Aminatou Haidar

Aminatou Haidar
Aminatou Haidar
Nascimento 24 de julho de 1966 (57 anos)
Akka
Residência Espanha
Cidadania Marrocos
Ocupação ativista, política
Prêmios
  • Prêmio da Coragem Civil (2009)
  • Robert F. Kennedy Human Rights Award (2008)
  • Solidar Silver Rose Award (2007)
  • René Cassin Prize (2011)
  • Prêmio Right Livelihood (2019)
Religião Islamismo

Aminatou Haidar, também conhecida simplesmente por Aminatu ou Aminetu (24 de julho de 1966)[1] é uma activista em prol da República Árabe Saaráui Democrática e dos direitos humanos.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Haidar é Marroquina é mãe de duas crianças e cursou estudos de literatura moderna no Marrocos. Reconhece a invasão do Sahara Ocidental por seu país e hoje é a militante mais famosa pela República Árabe Saaráui Democrática. Um país reconhecido mais de 80 Nação, mas que ainda se encontra como a última colônia da África. A RASD teve sua independência proclamada em 1976, invadido pelos marroquinos e agora disputado pelo Reino de Marrocos e pelo braço político e Exército saharaui, Frente Polisário. Haidar representa a luta do Povo Saharaui. Esse território, uma antiga colônia espanhola, teve o seu processo de descolonização interrompido em 1976, deixando de fazer parte da Espanha de maneira abrupta, embora esta estivesse comprometida com a ONU em conduzir tal processo de descolonização, o que gerou graves consequências para tal território. Atualmente o Sara Ocidental é governado, de facto, pelo Marrocos, através da força, mesmo com uma Missão da ONU que deveria ter realizado em 1992, depois de 16 anos de guerra, um referendo para autodeterminação do Sahara Ocidental. É conhecida como “a Gandhi saaráui”[2]

Activismo[editar | editar código-fonte]

Por causa de sua ideologia pró saaráuis,[3] foi perseguida e reprimida pelas autoridades marroquinas em várias ocasiões. Em 1987, aos 21 anos, fazia parte de uma manifestação pacífica de 700 participantes, que exigia o referendo para a independência de Sara do Marrocos, como determina a ONU em acordos assinados pela Frente Polisário e pela Monarquia do Marrocos. Após essas atividades, foi detida sem acusação ou julgamento nas "prisões secretas" durante 4 anos,[4] sofrendo torturas, juntamente com outras 17 mulheres saaráuis presas.

Em 2005, foi condenada pela justiça marroquina a um cárcere de 7 (sete) meses no presídio conhecido como "Black Prison" em El Aaiún. O processo de julgamento, por causa de irregularidades, foi denunciado por um observador enviado pela Anistia Internacional. Essa organização qualificou Haidar como uma prisioneira de consciência. Também membros do Parlamento Europeu empreenderam uma campanha internacional para a libertação de Aminatou Haidar, a qual foi exigida formalmente através de uma resolução de tal Parlamento. Depois de mais de um mês na prisão, foi libertada em janeiro de 2006. Sua libertação reavivou as reivindicações de independência dos saaráuis, que se manifestaram através de manifestações de rua em El Aaiún e protestos de estudantes saaráuis da Universidade de Marraquexe.

Devido a grande repercussão midiática de sua prisão irregular e ao forte apoio recebido por parte de associações e políticos ocidentais, Haidar estabeleceu-se como uma embaixadora itinerante da República Árabe Saaráui Democrática em contato com governos estrangeiros e associações pró saaráuis.

Em agosto de 2006, o Marrocos negou o passaporte e o direito de expatriação dos seus dois filhos como uma forma de repressão.

Expulsão para Lançarote e conflicto internacional[editar | editar código-fonte]

Em 13 de novembro de 2009, após sua chegada em El Aaiún procedente de Nova York em um voo com escala em Las Palmas de Gran Canaria, foi expulsa do Marrocos para Lançarote, Ilhas Canárias.[4] Após o desembarque permanece há mais 10 dias no Terminal 1 do aeroporto de Lançarote, onde também iniciou uma greve de fome em 15 de novembro.[5] Seu estabelecimento no aeroporto é uma forma de pressão, acusando o governo espanhol de inibir-se no assunto, atuar com conivência ao governo marroquino, e até mesmo de violar direitos humanos.[6] Fato que se fortalece diante das violações cometidas pela Monarquia do Marrocos contra os saharauís desde retirada do Governo da Espanha, que colonizava o Sahara Ocidental. Os saharauís foram entregues de bandeja aos marroquinos, como citam alguns intelectuais, entre eles o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, também ativista prol saharauis.

Após a notícia de sua expulsão do Marrocos, a notícia causou rebuliço na Espanha. Desde o primeiro momento foram aparecendo grupos de apoio a Haidar em numerosas cidades espanholas que foram se manifestando a favor da ativista tanto nas ruas[7] quanto na Internet, com a criação de grupos de pessoas no Facebook em seu apoio, como "Free Aminatou Haidar" ou "Ayuda Aminatou Haidar", ou até mesmo recolhendo assinaturas para manifestos em seu apoio. Os protestos chegaram ao Senado[8] e ao Congresso dos deputados espanhóis (equivalente a Câmara dos Deputados no Brasil),[9] e até mesmo a Amnistia Internacional se mobilizou buscando apoio para pressionar o governo do Marrocos em busca de uma solução para a saaráui.

Durante a sua greve, muitas figuras públicas lhe apoiaram de diferentes maneiras. Lá ela recebeu visitas do político Cayo Lara,[10] da política austríaca Karen Shelley,[11] da banda musical Macaco, do cineasta Javier Fesser, dos atores Fernando Tejero, Lola Dueñas,[12] e Willy Toledo, que dormiu uma noite com ela no chão das instalações do aeroporto.[13][14] Já o escritor português José Saramago, que vive em Lançarote, dedicou um manifesto a Aminatou em que expressa o seu total apoio à causa dos saaráuis.[12][15][16][17] Ela recebeu ainda manifestações de apoio de diversos artistas famosos, como Pedro Almodóvar,[18][19] Javier Bardem,[20] e Penélope Cruz.[21] Ainda, por iniciativa de vários sectores da vida política e artística internacional, foi divulgada uma carta assinada por inúmeras personalidades espanholas, além dos escritores Günter Grass, José Saramago, Mario Vargas Llosa, Dario Fo e Carlos Fuentes, pedindo a intervenção pessoal do Rei Juan Carlos no assunto, "uma intervenção explícita da Casa Real Espanhola junto do monarca alauita", o Rei Mohammed VI de Marrocos, para evitar "um desfecho dramático".[21] Uma situação aparentemente inconveniente para um Chefe de Estado não fosse o passado espanhol riador do impasse no Sahara Ocidental.

Em Portugal, o Parlamento português aprovou em 27 de novembro voto de solidariedade relacionado com a situação da activista, obtendo como resposta um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação marroquino dizendo-se “espantado” e “decepcionado” com tal acto.[20]

Em sua segunda semana no aeroporto, o “Ministerio de Asuntos Exteriores” da Espanha enviou um emissário, Agustín Santos,[22] para fazer a Haidar três propostas por parte do governo espanhol. As propostas foram (1) asilo político, (2) pedir um novo passaporte, e (3) adquirir a nacionalidade espanhola. Haidar recusou as opções de asilo político (1) e de aquisição da nacionalidade espanhola (3), porque ela é saaráui e aceitar essas propostas implicaria não poder voltar a sua terra natal. E ela não quer pedir um novo passaporte (2) porque já possui um, que foi tomado pelas forças de segurança marroquinas, e, ademais, pedir um novo poderia implicar em meses de espera, com a possível recusa de seu pedido.[23] Vale lembrar que o Povo Saharaui é originário do Sahara Ocidental.

Quando se completam 25 dias desde que a ativista começou a sua greve de fome, a diplomacia espanhola começa a ver algum resultado ao conseguir que União Europeia pressione o Marrocos exigindo que ele respeito os direitos humanos e para que busque uma solução para o problema.[24] No dia 11 de dezembro de 2009, os Estados Unidos entraram em contacto com o Marrocos para lhe pedir que busque uma saída para terminar com o “caso Haidar”.[25]

Prêmios[editar | editar código-fonte]

Em sua luta pelo reconhecimento dos direitos dos saaráuis, foi laureada com vários prémios internacionais, incluindo:

  • Prêmio Direitos Humanos Juan Maria Bandrés (2006).
  • Solidar Silver Rose Award (2007).
  • Prêmio Direitos Humanos Robert F. Kennedy (2008).
  • Civil Courage Award (2009).

Também foi indicada para vários prêmios de importância internacional, como o Prémio Sakharov, indicação proposta pelo Parlamento Europeu, o Prémio Fondo de Ginetta Sagan, indicação proposta pela Amnistia Internacional, ou a nomeação para o Nobel da Paz.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Denuncia policial tras su expulsión del Sahara
  2. DN Gente (5 de dezembro de 2009). «A Gandhi sarauí». Consultado em 11 de dezembro de 2009 [ligação inativa]
  3. Verbete 'saaráui', Dicionário Houaiss.
  4. a b El País (14 de novembro de 2009). «Marruecos expulsa a Canarias a la más célebre activista saharaui» 
  5. El País (19 de novembro de 2009). «"Haré huelga hasta volver a El Aaiún o hasta la muerte"» 
  6. El Mundo (19 de novembro de 2009). «'Estoy dispuesta a llegar hasta la muerte', afirma Haidar» 
  7. Abc (8 de dezembro de 2009). «Más de un centenar de personas pide la dimision de Moratinos frente al Ministerio de Asuntos Exteriores» 
  8. Abc (1 de dezembro de 2009). «Universitarios piden en el Senado «libertad» para Haidar y el Sahara» 
  9. el mundo (7 de dezembro de 2009). «Desalojan a una veintena del Hemiciclo por apoyar a Haidar» 
  10. Agencia EFE (22 de novembro de 2009). «Cayo Lara pide al Gobierno español que "haga cumplir" la voluntad de Haidar» [ligação inativa]
  11. Diario de Las Palmas (20 de novembro de 2009). «Haidar rechaza la propuesta de Rabat de solicitar un nuevo pasaporte marroquí y subraya que ella no vino "en patera"». Consultado em 26 de novembro de 2009. Arquivado do original em 21 de outubro de 2018 
  12. a b Diario Montañés (23 de novembro de 2009). «Saramago lidera el apoyo a Haidar» 
  13. El Mundo (20 de novembro de 2009). «Willy Toledo afirma que 'Moratinos miente' en el caso de Aminatu Haidar» 
  14. Canarias7 (19 de novembro de 2009). «Guillermo Toledo dormirá como "un perro" con Haidar» 
  15. DN Globo (23 de novembro de 2009). «Carta de apoio de Saramago a sarauí em greve de fome». Consultado em 26 de novembro de 2009. Arquivado do original em 24 de novembro de 2009 
  16. aeiou Expresso (25 de novembro de 2009). «Carta de José Saramago a Aminetu Haidar». Consultado em 26 de novembro de 2009 
  17. Canarias7 (22 de novembro de 2009). «Saramago se solidariza con Haidar» 
  18. Pravda (30 de novembro de 2009). «Pedro Almodôvar: Solidariedade com Aminetu Haidar». Consultado em 11 de dezembro de 2009 
  19. aeiou (10 de dezembro de 2009). «Saara Ocidental: "É ridículo sugerir que Haidar está sob pressão" - Pedro Almodovar». Consultado em 11 de dezembro de 2009 
  20. a b ESPBR (8 de dezembro de 2009). «Aminatu Haidar: Marrocos «espantado» com Parlamento português». Consultado em 11 de dezembro de 2009 
  21. a b DN Globo (11 de novembro de 2009). «Apoiantes de Haidar pedem intervenção do Rei Juan Carlos». Consultado em 11 de dezembro de 2009 [ligação inativa]
  22. El País (29 de novembro de 2009). «Moratinos envía a un emisario para dialogar con Haidar» 
  23. El Mundo (2 de dezembro de 2009). «Los tres 'noes' de Aminatu» 
  24. El País (10 de dezembro de 2009). «La UE presiona a Marruecos para que busque una solución a la situación de Haidar» 🔗 
  25. El País (11 de dezembro de 2009). «Clinton presiona al Gobierno marroquí para buscar una salida al 'caso Haidar'» 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Aminatou Haidar