Batalha de Bumbi

Batalha de Bumbi
Guerra Luso-Congolesa de 1622

Reino do Congo ca. 1711
Data 18 de dezembro de 1622
Local Bumbi
Desfecho Vitória portuguesa
Beligerantes
África Ocidental Portuguesa Reino do Congo
Comandantes
Pedro de Sousa Coelho Paulo Afonso
Cosme
Forças
20 000 arqueiros ambundos
10 000 infantes portugueses e mercenários imbangalas
2 000–3 000 arqueiros
200 infantes pesados
Baixas
Desconhecido Pesadas

A Batalha de Bumbi (Mbumbi) foi um confronto militar entre as forças portuguesas de Angola e do Reino do Congo em 1622. Embora os portugueses tenham vencido, a batalha serviu de ímpeto para o reino expulsar os portugueses do seu território.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

A Angola portuguesa foi criada em 1575 como recompensa aos lusitanos por auxiliarem o Reino do Congo a derrotar os jagas que invadiram o reino em 1568. Após a tentativa desastrosa de conquistar o Reino do Dongo, o governador português Mendes de Vasconcelos fez aliança com os imbangalas, um povo descrito por fontes europeias e do Congo como mercenários canibais sem raízes originários do sul do rio Cuanza. O governador utilizou-os para destruir o Dongo enquanto os portugueses colheram os escravos que emergiram do caos. Em 1621, Vasconcelos foi sucedido por João Correia de Sousa. Sousa queria colher os mesmos benefícios do seu antecessor ao soltar os imbangalas no território do Congo. Primeiro mirou nas terras florestais de Cazanze, um vassalo do Congo que havia sido um refúgio para escravos fugitivos da Angola portuguesa.[1] Correia de Sousa enviou então o capitão-mor Pedro de Sousa Coelho e 20 000 ambundos e portugueses com um contingente imbangala para Nambu a Angongo dentro da província do Congo de Umbamba.[2]

Preparação[editar | editar código-fonte]

Sousa Coelho marchou sobre Bumbi com 30 000 homens, a maioria dos quais eram arqueiros ambundos suplementados por infantaria pesada portuguesa e mercenários imbangalas. Dentro da cidade, o duque de Umbamba Paulo Afonso[3] e o marquês de Umpemba Cosme[4] lideravam as forças do Congo. Eles haviam reunido cerca de 3 000 homens como infantaria leve (arqueiros) e mais 200 nobres lutando como infantaria pesada tradicional (espada e escudo). Antes de dar a batalha em 18 de dezembro de 1622, Paulo Afonso fez a confissão e recebeu os Santos Sacramentos antes de se armar com espada, escudo e relíquias de vários santos.[2][5]

Batalha[editar | editar código-fonte]

No início da batalha, ambos os lados deram o grito de guerra "Santiago" antes de se engajarem. As forças do Congo, vendo esta coincidência, observaram que se o santo português era branco, o deles era negro. As forças do duque iniciaram a batalha derrotando os arqueiros ambundos cujas fileiras haviam aumentado para cerca de 30 000 no momento da batalha. Mas, assim como em Dongo, os mercenários imbangalas não cederam e destruíram a força do Congo com um contra-ataque. O duque, marquês, 90 nobres menores e milhares de soldados comuns foram todos mortos.[2] Segundo os relatos dos jesuítas sobre a batalha, os portugueses conseguiram tirar muitos escravos da batalha e saquearam todo o povoado, não poupando as possessões dos portugueses ali estabelecidas. Os imbangalas, como era seu costume, canibalizaram muitos prisioneiros e mataram, incluindo os corpos do Paulo Afonso e Cosme.[6]

Rescaldo[editar | editar código-fonte]

A batalha causou ondas de choque por todo o Reino do Congo. Motins antiportugueses estouraram em todo o Congo, resultando em derramamento de sangue generalizado. O recém-coroado Pedro II (r. 1622–1624) viu-se obrigado a colocar sob sua proteção os portugueses que podiam ser salvos no seu acampamento de Umbanda Cassi, onde reunia as suas forças para um contra-ataque. A vitória portuguesa em Bumbi pôs um prego final no caixão da amizade congo-portuguesa. O Congo declarou guerra à Angola portuguesa e lutou contra eles fora do Congo e até mesmo tomando territórios que haviam estado sob o domínio da Angola portuguesa. Uma consequência final da batalha foi a sucessão de cartas de Pedro II aos holandeses propondo uma aliança que culminaria vinte anos depois com a invasão de Angola.[6]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Thornton 2010, p. 237.
  2. a b c Thornston 2007, p. 138.
  3. Thornton 2007, p. 174.
  4. Instituto Histórico Belga de Roma 1968, p. 391.
  5. Thornton 2020, p. 130.
  6. a b Thornton 2010, p. 238.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • «Boletim do Instituto Histórico Belga de Roma [Bulletin de l'Institut historique belge de Rome], Partes 39–40». Roma. 1968 
  • Thornton, John; Mosterman, Andrea (2010). «A Re-Interpretation of the Kongo-Portuguese War of 1622 According to New Documentary Evidence». Jornal da História Africana [The Journal of African History]. 51 (2). doi:10.1017/S0021853710000277 
  • Thornton, John; Heywood, Linda M. (2007). Central Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585–1660. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 9780521770651 
  • Thornton, John (2020). A History of West Central Africa to 1850. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 978-1-107-12715-9