Batalha de Vatalandi

Batalha de Vatalandi
Data 1110
Local Vatalandi, Santarém
Desfecho Vitória decisiva almorávida
Aniquilação total do contingente cristão
Beligerantes
Condado Portucalense Império Almorávida
Comandantes
Soeiro Fromarigues
Mido Cresconiz
Baixas
elevadas desconhecidas

A Batalha de Vatalandi foi uma batalha travada em 1110[1](ou possivelmente entre 1102[2] e 1004[2]) em Vatalandi, uma antiga terra perto de Santarém, sendo a sua localização desconhecida[2]. Nesta batalha, as forças cristãs comandadas por Soeiro Fromarigues foram subitamente salteadas e derrotadas pelos Mouros, dos quais foram mortos, entre outros, o seu comandante Soeiro Fromarigues e Mido Cresconiz, pai de D. João Midiz.[1]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Afonso VI de Leão

Após a morte de Fernando Magno, e da unificação dos reinos Hispânicos sob a égide de Afonso VI de Leão, este iniciou campanhas extensivas contra as taifas muçulmanas da Península Ibérica. Em 1091, D. Afonso VI dá a mão de sua filha D. Urraca a D. Raimundo, e com ela o controlo do Reino da Galiza, onde se incluía o Condado Portucalense e o Condado Conimbricense.

No ano de 1093, Afonso VI forma um exército invade a Taifa de Badajoz, de modo a assegurar e solidificar o seu controlo sobre os territórios a norte do Tejo.[3]

A 29 de Abril de 1093, num sábado, às 9 horas, o rei D. Afonso tomou a cidade de Santarém[1], e deu o controlo desta cidade ao marido de sua filha, o agora Conde D. Raimundo, sob a direção de Sueiro Mendes. Seguiu depois para Lisboa, conquistando esta a 6 de Maio e dois dias depois conquista o castelo de Sintra. Depois da campanha militar bem sucedida, D. Afonso VI dá o governo destes castelos a D. Raimundo, de forma a poder aumentar a eficácia da defesa do Reino, caso alguma invasão almorávida tenha lugar.

No entanto, preocupado com o crescente poder de Raimundo, em 1096, Afonso VI separa os antigos condados Portucalense e Conimbricense do Reino da Galiza e concedê-los a outro genro, Henrique de Borgonha, casado com a sua filha ilegítima, Teresa.

Henrique de Borgonha, conde do Condado Portucalense e pai de D. Afonso Henriques

Em Novembro de 1094[3],o comandante Almorávida Sir ibn Abi Bakr conquista a Taifa de Badajoz, e retoma a cidade de Lisboa e no ano seguinte Sintra, depois da vitória frente as forças de D. Raimundo na região. Em 1096, os mouros recapturam Santarém.[3]

Em Julho de 1109, o Conde D. Henrique reconquista a cidade de Santarém[1], Sintra e possivelmente Lisboa aos almorávidas. No entanto, depois de saberem da morte de D. Afonso VI, os mouros de Sintra revoltam-se, provocando a rápida intervenção vitoriosa do Conde de Portugal.[4]

Era muito de temer que o mesmo espírito de rebelião se comunicasse às outras praças fortes e vizinhas, que reciprocamente se auxiliavam e apoiavam e que todas ficavam remotas do centro das forças e do senhorio português.[2]

D. Henrique, receando que uma revolta semelhante à de Sintra sucedesse a Santarém, quis assegurar que tal rebelião não acontecia, designando Soeiro Fromarigues como comandante de um pequeno contingente para reforço da cidade, de modo a dissuadir qualquer tentativa de revolta.

A partir de Coimbra[2], presumivelmente, marcha o contingente galego-português para Santarém, comandada por Soeiro Fromarigues e onde ia também Mido Cresconiz, pai de João Midiz, juntamente com outros nobres.

Batalha[editar | editar código-fonte]

Dias antes do confronto, chega aos ouvidos dos mouros que um contingente cristão de número reduzido marchava em direção a Santarém. Um exército mouro composto por almorávidas, moabitas e de árabes, implicitamente de maior número, marcha então para ir ao encontro deste.

Chegando perto da localidade de Vatalandi, cuja localização é nos completamente desconhecida, ao anoitecer[2], é dada ordem para montar acampamento e levantar tendas[1], para ali passarem a noite. Aproveitando a vantagem numérica e o elemento surpresa, o exército mouro arma uma emboscada ao exército cristão, apanhando-o completamente desprevenido. Sem tempo para formar uma linha de batalha, o pequeno contigente cristão é aniquilado, resultando na morte do seu comandante, Soeiro e de Mido Cresconiz, entre outros. [1]

Legado[editar | editar código-fonte]

Quase nada se sabe acerca desta batalha. Nem o número de soldados em cada uma das hostes, nem o número de baixas, nem onde a batalha decorreu. Uma das poucas referências que se encontra sobre a batalha dá-se na Crónica dos Godos, onde diz o seguinte, traduzido para português:

Era de 1148:Aconteceu uma grande desgraça aos Cristãos que iam para Santarém num lugar denominado Vatalandi. Quando os Cristãos queriam ali levantar as suas tendas e descansar, de repente, uma multidão de Sarracenos, de Moabitas e de Árabes, tendo-lhes chegado aos ouvidos o reduzido número daqueles, caem sobre eles e, encontrando-os despercebidos, mataram muitos deles, tendo ali ficado mortos Soeiro Fromariguiz, pai de D. Nuno Soeiro, que os comandava e Mido Cresconiz, pai de D. João Mido

Desconhece-se o impacto que esta derrota teve para com a queda de Santarém uns anos depois, tendo Henrique Barrilaro Ruas desvalorizado esta derrota dizendo que:" Este desastre das armas portuguesas não teve qualquer influência directa na sorte de Santarém, que só viria a cair em poder de Cir alguns anos mais tarde".[2]

Independentemente das consequências da batalha, é de notar a relevância desta batalha, assinalada pelo detalhe dado a ela na Crónica dos Godos, e não deixa de ser um dos raros episódios conhecidos das lutas de Portugueses com Mouros no tempo do Conde D. Henrique.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f «Crónica dos Godos». www.arqnet.pt. Consultado em 18 de junho de 2021 
  2. a b c d e f g Barrilaro Ruas, Henrique (1949). «A data do desastre de Vatalandi» (PDF). Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra: Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos. Consultado em 18 de junho de 2021 
  3. a b c Reilly, Bernard F. (1992). The Contest of Christian and Muslim Spain: 1031-1157. [S.l.: s.n.] ISBN 9780631199649 
  4. Crónica dos Godos. [S.l.: s.n.] p. 301