Alcino João do Nascimento

Alcino João
Nome completo Alcino João do Nascimento
Nascimento 3 de julho de 1922
Itaperuna,  Rio de Janeiro
Morte 18 de janeiro de 2014 (91 anos)
Mantenópolis,  Espírito Santo
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação mestre de obras

Alcino João do Nascimento (Itaperuna, 3 de julho de 1922Mantenópolis, 18 de janeiro de 2014)[1] foi um mestre de obras brasileiro. Ganhou notoriedade por ter sido um dos condenados pela tentativa de assassinato do jornalista e político Carlos Lacerda, que ficou nacionalmente conhecida como atentado da rua Tonelero.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Alcino João do Nascimento nasceu em Itaperuna, Rio de Janeiro, um dos 12 filhos de José João do Nascimento e Leonídia Maria do Nascimento.[2] Em 1939, aos 17 anos, foi morar na cidade de Resplendor com um irmão. Lá conheceu Abigail Rabelo, com quem se casou (na época, Abigail tinha 13 anos). Casado mas desempregado, foi a Belo Horizonte à procura de serviço. Nesse momento começou uma boa relação com o então prefeito Juscelino Kubitschek, que lhe deu um emprego como mestre de obras na prefeitura do município.[3][4]

Pouco tempo depois, Juscelino apresentou Alcino a Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, que precisava de um homem para o trabalho de detetive. Mesmo sendo chamado para tal cargo, trabalhou como barbeiro pessoal de Vargas e enfermeiro da família.[3][nota 1]

O Atentado da Rua Tonelero[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Atentado da rua Tonelero
Getúlio Vargas e sua guarda pessoal, chefiada por Gregório Fortunato, à sua esquerda (lado direito da foto).
Carlos Lacerda, grande coordenador da oposição a Getúlio Vargas

Lacerda, um dos principais opositores do governo Vargas, iniciara sua campanha a deputado federal. Como havia sido ameaçado de morte algumas vezes, um grupo de simpatizantes, oficiais da Aeronáutica, decidiram servir-lhe de segurança durante seus comícios. Depois de um deles, realizado na noite de 4 de agosto de 1954, no pátio do Colégio São José, o jornalista voltou para casa acompanhado de seu filho Sérgio, de quinze anos, no automóvel do major-aviador Rubens Florentino Vaz. Ao chegar na rua Tonelero, os três saltaram do veículo e, ao se despedirem, uma pessoa surgiu das sombras e disparou vários tiros. O major, desarmado, tentou defender mas foi atingido no peito. Enquanto isso, Lacerda levou seu filho para a garagem do prédio e voltou disparando contra o agressor, que fogiu num táxi. Um guarda municipal que estava nas proximidades, Sálvio Romeiro, ouviu os disparos e, ao verificar o que estava acontecendo, também foi atingido por um tiro, mas anotou a placa do veículo fugitivo.[5][6]

Após a troca de tiros, Lacerda saiu ferido no pé, e o major Vaz, depois de ser atingido por duas balas de uma pistola calibre 45 (de uso exclusivo das Forças Armadas), morreu a caminho do hospital. Alcino afirmou que o mandante do crime foi Lutero Vargas, filho de Getúlio Vargas e desafeto de Carlos Lacerda.[7] O comando da Aeronáutica assumiu as investigações em 8 de agosto, mesmo dia em que Gregório Fortunato, apontado como mandante do crime, confessou sua participação. Climério Euribes de Almeida e Alcino João do Nascimento foram capturados pouco tempo depois.[5]

O atentado desencadeou uma crise política que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas, com um tiro no coração, em 24 de agosto de 1954.[8]

Vida após o atentado[editar | editar código-fonte]

Julgamento e condenação[editar | editar código-fonte]

Em 1956, Alcino foi julgado e condenado a 51 anos de prisão, 33 por sua participação no atentado a Lacerda e mais 18 por um latrocínio, do qual foi absolvido em 1975.[2][3]

Até sua morte, Alcino negava que tenha sido contratado para o atentado. Ele dizia ter sido mandado para a rua Tonelero apenas para espionar Lacerda e fazer relatórios sobre seus discursos como candidato ao Congresso Nacional. Segundo ele, "o major Rubens Vaz me viu em frente ao prédio do Lacerda e foi tirar satisfação. Ele me agrediu e nós entramos em luta corporal. Houve então um tiro, que o atingiu pelas costas, disparado por um revólver calibre 38 que Lacerda portava."[9]

Livro[editar | editar código-fonte]

O livro "Mataram o presidente! – memórias do pistoleiro que mudou a história do Brasil" lançado após Alcino deixar a prisão, traz a sua versão sobre a noite de 5 de agosto de 1954, no "Atentado na Rua Tonelero" contra o jornalista e opositor do governo Vargas, Carlos Lacerda.[3][10]

Candidato a vereador[editar | editar código-fonte]

Em 2012, aos 90 anos de idade, Alcino candidatou-se ao cargo de vereador pela cidade de Mantenópolis, Espírito Santo. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, foi o candidato mais velho do estado concorrendo a uma vaga.[4] Obteve 7 votos (0,08%), ficando na suplência.[1]

Morte[editar | editar código-fonte]

Faleceu no dia 18 de janeiro do ano 2014, aos 91 anos de idade.[11]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. "Como detetive eu nunca fui escalado para trabalhar, porque tinha 180 detetives lá. A vez que fui escalado me dei mal."
    Segundo o próprio, esta tal única vez foi o atentado a Lacerda.[3]

Referências

  1. a b «Alcino PT». Eleições 2012. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  2. a b «Alcino João do Nascimento». Fundação Getúlio Vargas. CPDOC. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  3. a b c d e Andrade, Ednalva (14 de julho de 2012). «"Trabalhei com Juscelino e Getúlio", relembra candidato a vereador mais velho do Espírito Santo». Gazeta Online. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  4. a b Marcondes de Moura, Pedro (3 de agosto de 2012). «De Getúlio ao PT». IstoÉ. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  5. a b «O atentado da Rua Tonelero». Observatório da Imprensa 
  6. «Vargas – 50 anos: "Crime da rua Tonelero" ainda gera dúvida». Folha de S.Paulo. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  7. José Augusto Ribeiro, A Era Vargas, vol. 2, p. 86
  8. «1954: Brazilian president found dead» (em inglês). British Broadcasting Corporation. 24 de agosto de 1954. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  9. Rabelo, Ricardo (outubro de 2005). «Alcino João do Nascimento: nunca fui pistoleiro». Bafafá. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  10. «Mataram o presidente! - memórias do pistoleiro que mudou a história do Brasil». Google Books. Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  11. LIRA NETO, João de Lira Cavalcante Neto (2014). Getúlio: Da volta pela consagração popular ao suicídio (1945-1964). São Paulo: Companhia das Letras 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]