Aborto espontâneo

Aborto espontâneo
Sinónimos Interrupção involuntária da gravidez
Especialidade Obstetrícia e ginecologia
Sintomas Hemorragia vaginal com ou sem dor[1]
Complicações Tristeza, ansiedade, culpa[2]
Início habitual Antes das 20 semanas de gestação[3]
Causas Anomalias cromossómicas[4][1]
Fatores de risco Gravidez em idade avançada, abortos anteriores, exposição ao fumo de tabaco, obesidade, diabetes, doenças autoimunes, consumo de álcool ou drogas[5][6][7]
Método de diagnóstico Exame, gonadotrofina coriónica humana, ecografia[8]
Condições semelhantes Gravidez ectópica, hemorragia de nidação[1]
Prevenção Cuidados pré-natais[9]
Tratamento Nenhum, misoprostol, aspiração a vácuo, apoio emocional[6][10]
Frequência 10–50% das gravidezes[1][5]
Classificação e recursos externos
CID-11 696502028
OMIM 614389
DiseasesDB 29
MedlinePlus 001488
MeSH D000022
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Aborto espontâneo ou interrupção involuntária da gravidez (IIG) é a morte natural do embrião ou feto antes de este ter a capacidade de sobreviver fora do útero.[1][3] Algumas recomendações determinam um limite de 20 semanas de gestação, sendo a partir desse momento designado nado-morto.[11] O sintoma mais comum de um aborto espontâneo é hemorragia vaginal com ou sem dor.[1] É comum que a mulher sinta tristeza, ansiedade e culpa.[2][12] O corpo pode expelir tecidos e material coagulado pelo canal vaginal.[13] Quando a mulher tem sucessivos abortos espontâneos, está-se na presença de infertilidade.[14]

Entre os fatores de risco para um aborto espontâneo estão a gravidez em idade avançada, ter antecedentes de aborto, a exposição ao fumo de tabaco, obesidade, diabetes, problemas de tiroide e consumo de drogas ou álcool.[5][6] Cerca de 80% dos abortos espontâneos ocorrem durante as primeiras 12 semanas de gravidez, ou primeiro trimestre.[1] Em cerca de metade dos casos, a causa subjacente envolve anomalias cromossómicas.[4][1] O diagnóstico de um aborto espontâneo consiste geralmente num exame para verificar se o colo do útero se encontra aberto ou encerrado, análises ao sangue para avaliar os níveis de gonadotrofina coriónica humana e uma ecografia.[8] Entre outras condições que podem manifestar sintomas semelhantes estão uma gravidez ectópica e hemorragia de nidação.[1]

Em alguns casos a prevenção pode ser possível com cuidados pré-natais.[9] Evitar drogas, álcool, doenças infecciosas e radiação pode prevenir o aborto espontâneo.[9] Geralmente não é necessário tratamento específico durante os primeiros 7 a 14 dias.[6][10] A maior parte dos abortos resolve-se por si mesmo sem intervenções adicionais.[6] Em alguns casos pode ser necessária a administração de misoprostol ou uma aspiração a vácuo para remover o tecido restante.[10][15] As mulheres com sangue Rh negativo podem necessitar de globulina imune do Rh.[6] Os analgésicos podem ser benéficos.[10] O apoio emocional pode ajudar a lidar com as emoções negativas.[10]

O aborto espontâneo é a complicação mais comum do primeiro trimestre de gravidez.[16] Entre mulheres grávidas, a taxa de aborto espontâneo é de 10–20%. A taxa entre todas as fecundações é de 30 a 50%.[1][5] Em mulheres com menos de 35 anos o risco é de cerca de 10%, enquanto em mulheres com mais de 40 anos o risco é de 45%.[1] O risco começa a aumentar por volta dos 30 anos de idade.[5] Cerca de 5% das mulheres têm dois abortos espontâneos seguidos.[17] Algumas orientações recomendar não usar o termo "aborto" em discussões com o paciente, de forma a diminuir a ansiedade.[18]

Causas[editar | editar código-fonte]

  • Anomalias cromossômicas - as anomalias cromossômicas são as causas mais comuns de aborto no primeiro trimestre da gestação, geralmente com a morte do embrião antecedendo a sua expulsão. Respondem por cerca de 50% dos abortamentos espontâneos, subclínicos ou clinicamente reconhecidos. As trissomias são observadas em aproximadamente 70% das oportunidades, as monossomias do par sexual em 15 a 25% e as poliploidias em cerca de 5% dos abortamentos motivados por cromossomopatias. As anormalidades autossômicas estruturais, como as deleções, os reagrupamentos, as inversões e as translocações, também evoluem, na maior parte dos casos, para o aborto..[19]
  • Etiologia mendeliana, poligênica e multifatorial - em 30 a 50% das perdas fetais no primeiro trimestre não são demonstradas anormalidades genéticas. A maior parte destes abortos estão relacionados a alterações estruturais secundárias e a anormalidades poligênicas. As anormalidades estruturais mais frequentes são as translocações (5% dos abortamentos habituais), inversões, deleções e as duplicações.
  • Infecções[19] - diversas infecções são aceitas atualmente como etiologia do aborto. Os micro-organismos e situações clínicas frequentemente relacionados ao aborto espontâneo são: rubéola, varíola, malária, Salmonella typhi, Citomegalovírus, brucelose, toxoplasmose, Mycoplasma hominis, clamídia e Ureaplasma urealyticum. A infecção transplacentária sem dúvida pode ocorrer com qualquer destes micro-organismos e perdas fetais esporádicas podem ser causadas pelos mesmos, embora a comprovação histopatológica seja rara e o tratamento com antibióticos nem sempre seja efetivo.
  • Alterações anatômicas - neste grupo, os maiores responsáveis por interrupção precoce da gravidez são a incompetência istmocervical, os miomas, as malformações uterinas[19] e as sinéquias uterinas (síndrome de Asherman).[19]
  • Doenças endócrinas
  • Insuficiência lútea
  • Tireoidopatias[19]
  • Diabetes[19]
  • Mecanismos imunológicos
  • Drogas, agentes químicos e outros agentes ambientais[19]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k The Johns Hopkins Manual of Gynecology and Obstetrics 4 ed. [S.l.]: Lippincott Williams & Wilkins. 2012. pp. 438–439. ISBN 9781451148015. Cópia arquivada em 10 de setembro de 2017 
  2. a b Robinson, GE (janeiro de 2014). «Pregnancy loss.». Best practice & research. Clinical obstetrics & gynaecology. 28 (1): 169–78. PMID 24047642. doi:10.1016/j.bpobgyn.2013.08.012 
  3. a b «What is pregnancy loss/miscarriage?». www.nichd.nih.gov/. 15 de julho de 2013. Consultado em 14 de março de 2015. Cópia arquivada em 2 de abril de 2015 
  4. a b Vaiman, Daniel (2015). «Genetic regulation of recurrent spontaneous abortion in humans». Biomedical Journal. 38 (1): 11–24. PMID 25179715. doi:10.4103/2319-4170.133777 
  5. a b c d e «How many people are affected by or at risk for pregnancy loss or miscarriage?». www.nichd.nih.gov. 15 de julho de 2013. Consultado em 14 de março de 2015. Cópia arquivada em 2 de abril de 2015 
  6. a b c d e f Oliver, A; Overton, C (maio de 2014). «Diagnosis and management of miscarriage.». The Practitioner. 258 (1771): 25–8, 3. PMID 25055407 
  7. Carp HJ, Selmi C, Shoenfeld Y (2012). «The autoimmune bases of infertility and pregnancy loss». J Autoimmun (Review). 38 (2-3): J266-74. PMID 22284905. doi:10.1016/j.jaut.2011.11.016 
  8. a b «How do health care providers diagnose pregnancy loss or miscarriage?». www.nichd.nih.gov/. 15 de julho de 2013. Consultado em 14 de março de 2015 
  9. a b c «Is there a cure for pregnancy loss/miscarriage?». www.nichd.nih.gov/. 21 de outubro de 2013. Consultado em 14 de março de 2015. Cópia arquivada em 2 de abril de 2015 
  10. a b c d e «What are the treatments for pregnancy loss/miscarriage?». www.nichd.nih.gov. 15 de julho de 2013. Consultado em 14 de março de 2015. Cópia arquivada em 2 de abril de 2015 
  11. «Stillbirth: Overview». NICHD. 23 de setembro de 2014. Consultado em 4 de outubro de 2016. Cópia arquivada em 5 de outubro de 2016 
  12. Radford, Eleanor J; Hughes, Mark (1 de junho de 2015). «Women's experiences of early miscarriage: implications for nursing care». Journal of Clinical Nursing (em inglês). 24 (11-12): 1457–1465. ISSN 1365-2702. doi:10.1111/jocn.12781 
  13. «What are the symptoms of pregnancy loss/miscarriage?». www.nichd.nih.gov/. 15 de julho de 2013. Consultado em 14 de março de 2015. Cópia arquivada em 2 de abril de 2015 
  14. «Glossary | womenshealth.gov». womenshealth.gov (em inglês). Consultado em 11 de setembro de 2017  Este artigo incorpora texto desta fonte, que está no domínio público.
  15. Tunçalp, O; Gülmezoglu, AM; Souza, JP (8 de setembro de 2010). «Surgical procedures for evacuating incomplete miscarriage.». The Cochrane database of systematic reviews (9): CD001993. PMID 20824830. doi:10.1002/14651858.CD001993.pub2 
  16. National Coordinating Centre for Women's and Children's Health (UK) (dezembro de 2012). «Ectopic Pregnancy and Miscarriage: Diagnosis and Initial Management in Early Pregnancy of Ectopic Pregnancy and Miscarriage». NICE Clinical Guidelines, No. 154. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. Consultado em 4 de julho de 2013. Cópia arquivada em 20 de outubro de 2013 
  17. Garrido-Gimenez, C; Alijotas-Reig, J (março de 2015). «Recurrent miscarriage: causes, evaluation and management.». Postgraduate Medical Journal. 91 (1073): 151–162. PMID 25681385. doi:10.1136/postgradmedj-2014-132672 
  18. Greaves, Ian; Porter, Keith; Hodgetts, Tim J.; Woollard, Malcolm (2005). Emergency Care: A Textbook for Paramedics. London: Elsevier Health Sciences. p. 506. ISBN 0-7020-2586-0. Cópia arquivada em 26 de abril de 2016 
  19. a b c d e f g «Spontaneous Abortion Causes, Diagnosis & Treatments - Clinical Key». Consultado em 3 de abril de 2013. Arquivado do original em 9 de abril de 2013 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

MARKHAM, Úrsula - Aborto espontâneo. Editora Summus, 2004 ISBN 8571838224