Anarcopunk

Anarco-punk
Origens estilísticas Punk
Contexto cultural Final da década de 1970, no Reino Unido
Gêneros de fusão
Outros tópicos

Anarcopunk ou anarco-punk é uma vertente do movimento punk que consiste de bandas, grupos e indivíduos que promovem políticas anarquistas.

Apesar de nem todos os punks apoiarem o anarquismo, o pensamento tem um papel importante na cultura punk, e o punk teve uma influência significativa no anarquismo contemporâneo. O termo anarcopunk é algumas vezes aplicado exclusivamente a bandas que fizeram parte do movimento anarcopunk original no Reino Unido na década de 1970 e 1980, como Crass, Conflict, Flux of Pink Indians, Subhumans, Poison Girls e Oi Polloi. Alguns utilizam o termo mais amplamente para se referir a qualquer música punk com conteúdo anarquista em sua letra. Essa definição mais ampla inclui bandas crust punk e bandas d-beat como Discharge, e podem incluir bandas de hardcore punk dos Estados Unidos, como Dead Kennedys, MDC, artistas de folk punk como This Bike Is a Pipe Bomb ou artistas em outros subgêneros.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Um crescimento no interesse popular ao anarquismo ocorreu durante os anos 1970 no Reino Unido após o nascimento do punk rock, em particular os gráficos influenciados pelo situacionismo do artista Jamie Reid, que desenhava para os Sex Pistols e o primeiro single da banda, "Anarchy in the UK".[2] No entanto, enquanto que a cena punk inicial adotava imagens anarquistas principalmente por seu valor de choque,[3][4] a banda Crass pode ter sido a primeira banda punk a expor ideias anarquistas e pacifistas sérias.[3] O conceito do anarcopunk foi assimilado por bandas como Flux of Pink Indians e Conflict.[5] O co-fundador do Crass, Penny Rimbaud, disse que sentia que os anarcopunks eram representantes do punk verdadeiro, enquanto que bandas como os Sex Pistols, The Clash e The Damned eram nada mais do que "fantoches da indústria musical".[6]

Enquanto passavam os anos 1980, dois novos subgêneros da música punk evoluíram do anarcopunk: crust punk e d-beat. O crust punk, e seus pioneiros foram as bandas Antisect, Sacrilege e Amebix.[7] O d-beat eram uma forma de música punk mais bruta e rápida, e foi criada por bandas como Discharge e The Varukers. Um pouco depois, na mesma década, o grindcore desenvolveu-se do anarcopunk. Parecido com o crust punk, porém ainda mais extremo musicalmente (utilizava blast beats e vocais incompreensíveis), seus pioneiros foram Napalm Death e Extreme Noise Terror. Paralelamente ao desenvolvimento desses subgêneros, muitas bandas da cena hardcore punk dos Estados Unidos tinham a ideologia anarquista, incluindo Dead Kennedys, MDC e Reagan Youth.[carece de fontes?]

Crenças[editar | editar código-fonte]

O anarcopunk se parece muito com o anarquismo sem adjetivos, no sentido de envolver a cooperação de várias formas diferentes de anarquismo. Alguns anarcopunks são anarco-feministas (como Polemic Attack), enquanto outros eram anarcossindicalistas (Exit-Stance). O The Psalters, por exemplo, é uma banda anarcopunk afiliada ao anarquismo cristão.[carece de fontes?]

A anarquia pós-esquerdista é comum no anarcopunk moderno. CrimethInc., um dos maiores proponentes do pós-esquerdismo, possui fortes ligações com o movimento. A Class War é uma federação pós-esquerdista britânica que também é muito ligada ao anarcopunk, e apoiada por bandas como Conflict. Muitos anarcopunks apóiam questões como direitos animais, igualdade racial, feminismo, ecologismo, anti-heterossexismo, autonomia trabalhista, movimento pacifista e o movimento antiglobalização. O pacifismo não é apoiado por todos anarcopunks.[carece de fontes?]

Os punks, de modo geral, aproximam-se do anarquismo devido ao seu modo de ser, de negar e combater o autoritarismo, as fronteiras e os preconceitos impostos, porém, os anarcopunks assumem a política anarquista e seus modos de ação e organização, assim como seus princípios. Seus mais fortes modos de expressão cultural são a música, ou anti-música, a poesia e o visual "pesado" e agressivo, que procura refletir "todo o peso e imundície da sociedade em que vivemos".[carece de fontes?]

Crass, uma banda anarcopunk que não acreditava no uso da força

A ética punk do "faça você mesmo"[editar | editar código-fonte]

Muitas bandas anarcopunk enfatizam uma ética "faça você mesmo" (do it yourself ou DIY em inglês). Um slogan popular do movimento é "DIY not EMI", que em inglês representa uma rejeição a uma grande gravadora (a EMI, no caso).[8][9][10] Inicialmente, muitas bandas anarcopunk eram divulgadas na série de LPs Bullshit Detector, lançada pela Crass Records e Resistence Productions entre 1980 e 1994.[carece de fontes?]

Alguns artistas anarcopunk faziam parte da cultura DIY. Desta maneira, a rota tradicional gravação-distribuição era ignorada, já que as gravações eram feitas para quem enviasse uma fita em branco e um envelope endereçado a si mesmo. Com o surgimento da internet, o formato mp3 tem sido amplamente utilizado com esse objetivo.[carece de fontes?]

A cultura DIY no anarcopunk, tambem pode ser exemplificada através de sua mídia impressa, uma rede de fanzines que dissemina notícias, ideias e arte da cena. Todos esses fanzines são DIY, produzindo, no máximo, centenas de unidades, apesar de haver exceções como o Toxic Grafity (sic). Os zines são impressos em fotocopiadoras ou máquinas duplicadoras, e distribuídas à mão em shows punk e por correio. Atualmente a distribuição de alguns zines é feita no formato e-zine.[carece de fontes?]

Ação direta[editar | editar código-fonte]

Os anarcopunks acreditam universalmente na ação direta, apesar da maneira com que isso se manifesta varia muito. Mesmo com suas diferentes abordagens, geralmente há cooperação dentro do movimento.[carece de fontes?]

Muitos anarcopunks são pacifistas (como Crass e Discharge) e acreditam na utilização de meios não-violentos para alcançar seus objetivos, que incluem protesto pacífico, recusa a trabalhar, sabotagem econômica, ocupação, revirar resíduos, pichação, realizar boicotes, desobediência civil, "hacktivismo" e alterar material publicitário contra o anunciante. Outros anarcopunks acreditam que a violência, em alguns casos, pode ser necessária no processo para alcançar a mudança social (como Conflict e D.O.A.). Isso se manifesta por manifestações de rua, vandalismo, diversas formas de sabotagem, participação em atividades "estilo Frente pela Liberação dos Animais", e, em casos extremos, defender-se ou atacar usando o que for necessário.[11][12] Como por exemplo bombas.

O símbolo do A num círculo, frequentemente associado ao anarcopunk

Alguns integrantes de bandas punks com influência de anarquismo, principalmente na América do Norte, já tentaram utilizar o processo democrático eleitoral para trazer suas regiões mais próximas à anarquia, apesar de nenhum ter concorrido como membro de um partido anarquista. Entre os que tentaram, estão o líder dos Dead Kennedys, Jello Biafra, para prefeito de São Francisco, o cantor do T.S.O.L., Jack Grisham, a governador da Califórnia e o cantor principal do D.O.A., Joey Shithead. Alguns desses, como Biafra, acreditam que a mudança social maior é necessária antes de os humanos estarem prontos para a anarquia. Há a teoria de que a tentativa de Biafra em concorrer à prefeitura de São Francisco, foi uma forma de protesto sarcástico para ridicularizar o processo eleitoral.[carece de fontes?] Entre suas propostas políticas, estava a de policiais usarem narizes de palhaço.

Política de identificação[editar | editar código-fonte]

O anarcopunk foi destacado como um dos fenômenos sociais que levou o anarquismo na direção da política de identidade. Alguns alegam que o visual tornou-se um ingrediente essencial do movimento, algumas vezes obscurecendo outros fatores, apesar de outros alegarem que os artistas que se alinharam com o anarcopunk envolveram-se em diversas abordagens no formato e na ideologia, exemplificado pela variedade de bandas do movimento. Do mesmo modo, frequentemente é dito que o visual era simplesmente uma representação da ética associada ao anarquismo (crença anti-corporação e DIY).[carece de fontes?]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Jello Biafra can ruffle feathers». The Birmingham News (em inglês). 29 de junho de 2007. Consultado em 21 de janeiro de 2021 
  2. Cross, Rich (agosto de 2010). «"There Is No Authority But Yourself ": The Individual and the Collective in British Anarcho-Punk». Music and Politics (2). ISSN 1938-7687. doi:10.3998/mp.9460447.0004.203. Consultado em 21 de janeiro de 2021 
  3. a b Dines, Mike (28 de junho de 2013). «No Sir, I Won't: Reconsidering the Legacy of Crass and Anarcho-Punk Symposium at Oxford Brookes University» (em inglês). Consultado em 21 de janeiro de 2021 
  4. Savage, Jon (2002). England's Dreaming, Revised Edition: Anarchy, Sex Pistols, Punk Rock, and Beyond. [S.l.]: St. Martin's Griffin. p. 204. ISBN 978-0312288228 
  5. Berger, George (2006). The story of Crass. [S.l.]: London: Omnibus Press. pp. 67–68. ISBN 1-84609-402-X 
  6. «Crass's Penny Rimbaud Doesn't Care About Urban Outfitters Profiting Off His Band's Name». Vice (em inglês). Consultado em 21 de janeiro de 2021 
  7. Von Havoc, Felix (1 de janeiro de 1984). «Rise of Crust». Profane Existence. Consultado em 16 de junho de 2008. Arquivado do original em 15 de junho de 2008 
  8. Maximum Rocknroll (em inglês). [S.l.]: Maximum Rock 'n' Roll. Agosto de 2004. p. 255 
  9. Peace News for Nonviolent Revolution (em inglês). [S.l.]: Peace News, Limited. 1985. p. 2236–2259 
  10. Babyface (5 de setembro de 2010). «DIY (not EMI) in 2010». THEE FACTION (em inglês). Consultado em 21 de janeiro de 2021 
  11. «César Chavez on the Pragmatics of Violence». Society for the Advancement of American Philosophy (SAAP). Consultado em 29 de maio de 2013. Arquivado do original em 23 de outubro de 2012 
  12. «Fringe anarchists in middle of violent demonstrations». Seattle Post-Intelligencer. Consultado em 29 de maio de 2013. Arquivado do original em 29 de junho de 2013 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • GLASPER, Ian. The Day the Country Died: A History of Anarcho Punk 1980 to 1984. Londres: Cherry Red, 2006. (ISBN 978-1-901447-70-5)
  • O'HARA, Craig. A filosofia do punk - Mais do que barulho. São Paulo: Radical Livros, 2005. (ISBN 85-98600-01-6)
  • O'HARA, Craig. Philosophy of Punk: More Than Noise. Oakland: AK Press, 1999. (ISBN 978-1-873176-16-0)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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