] Foi um dos pioneiros no Brasil do uso do filme super-8 como veículo de expressão artística e foi o introdutor de mídias contemporâneas no curso de artes da UFRGS.[10]

Sua obra de modo geral tem um caráter experimental, transita entre o figurativo e o abstrato, entre o subjetivo e o objetivo, entre o eu e o outro, e estabelece justaposições e diálogos entre diferentes técnicas, linguagens e hierarquias artísticas, buscando fugir a definições estanques e ao reducionismo formalista, e convidando o espectador à reflexão sobre as diferentes interpretações possíveis de uma mesma peça.[3][10]

Segundo o artista e crítico Alfredo Nicolaiewsky, Pasquetti foi "um artista em plena atividade, contando com mais de cinquenta anos de carreira. Considerado um dos mais significativos e instigantes artistas do sul do Brasil, desde os anos 1960, quando ainda era bastante jovem, já trabalhava com as questões mais contemporâneas, utilizando novíssimas mídias, como super-8, fotografia como registro, objetos e desenho, sempre o desenho. [...] Sua produção não deixa, até hoje, de ser contestadora".[11]

Ao falecer em 2022, várias instituições publicaram notas de pesar, como a Secretaria Estadual da Cultura, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, o Instituto Estadual de Artes Visuais, a Associação dos Escultores do Rio Grande do Sul, a Fundação Vera Chaves Barcellos, o Instituto de Artes da UFRGS, a Associação Brasileira de Críticos de Arte e a Fundação Iberê Camargo, reconhecendo unanimemente seu destacado papel na história das artes do estado.[5][12] Francisco Dalcol, diretor do MARGS, disse que Pasquetti "foi um artista querido, respeitado e aclamado pela comunidade artística, sendo considerado por muitos como um mestre. Ele é um artista fundamental, muito influente e importante para a arte contemporânea no Estado, entendida como essa produção artística que se desenvolve a partir dos anos 1960 e se fortalece nos anos 1970, questionando as convenções artísticas da arte moderna. [...] Ele é uma referência para gerações desde então, desde os contemporâneos dele a gerações mais recentes. É um artista de uma produção tremendamente impactante".[5]

Algumas exposições[editar | editar código-fonte]

Prêmios[editar | editar código-fonte]

  • Prêmio Fullbright de viagem ao exterior[14]
  • Grande Prêmio do 4° Salão de Artes Visuais da UFRGS[11]
  • Troféu Scalp Destaque em Artes Plásticas[2]
  • Prêmio Açorianos de Artes Plásticas em duas categorias: Destaque em Desenho e Melhor Exposição Individual[15][16]

Referências

  1. Ferreira, Cláudio Barcellos Jansen. A ironia no trabalho de Carlos Pasquetti: a autoimagem performatizada como aporia. Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017, pp. 19; 98
  2. a b c d e f g h i j k l m n o "Carlos Pasquetti". In: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. Itaú Cultural, 2021
  3. a b "Carlos Pasquetti". Fundação Vera Chaves Barcellos
  4. Pasquetti, Carlos. «Biografia – Carlos Pasquetti por ele mesmo». Consultado em 10 de janeiro de 2024 
  5. a b c Polo, Fernanda. "Morre o artista gaúcho Carlos Pasquetti, aos 74 anos". Zero Hora, 22/09/2022
  6. Ferreira, p. 39
  7. Carvalho, Ana Maria Albani de. Espaço N.O. — Nervo Óptico. FUNARTE, 2004
  8. Apud Brites, Blanca Luz. "Pinacoteca Barão de Santo Ângelo em sintonia com seu tempo". In: Gomes, Paulo (org.). Pinacoteca Barão de Santo Ângelo: Catálogo Geral — 1910–2014. Editora da UFRGS, 2015, p. 523
  9. Gonçalves, Flávio. "Um todo e o corpo". In: Paralelo 31, 2013 (1)
  10. a b Ferreira, pp. 105-114
  11. a b Nicolaiewsky, Alfredo. "Carlos Pasquetti: os desenhos entre 1977 e 1981". In: Revista Estúdio, 2018; 9, (21)
  12. "Artista Carlos Pasquetti morre, aos 74 anos, em Porto Alegre". O Globo, 22/09/2022
  13. "Carlos Pasquetti". 14ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba
  14. "Entrevista com Carlos Pasquetti". Fundação Iberê Camargo, 31/07/2018
  15. "Prêmio Açorianos de Artes Plásticas será entregue nesta terça". Prefeitura de Porto Alegre
  16. "Carlos Pasquetti é o grande vencedor do Açorianos de Artes Plásticas". Zero Hora, 02/07/2013